Santa Catarina sempre foi um estado de extremos. Em 2020, os termômetros já alcançaram 37º C em janeiro, mas neste inverno chegaram também a -8,1º C. E entre as estações, neste ano os catarinenses viram, filmaram e aram por tornados, enchentes, deslizamentos de terra e queimadas. Agora pela frente, a previsão aponta mais um episódio – desta vez de neve e temporais.
Classificados como eventos climáticos extremos, os fenômenos que muitas vezes deixam destruição, feridos e até mesmo mortos por onde am devem se intensificar. Estudos feitos por especialistas que monitoram dados do clima há décadas preveem o aumento nas ocorrências e intensidade dos desastres.

Para Mário Quadro, doutor em meteorologia pela USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do mestrado de Clima e Ambiente no IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), o aumento das “temperaturas, da instabilidade geral da atmosfera” e a posição geográfica catarinense “propiciam os desastres”.
Além disso, o pesquisador destaca o avanço da tecnologia para prever os eventos:
“A gente já tá vendo esse aumento das ocorrências […], mas tem que se levar em consideração a nossa maior capacidade de registrar esses fenômenos”, pontuou. “A outra coisa, e aí vem o fator climático, é a questão da posição geográfica do Estado de Santa Catarina e esse aumento das temperaturas e da instabilidade geral da atmosfera”, afirmou.
Prejuízos crescem a cada ano 1aw6c
Segundo dados da CNM (Confederação Nacional dos Municípios)*, Santa Catarina decretou 2.499 registros de situação de emergência ou calamidade pública nos últimos 14 anos por conta dos desastres. O estudo apontou ainda que os prejuízos causados por estes eventos também têm aumentado: em 2017, foram de R$ 282,1 milhões, enquanto um ano antes, 2016, as perdas somaram R$ 269,6 milhões.
Em outro estudo, desta vez da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), especialistas catalogaram* 1.108 enxurradas, inundações e deslocamentos de massa em Santa Catarina entre 2002 e 2012.
No Brasil, entre 1995 e 2014, o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da UFSC Universidade Federal de Santa Catarina) calculou* uma perda de R$ 182,8 bilhões. Não há dados científicos consolidados mais atuais.
Mudança no equilíbrio 395w29
Outra especialista que estuda as alterações da terra e os eventos extremos, Marina Hirota, afirma que a mudança da temperatura da terra implica na perda de equilíbrio e traz consequências severas.
Mestre em engenharia elétrica, doutora em meteorologia e professora da UFSC, Hitora explicou em um vídeo publicado pela universidade em junho de 2019 que ao modificar esse equilíbrio as oscilações ocorrem, e chegam para nós como eventos extremos:
“É como se você mexesse em uma corda que está em equilíbrio. Se mexer nessa corda, ela oscila e vai ter muito mais altos e baixos do que a gente está acostumado a ter. Estações vão mudar, vai chover mais, vai chover menos, vai ficar muito tempo sem chover e vai chover um monte em um dia só”, comenta.
Leia também: 23439
- Aquecimento global: calotas polares desaparecem no Ártico
- Estudo sugere que aquecimento global pode levar Terra a seu limite em 2060
Aquecimento causado pelo homem implica em mudanças 63631
Pesquisadora e uma das cientistas mais influentes sobre o tema no país, Regina Rodrigues afirma que estudos indicam alterações significativas em decorrência do aquecimento da terra.
Mesmo lento, a professora da UFSC e integrante do IPCC ( Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) afirma que modelos criados por cientistas que levam em consideração a emissão de CO₂, por exemplo, já preveem a maior incidência de desastres:
“A gente não pode dizer que um evento específico está associado a mudanças climáticas globais, mas o que os pesquisadores podem dizer é que há mais probabilidade. Quando você coloca os gases do efeito estufa [em modelos de previsão], aumenta muitas vezes a probabilidade. Um evento que iria ocorrer no sistema natural uma vez no século, vai acontecer várias vezes por causa do aquecimento”.
Em Santa Catarina e no Sul do País, a cientista destaca uma mudança no clima. Segundo ela, os territórios caminham para uma “expansão da região tropical”. Na prática, a alteração que já começa a ser vista diminui os períodos de chuva e aumenta as ondas de calor.

