De guerras a tragédias climáticas: Cabrini compartilha sua experiência como jornalista no front 3h6t1o

Apresentador e repórter da Record, Roberto Cabrini faz história no jornalismo ao carregar no histórico a cobertura de guerras, copas do mundo e olimpíadas 4x5j6g

Ele cobriu seis guerras, cinco olimpíadas, cinco copas do mundo e ganhou os principais prêmios de jornalismo do Brasil. Recentemente, atuou na tragédia climática do Rio Grande do Sul, também na Faixa de Gaza, cobrindo o conflito entre Israel e o Hamas, e na Ucrânia, mostrando o conflito contra a Rússia.

Apresentador e repórter da Record, Roberto Cabrini – Foto: Germano Rorato/NDApresentador e repórter da Record, Roberto Cabrini – Foto: Germano Rorato/ND

Apresentador e repórter da Record, Roberto Cabrini atuou nas grandes emissoras de televisão do país, fazendo história sobretudo no jornalismo investigativo e conseguindo ouvir figuras polêmicas. Em Florianópolis, para ser um dos palestrantes do Empreende Brazil, concedeu entrevista exclusiva ao Grupo ND, abordando coberturas históricas, comentando trechos do seu livro, “No Rastro da Notícia”, e trabalhos recentes à frente do Câmera Record.

Como foi a cobertura das enchentes no Rio Grande do Sul? O que mais te impactou? 1y2c2g

Eu cobri muitos conflitos internacionais, mas coloco essa como uma das mais difíceis. O cenário era de uma guerra, sem armas, onde tínhamos que mostrar o que estava acontecendo com a população, num momento particularmente desafiador da mídia brasileira.

Um momento em que existe uma polarização das coberturas, onde tudo fica no Fla-Flu, de Bolsonaro contra Lula, temos que fugir disso. É preciso fazer uma cobertura que retrate estritamente a realidade, sem partidarismos, mostrando com fidelidade os acontecimentos.

O que mais te marcou? 6b3i6q

Como o cidadão comum pode fazer a diferença. Uma destruição que eu jamais tinha visto e já cobri de tudo nesta minha caminhada, mas nunca uma destruição dessas, nem um envolvimento tão grande do cidadão comum, do voluntário, daquela pessoa que se salva e procura ajudar os outros a se salvar. Foi esse exemplo que procuramos demonstrar, esse mutirão de esforços, algo muito contagiante. Vimos todos os tipos de sofrimento, mas temos que guardar a parte positiva, do engajamento da sociedade.

Em 2008, você cobriu, em Santa Catarina, as enchentes no Vale do Itajaí. Como foi essa cobertura? 5m2q4u

Sempre caímos na história de tragédias anunciadas, de governantes que não preparam as comunidades para eventos dessa natureza. Até quando vamos cobrir eventos que obedecem a esse tipo de roteiro? As tragédias são sempre anunciadas. O Brasil pode e deve se preparar melhor, desde que discuta sem partidarizações, sem ideologização da tragédia.

Qual sua relação com Santa Catarina? 36n63

A melhor possível. Vocês moram num verdadeiro paraíso. Poucos lugares do mundo podem ser comparados com Santa Catarina. Para mim, é sinônimo de sociedade evoluída, um lugar onde as pessoas são profundamente acolhedoras e onde tudo é muito bonito. É, sem dúvidas, um Brasil que nos orgulha.

Recentemente você esteve na Faixa de Gaza, onde vários massacres aconteceram. Como foi essa cobertura? 6y3560

O grande desafio é mostrar os dois lados. Primeiramente, nos concentramos no lado israelense. Fizemos uma cobertura histórica. Tivemos o ao kibutz atacado. Chegamos ao local da festa rave, que foi devastada, com o assassinato de dezenas de jovens, mas precisávamos mostrar a perspectiva palestina.

Isso foi particularmente difícil, porque foi preciso superar preconceitos e fronteiras. Estivemos perto da agem de Rafah e fizemos uma cobertura balanceada. Numa guerra, o grande perdedor é sempre a população civil. Sempre procuro fazer as coberturas mostrando o quanto a população civil, não partidarizada, que não pega em armas, sofre.

Qual limite para saber até onde ir, para garantir a sua segurança e da equipe e mesmo assim trazer uma boa reportagem? 522ue

O limite nunca será totalmente claro. Numa guerra, existem riscos, mas também a necessidade de avançar para trazer boas informações. Você precisa avaliar, a cada dia, o custo-benefício de determinadas iniciativas. Não é fácil, porque o cenário pode mudar rapidamente. Nenhum empregador te obriga a se arriscar, você se arrisca, porque tem em mente que é preciso fazer um bom trabalho, para que as pessoas tomem decisões melhores.

