Foi em um domingo do ano de 1997 que o agricultor Adelino Munsio Companhoni, na época com aproximadamente 60 anos, percorreu pela última vez o trajeto de um bar até a sua casa na linha Bento, no município de Cordilheira Alta, no Oeste de Santa Catarina.
Cerca de 23 anos depois, a família ainda aguarda respostas sobre o paradeiro do agricultor, que completaria 83 anos no dia 21 de abril de 2021. A casa que ele morava, um grande casarão centenário, ainda tem móveis e roupas deixados por Adelino e trazem ainda mais mistério à história.
João Beleboni, de 77 anos, foi o último a ver Companhoni. Eles foram juntos ao bar que ficava cerca de mil metros da casa dos dois. O dia e o mês exatos do desaparecimento fogem da memória de Beleboni, mas a recordação e a saudade permanecem vivas.
“Lembro que aquele domingo a gente estava no bar jogando baralho e por volta das 22h ele me convidou para irmos embora. Éramos vizinhos, mas eu morava uma casa antes da dele. Me despedi e ele seguiu e depois daquela noite nunca mais foi visto”, conta Beleboni que é casado com Deolinda Beleboni, de 80 anos, prima de primeiro grau de Adelino.

Por ter sido o último a ver Adelino, na época do desaparecimento, Beleboni chegou a ser interrogado pela polícia como suspeito. “ei mais de um mês indo na delegacia para explicar o que tinha acontecido. Jamais eu faria algo com ele, tanto que não tiveram provas para isso”, disse.
Mais de duas décadas de espera 6a5ih
A casa que Adelino morava fica em uma área de cerca de 425 mil metros quadrados construída em meados de 1920. Nas terras, ele cultivava milho, feijão e criava suínos e gado. Pelos familiares e amigos era conhecido como um homem trabalhador e companheiro de todos. Nunca se ouviu falar de qualquer mal entendido que tivesse envolvido o agricultor.
Nas grandes portas e janelas do casarão antigo estão gravadas as memórias de uma família querida na região. Junto com o pai Luiz João Munsio Companhoni e a mãe Ângela Madalena Magioni Companhoni, Adelino e outros nove irmãos viveram boa parte da vida.
Hoje estão vivos apenas Hilário Companhoni, de 75 anos, que mora no interior de São Lourenço do Oeste, e a irmã Hortenila Companhoni, de 80, que vive no município de Ampere, no Paraná. As lembranças e a saudade do irmão, que nunca teve um paradeiro, acompanham Hilário que por muito tempo procurou por pistas que levassem até Adelino.

Perguntas sem respostas 30643d
“Estamos até hoje sem respostas concretas. Não foi encontrado um corpo, nem mesmo indícios de onde ele estaria. Acredito que alguém o pegou e matou, mas isso nós nunca tivemos a certeza”, diz o irmão mais novo de Adelino.
Ao lado do cunhado, Clair Breancini, de 54 anos, que também mora na linha Bento, Hilário caminhou quilômetros atrás de pistas sobre o irmão. Matas, rios, estradas. Tudo foi minuciosamente percorrido para tentar encontrar vestígios que levassem ao paradeiro. Mas, 23 anos depois, as perguntas ainda permanecem sem respostas.

“Ele fumava e nem mesmo bitucas de cigarro ou rastros de os foram encontradas. Ficou um ponto de interrogação na nossa cabeça. Procuramos por mais de seis meses por ele, fomos na polícia, mas nada foi esclarecido”, reafirma Brancini.
Vestígios de história inacabada 30n2e
A casa que o agricultor morava ainda tem vestígios de sua agem. Alguns móveis permanecem desde o desaparecimento. Camas, guarda-roupas, cadeiras, sofás, freezer, fogão e até mesmo roupas do agricultor ficaram para trás. O tempo destruiu muitas coisas, mas a saudade ainda se faz presente no grande casarão.
Tantos anos depois, a casa já foi alvo de vândalos que já destruíram muitas coisas. Outras, no entanto, foram levadas por familiares, mas muitos dos pertences de Adelino permanecem no mesmo local, como se esperassem pela volta do agricultor.
A poeira sobre os móveis, os vidros quebrados, as portas arrombadas, as teias de aranha e até mesmo rastros de animais como ratos e raposas, demonstram o abandono do lugar.
Veja fotos do interior da casa: 2y33m
Em um dos quartos, é possível encontrar um dos pares do sapato e um cinto que ele usava. Em outro, roupas corroídas pelo tempo. Em uma das camas os lençóis e cobertores ficaram jogados. Indícios de uma história inacabada que se tornou um grande mistério. Para onde foi Adelino Companhoni?
Cômodos da casa relembram também a religiosidade da família. Imagens de santos marcam a fé dos Companhoni. Adelino não teve esposa, nem mesmo filhos. As únicas recordações ficaram com os irmãos, primos e sobrinhos que até hoje aguardam um desfecho para a história.
A propriedade rural da família Companhoni está em inventário e ainda aguarda um desfecho judicial.
O que diz a polícia? 67384w
A família afirma que na época do desaparecimento a polícia ajudou nas buscas, mas que nenhuma resposta foi dada. De acordo com o delegado da PC (Polícia Civil), Wanderley Redondo, titular da DPPD (Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas) nada consta sobre o desaparecimento de Adelino nos registros policiais.
Segundo ele, antes de 2005, o registro de casos de pessoas desaparecidas ficava no computador da delegacia no município e não migraram para o sistema integrado.
O agente policial Graan Wincler, que trabalhava na delegacia municipal de Cordilheira Alta no ano de 1997 relatou que não recorda do nome e nem mesmo do desaparecimento do agricultor. O atual agente policial da delegacia no município, Pompílio Claro da Costa, informou que não identificou nenhum registro da época do desaparecimento.
A reportagem tentou encontrar policiais militares que trabalhavam em Cordilheira Alta em 1997, mas não obteve retorno da corporação da PM (Polícia Militar) até às 16h desta sexta-feira (16).