“Santa Catarina sempre teve chuva o ano todo, o que era muito bom para nós. Agora, a gente tá começando a entrar nessa zona com mais chuvas de verão e na frente fria com menos”, afirma.
A fala de Rodrigues corrobora as análises do IPCC. Em um estudo* divulgado em 2018, os pesquisadores afirmaram que os extremos estão aumentando em frequência e intensidade em nível global. Ondas de calor na Sibéria e Europa ou enchente em Roma são sinais disso.
Além de afetar a produção de alimentos, o desequilíbrio traz insegurança para os mais vulneráveis, que moram em morros ou encostas. “No aspecto do desastre natural, tem o aspecto climático e o de vulnerabilidade da população. Quando os dois ocorrem, aí você tem um desastre”, afirmou a pesquisadora.
Consequências são vistas em SC 3s1m4u
Para a meteorologista Maria Laura Rodrigues, as consequências da elevação dos eventos climáticos já são vistos em Santa Catarina. A doutora que coordena a meteorologia da Epagri/Ciram cita, por exemplo, os períodos de estiagem no território catarinense, que “estão cada vez mais frequentes e longos”.

“Os estudos de mudanças climáticas que se tem apontam uma tendência para que os extremos se mostrem mais frequentes. Em termos de Santa Catarina, a gente tem esses eventos de estiagem acontecendo com uma maior frequência”, disse. Rodrigues exemplifica a ocorrência do fenômeno com os períodos de falta de chuva neste outono de 2020.
Um alerta divulgado pela SDE (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável) mostra que os volumes de chuvas no território catarinense estão fora da normalidade e o fenômeno, considerado o mais grave desde 2006, já deixou 90 cidades em de alerta neste ano.
O relatório da Epagri* publicado em maio deste ano, já traz um balanço de 50% de perdas na produção agrícola nos 90 municípios. Na fruticultura, as principais culturas afetadas são a maçã, com perdas de 19,6% da produção estimada para a safra; o maracujá (perda de 9,5%); e a ameixa, com 4,1% de queda.
Queimadas
Outra consequência do tempo seco, que predomina em Santa Catarina neste ano, é o aumento das queimadas. Do dia 1º de janeiro ao dia 15 de maio, foram registrados 2.786 incêndios em vegetação, enquanto no mesmo período em 2019 foram 684 – o que representa um aumento de 407,31% nas ocorrências deste tipo, segundo o Corpo de Bombeiros.
Últimos eventos registrados 672554
Tornados em agosto

No dia 14 de agosto, a Defesa Civil registrou tempestades severas e tornados no Estado. Naquele dia, ocorreu o registro de granizo, chuva forte e rajadas intensas de vento, principalmente nas regiões Extremo-Oeste, Oeste e Meio-Oeste.
O monitoramento meteorológico da Defesa Civil de Santa Catarina confirmou o registro de tornados nos municípios de Água Doce e Irineópolis. Outros 25 municípios também sofreram estragos.
Tempestades e agem de ciclone em junho

Na tarde de 30 junho, uma tempestade atingiu 82% de Santa Catarina. Logo após o fenômeno, um ciclone chegou ao Estado. Ao todo, foram 241 municípios afetados, 14 mortes e mais de R$ 500 milhões em prejuízos.
Além de deixar muitos catarinenses sem energia e casas destelhadas, o fenômeno atingiu principalmente as áreas da educação e infraestrutura.
Veja aqui os vídeos de destruição pelo Estado.
Ciclone em abril
Em 3 de abril, um ciclone – este com menos intensidade atingiu o litoral catarinense. Desta vez, 31 cidades foram atingidas pela maré alta e ressaca. Não houve feridos.
Estiagem desde janeiro
Desde o início do ano Santa Catarina sofre com a estiagem. Segundo a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, os volumes de chuvas no território catarinense estão fora da normalidade e o fenômeno, considerado o mais grave desde 2006, deixou 45 cidades em estado de alerta.
Para conferir: 2o1p4j
- Menor temperatura do ano foi registrada em Urupema neste ano. Veja aqui.
- Termômetros marcaram 37ºC nas nas regiões Oeste e Vale do Itajaí. Leia aqui.
- Estudo produzido pelo CNM pode ser lido aqui.
- Estudo que apontou prejuízos no Brasil causados por desastres ambientais pode ser visto na íntegra neste link.
- Pesquisa do IPCC de 2013 pode ser lida aqui. Há também uma página especial dentro do site da ONU sobre mudanças climáticas. Confira aqui.
- Estudo da UFRJ sobre o número de eventos climáticos pode ser conferido aqui.
- Pesquisa divulgada pela Nasa confirma aumento da temperatura da terra em inglês, está disponível aqui aqui.
- Íntegra da fala da professora Marina Hirota pode ser vista aqui.
- Relatório da Epagri produzido em maio pode ser lido aqui.