Roberto Cabrini fez cobertura de guerras, copas do mundo e olimpíadas – Foto: Germano Rorato/NDRoberto Cabrini fez cobertura de guerras, copas do mundo e olimpíadas – Foto: Germano Rorato/ND

O objetivo de um jornalista não é fazer com que as pessoas pensem como nós pensamos, é fornecer ferramentas para que as pessoas tomem melhores decisões. Um conflito como esse, de uma guerra secular, é um desafio muito grande, porque facilmente você cai na armadilha da polarização. O que procuramos demonstrar é a perspectiva da população civil. Existe sofrimento do lado israelense e do lado palestino. É uma grande discussão internacional, onde os países civilizados têm que tomar parte, mas cabe ao jornalismo mostrar a verdade, sem distorções.

Você esteve diante de heróis e vilões. Como é isso? 64292h

Todos têm o direito de mostrar seu lado. Lembro-me de um secretário de segurança, no Estado de São Paulo, dizendo que era um absurdo entrevistar gente ligada ao crime organizado, porque era como se estivéssemos vangloriando essas pessoas. Depois, descobrimos que esse secretário tinha ligações incestuosas com uma organização criminosa.

A sociedade tem o direito de se proteger dessas pessoas, de malfeitores e está muito mais bem servida, quando você leva o conceito, a opinião e o raciocínio de todos, porque a própria sociedade vai ter o direito de se defender dessas pessoas. A censura só é benéfica para o malfeitor, aqueles que, de fato, querem atingir a sociedade.

Você participa da produção para convencer os entrevistados mais iníveis a falar? 4g1e52

Sempre digo às pessoas que eu comando: nunca prometa aquilo que não pode cumprir e sempre cumpra estritamente aquilo que prometeu. Partimos sempre do pressuposto de que não iremos julgar, mas fazer as perguntas pertinentes, do ponto de vista da sociedade. Não julgaremos. Jornalista não é juiz, promotor, nem delegado de polícia, mas é imprescindível para qualquer processo de democratização da sociedade.

Em 1º de maio a morte de Ayrton Senna completou 30 anos. Qual a importância dele pra você? 6a664a

Foi um divisor de águas na minha carreira. Um grande amigo. Ele marca o início do jornalismo investigativo, em grande escala, para mim. Fui para Europa como correspondente Internacional e estreei cobrindo o assassinato do juiz Giovanni Falcone, mas cobrir a Fórmula-1 e o Senna era a minha prioridade.

Exerci jornalismo investigativo, inclusive, cobrindo a Fórmula-1. A morte do Ayrton Senna foi amplamente investigada por mim durante 30 anos. Serei sempre muito grato às portas que o Ayrton Senna me abriu e o quanto aprendi com ele.

Você ou por todas as emissoras e hoje está na Record, no Câmara Record e em grandes reportagens no Domingo Espetacular. Como tem sido esse período? 50526h

Muito gratificante. É impressionante a vocação da Record no jornalismo. É um jornalismo pulsante. Estamos conversando e, daqui a pouco, tanto eu, quanto você, podemos ser deslocados sabe-se lá para onde, porque estamos numa emissora pulsante, que quer fazer o melhor jornalismo e não mede esforços. É um espaço que gera sempre muita repercussão e eu fico encantado, impressionado como o jornalismo da Record repercute. Nas ruas, as pessoas discutem as matérias, comentam, trazem informações, porque o DNA da Record é jornalismo.

Como avalia a qualidade do jornalismo praticado na imprensa nacional hoje? g6j3h

Estamos num momento de ime, de excessiva polarização, onde tudo vira a discussão direita versus esquerda. Essa discussão é emburrecedora. O Brasil tem que avançar e discutir o que a sociedade precisa sem ideologização. O momento é muito desafiador. Nunca vi um ambiente tão tóxico, mas acho que é apenas um ciclo, que vai se cumprir e, no final da história, vai vencer o bom jornalismo, que não parte de uma ideologização para se determinar o que é positivo e negativo, ele parte do fato.

Seu livro, No Rastro da Notícia, traz bastidores de trabalhos realizados antes da Record. Nos últimos anos, tivemos pandemia, guerras, tragédias climáticas. Pode vir uma nova obra? 504l2f

Com certeza. O jornalismo é dinâmico. Novas histórias sempre acontecendo, novas visões, nós estamos sempre mudando. O jornalismo precisa acompanhar isso e eu tenho novos projetos.

