
Evilyn Vitória Modrock tinha apenas 5 anos quando foi assassinada pelo próprio pai, Ubiratan Luis Modrock, de 39 anos, em Guaramirim, no Norte catarinense. O crime ocorreu em junho de 2021 e, na próxima quinta-feira (12), completa quatro anos.
O crime ocorreu cerca de quatro meses após a separação de Ubiratan e Franciele Beregula, mãe da criança. Evilyn ava o fim de semana com o pai, conforme previa o regime de guarda compartilhada. Segundo testemunhas, o homem estava desempregado e não aceitava o fim do relacionamento.
“Eu pedi ajuda, eu alertei com medo do que ele poderia fazer”, relatou Franciele ao ND Mais. “Mas os órgãos públicos não me ouviram. Fui ignorada, desacreditada, deixada sozinha com a minha angústia. E o preço foi a vida da minha filha”.
O crime 6p2ab
Na manhã de 12 de junho de 2021, a Polícia Militar foi acionada para uma ocorrência no condomínio fechado Brisa do Valle, no bairro Escolinha, onde encontrou Evilyn Vitória já sem vida, com sinais claros de estrangulamento. Ubiratan também estava no local, com cortes profundos nos pulsos e no pescoço, ocasionados por ele mesmo.
De acordo com a Polícia Militar, foi o próprio Ubiratan quem ligou para um vizinho, pedindo ajuda. O vizinho acionou as autoridades. O homem foi socorrido e levado ao Hospital São José, em Jaraguá do Sul, antes de ser encaminhado à Delegacia de Polícia.
Em entrevista concedida ao ND Mais, ainda em 2021, Franciele relembrou que, no dia do crime, esteve na casa do ex-companheiro para tentar pegar a filha, que estava doente. “Estava há dias com dor de garganta, boca cheia de feridas. Eu vim para tentar ajudá-la e falei: quero cuidar da minha filha. Ela está sentindo a minha falta”, contou.
Segundo Franciele, desde que havia deixado a casa, cerca de cinco meses antes, após a separação, Ubiratan não a deixava mais entrar na casa. Somente naquele fim de semana — de sexta para sábado (12) — ele permitiu que ela visse a menina.
Na segunda visita, por volta das 22 horas, Franciele conseguiu preparar uma sopa para Evilyn e, depois, voltou para casa. Horas depois, na madrugada de sábado (12), a criança foi estrangulada e morta.

Franciele revelou ainda que, antes do crime, chegou a registrar um boletim de ocorrência contra Ubiratan, quando ele e a filha contraíram covid-19. “Ele falou que eu iria ver os dois no caixão”, relatou.
Ela também contratou uma advogada para solicitar na Justiça a guarda unilateral da criança (quando um dos pais detém a guarda e o outro possui apenas direito a visitas).
Além disso, Franciele informou, na época, ter procurado diversas vezes o Conselho Tutelar, relatando a dificuldade para ver a filha. Segundo ela, o órgão limitou-se a rear orientações sobre como proceder, mas não tomou nenhuma medida concreta.
Investigação e julgamento 5b2sc
A Polícia Civil assumiu as investigações, com o apoio da perícia do IGP (Instituto Geral de Perícias) e da análise das imagens das câmeras de segurança do condomínio. O laudo apontou que Evylin já estava morta há algumas horas quando os policiais chegaram ao local.
Inicialmente, o pai tentou enganar as autoridades, criando uma versão fantasiosa de que sua casa havia sido invadida por um criminoso que teria matado a filha e o atacado com uma faca.
Ele chegou, inclusive, a enviar mensagens a um vizinho relatando essa suposta invasão. No entanto, ao ser confrontado com as evidências e os vestígios encontrados pela perícia, acabou confessando o crime.
Segundo o delegado Paulo Reis Venera, da Polícia Civil de Jaraguá do Sul, Ubiratan itiu ter estrangulado a filha com uma camiseta durante a madrugada, e depois tentou tirar a própria vida com uma faca.
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) denunciou Ubiratan por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, mediante asfixia e com recurso que dificultou a defesa da vítima.
A possibilidade de enquadramento como feminicídio também foi considerada pela Polícia Civil, mas dependia da análise sobre a motivação — se o crime visava atingir a mãe da criança ou, como alegado pelo réu, “acabar com o sofrimento” da filha.
Durante o julgamento, realizado em agosto de 2022, a promotora Ana Paula Destri Pavan sustentou que o crime foi premeditado e motivado pela recusa de Ubiratan em aceitar o fim do relacionamento com Franciele.
O Tribunal do Júri de Guaramirim acatou integralmente a tese do Ministério Público e condenou Ubiratan a 30 anos de prisão, em regime fechado, sem direito a recorrer em liberdade.
A vida após o crime d276q
Quatro anos depois, Franciele, mãe de Evilyn Vitória, ainda convive diariamente com as profundas marcas deixadas pela tragédia.
“Vivo cada dia tentando sobreviver ao que me restou: o luto, a revolta e o medo. Porque o medo não ou”, contou Franciele, que acompanhou cada etapa do processo.
“Ele está preso, mas e quando sair? O medo de ele voltar a me perseguir ainda vive comigo”, relatou. “A justiça precisa ir além da prisão – precisa proteger quem fica”.
A memória de Evilyn permanece viva através da mãe. “A saudade é constante”, afirmou. “Só consigo dormir com remédios”.
Em carta aberta, Franciele deixou uma mensagem em que diz escrever por Evilyn, por ela mesma, por todas as mulheres que gritam e não são ouvidas, e por todas as crianças que tiveram seus futuros interrompidos pela violência.
Franciele segue fazendo um apelo para que o caso da filha sirva de alerta: “Minha filha merecia viver”.