“Meu sonho é ter saúde para poder viver do teatro até o último dia da minha vida”. Essa foi uma das frases ditas por Paulo Gustavo durante entrevista exclusiva ao ND+ em dezembro de 2015.

O ator e humorista esteve nas cidades de ville e Florianópolis para apresentar o espetáculo “Hiperativo”. Antes da apresentação em solo catarinense, Paulo Gustavo falou sobre a carreira, a fama e os planos para o futuro na entrevista à Rádio Plural, do ND+.
A personagem que o apresentou ao Brasil foi Dona Hermínia, que surgiu como uma brincadeira, quando Paulo Gustavo imitava a própria mãe e os colegas morriam de rir. Ela surgiu em 2004 quando, na peça Surto, apresentou a personagem que marcaria sua carreira.
Paulo Gustavo, que foi uma das figuras mais icônicas da comédia no Brasil, morreu na noite desta terça-feira (4), vítima de Covid-19. Ele estava internado no Rio de Janeiro desde o dia 13 de março.
As cerimônias de despedida ocorrem nesta quinta-feira (6), restritas a familiares e amigos próximos. O corpo do ator fluminense será cremado, informou a assessoria de imprensa.
Relembre a entrevista: 194b6
– Seu trabalho ganhou repercussão nacional há cerca de cinco anos, com o espaço na televisão. O que o levou a ter um programa de televisão próprio? Como conquistou espaço na programação?
O programa “220 W” foi o primeiro que apresentei, eu fui ao Multishow [canal] com meu empresário e uma pasta debaixo do braço, com uma sinopse que explicava a proposta do programa. Fizemos uma reunião e apresentamos.
O canal abriu as portas e me deu uma data na grade da programação, e foi um sucesso, o programa teve uma repercussão incrível, fizemos a segunda, a terceira e a quarta temporada. E o Multishow subiu de colocação na audiência. E depois veio o programa “Vai que Cola”, um projeto bem idealizado, que eu estava diretamente envolvido. Na época, tínhamos três opções de sinopses – e escolhemos uma, é claro.
Eu escolhi a história que achei mais legal, e acabou que o “Vai Que Cola” foi um fenômeno também, foi o programa mais assistido da Globo Sat, a maior audiência da história da rede de canais. E acabou que virei parceiro do Multishow, o canal é minha casa há sete anos e meu contrato vai até 2018.
Adoro o canal, e os programas ajudaram muito nos meus espetáculos. Minha carreira no teatro é bem sólida, diferente do comum, eu faço cinema e TV porque já fazia teatro antes. Antes de entrar no Multishow eu já tinha fazia o “Minha Mãe É Uma Peça” para o Brasil inteiro, eu já tinha um público bem grande e legal pelo país. Mas é claro que os programas de TV potencializaram minha projeção. E é isso, eu faço essa “dobradinha”: faço teatro, TV, e quando dá tempo faço cinema.
– As diferenças entre TV e teatro são claras. Tem preferência pelo palco ou pelas câmeras? Se sim, por quê?
Quando a gente faz teatro interpreta para o público, quando faz TV interpreta para câmera. Eu adoro tudo. Claro que cinema e TV são mais demorados, e eu sou um cara muito hiperativo, e às vezes não tenho muita paciência. Não que eu não goste, mas fico meio agitado, os diretores veem que eu sou inquieto e que estou sempre batendo papo no set de filmagem.
Dificilmente você vai me ver no cantinho, sentado, concentrado, lendo o texto. Eu sou diferente, dou uma ada no texto já decoro rápido. Tenho facilidade. Mas meu lugar especial e preferido é o teatro, é dele que eu quero viver para sempre. Meu sonho é ter saúde para poder viver do teatro até o último dia da minha vida, é o que eu mais gosto de fazer.
– Também é reconhecido por sua empatia e proximidade com o público. Como trabalhar os limites nessa aproximação? A fama o incomoda?
Meus espetáculos falam muito do cotidiano, e isso gera identificação. Meu texto é informal, coloquial. Sempre tento fazer um espetáculo mais pop e popular o possível, para atingir de 0 a 100 anos, nas minhas plateias tem desde crianças até senhoras de 80 anos, e todos se divertem. É como se fosse circo, todos na família se divertem.
Eu gosto de manter proximidade com o público, estar ativo na internet, nas redes sociais. Quando eu gravo, estabeleço essa relação de falar com a câmera, falo do trabalho enquanto estou fazendo o trabalho, e estabeleço essa metalinguagem. E isso meio que virou a minha marca, e também me aproxima do público. A fama não me incomoda, acho que é um retorno do meu trabalho, quanto mais famoso se fica, está legal. Claro que tem seus pontos negativos, de exposição e falta de privacidade, mas tem que ter jogo de cintura, e impor os limites.
Quando estou fazendo tarefas cotidianas, jantando ou malhando, não paro para tirar fotos. Se não, meu tempo se torna todo do público, aí é egoísmo. Os fãs têm que entender que temos nossa individualidade. Mas enfim, tem que ter jogo de cintura, é a vida do artista, assim como nas outras profissões, cada uma tem suas peculiaridades.
– As suas peças já foram assistidas por mais de 5 milhões de pessoas. Você busca inspiração nas vivências cotidianas para compor a montagem? O que te inspira?
Sim, falo do cotidiano e me inspiro nele. O que me inspira são as pessoas e a vida. Vou à padaria, ao supermercado, faço o que todos fazem para “achar” meus personagens e me inspirar. Se eu me excluir e viver em um lugar isolado, eu fico limitado como criador. Preciso estar em contato com o público para poder achar inspiração com meus personagens e fazer o que eu faço.