Numa guerra, existe lado certo? 3v5xu

Se você eleger um lado certo, vai fazer uma cobertura maniqueísta. Uma guerra não trata do bem contra o mal, trata de diversidade de interesses, alguns explícitos outros não e você, como jornalista, precisa avançar e mostrar uma cobertura, sempre, do ponto de vista da população civil. Essa é a minha referência, buscar coberturas que nasçam sob a perspectiva da população civil, porque como dizia Hiram Johnson [político americano] numa guerra a primeira vítima é a verdade. Todos os lados tentam manipular a verdade a seu favor. Cabe ao jornalismo não cair nessa armadilha.

Você descreve no livro a saga que foi encontrar PC Farias, em Londres. O que te fez acreditar que era possível falar com ele, mesmo num cenário bastante adverso? 1uw1y

A convicção e a observação de que ele não estava sendo buscado por quem deveria. Se você, amanhã, fugir, posso te rastrear através das pessoas com as quais você convive. Se eu fizer um completo mapeamento delas, terei possibilidades de encontrá-lo e foi isso que fiz com o Paulo César Farias.

Para encontrar alguém, o primeiro requisito é buscar e ir atrás. Nenhum ser humano é uma ilha. As pessoas, mais cedo ou mais tarde, vão incorrer em erros e é quando você consegue localizá-las. Se um fugitivo tiver muita condição financeira e não cometer erros, jamais será descoberto, mas, com o ar do tempo, as pessoas am a ter uma sensação de impunidade de que nada errado vai acontecer e é quando cometem erros e buscam contatos e hábitos que não deveriam mais buscar. Demanda dedicação, observação e paciência.

Você teve coragem para enfrentar a ditadura de Saddam Hussein. De onde partiu essa coragem? 5n632t

O jornalismo que não enfrenta ditaduras e abusos de direitos humanos é irrelevante. Aquele momento era absolutamente fundamental para se mostrar a violação impressionante dos Direitos Humanos no Iraque. Para isso, precisamos correr riscos. Quando você mostra que está ali não para derrubar, ou para manter um governo, mas para mostrar a verdade, sempre tem mais respeito.

Eles nos perseguiam, nos monitoravam, mas também cometiam erros. Num determinado dia, quando não tinham gente suficiente para monitorar todos os jornalistas, tive a liberdade para ir até Saddam City, onde estavam soldados que tiveram as orelhas cortadas porque não quiseram servir ao exército. O governo de Saddam Hussein negava veementemente, mas eles não conseguiam controlar todos os jornalistas e era preciso aceitar, ou não, correr riscos, às vezes vale a pena. É uma questão de custo-benefício.

E o sequestro da sua equipe pela Farc, na Colômbia. Como foi esse momento? Foi o mais difícil? Temeu pela vida? 381d1s

É fundamental fazer um autodescobrimento. Consegui notar, através de muitos anos de profissão, que em situações de muito risco, permaneço calmo e muito mais concentrado. Costumo ser aquela pessoa que acalma os seus companheiros.

Essa reportagem de quando a gente foi sequestrado pela Farc foi um exemplo disso. Estávamos buscando brasileiros, que estavam servindo as Farc, quando fomos interceptados por guerrilheiros. Eles fizeram todas as menções de que poderiam sumir conosco, mas, com o tempo, conseguimos mostrar que não éramos agentes americanos.

Demorou três ou quatro dias. Fomos transportados em carro de boi. Fomos para uma fazenda num lugar ermo. amos por muitas dificuldades, mas, no final, as desconfianças foram vencidas e surgiu uma oportunidade única de aprender. Começaram a se revelar para a nossa equipe. Então, aquilo que poderia ser uma sentença de morte, foi uma oportunidade de aprendizado sobre como os jovens que entram nas Farc pensam.

Dizem que a melhor reportagem ainda está por vir. Qual seu sonho na televisão? Tem algo que ainda quer fazer? 3n4y4i

O principal é manter essa concepção, de que a melhor matéria é sempre a próxima. É preciso estar sempre muito preparado para cobrir eventos internacionais com muita rapidez e temos conseguido isso. Nos últimos tempos, cobrimos guerra da Ucrânia, guerra do Afeganistão, o conflito Israel e Palestina e eu gosto muito desse espírito da Record de não medir esforços.

Enquanto concorrentes nem sequer se aproximaram do local dos acontecimentos, a Record está sempre presente, procurando trazer a melhor informação e diante desse cenário, eu me sinto muito motivado, porque sei que, daqui a pouco, teremos um enorme desafio.

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