“Eu fiquei em choque, e no momento meu mundo desabou, eu não soube nem o que dizer, o que pensar na hora. Não caiu a ficha que era o nosso neném, que isso estava acontecendo com a gente”, conta a mãe do recém-nascido gravado em uma dancinha no Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí.
A revolta veio depois que o vídeo já havia sido compartilhado nas redes. Ela conta que demorou a perceber que aquele era o filho dela, exposto em uma “dancinha”. Os gêmeos são os primeiros filhos do casal.

A criança foi colocada no bolso do uniforme de uma fisioterapeuta enquanto ela fazia uma dancinha viral. Ela e outras três pessoas foram demitidas do hospital.
“No momento que eu abri o vídeo, a gente [ela e o marido] não identificou que era o nosso neném. Eu mandei pro meu esposo, a gente compartilhou com a nossa família toda, já indignado, sem saber que era o nosso neném”, relembra.
A notícia de que aquele era o filho dela – um dos gêmeos, nascidos prematuros – veio três dias depois, quando ela foi visitar o filho no hospital.
Sozinha, ela foi levada até uma sala onde conversou com um psicólogo, a equipe jurídica, direção do hospital e chefia de enfermagem.
“Deram a notícia que era o meu neném no vídeo. Ali eu já fiquei sem palavras. Eu não soube nem o que dizer. Eu fiquei em choque, e no momento meu mundo desabou, eu não soube nem o que dizer, o que pensar na hora. Não caiu a ficha que era o nosso neném, que isso estava acontecendo com a gente, porque são milhares de nenéns ali, e o nosso pequenininho, tão frágil, 29 semanas, o irmãozinho dele ali, e ele lutando pela vida. Saber disso, ainda mais sozinha, a gente fica sem noção do que saber o que fazer.”
Depois da notícia, ela ligou para a mãe e para o marido, que foram até o hospital, “para eu não ficar desamparada sozinha”.
Ela conseguiu ver os filhos em seguida. O bebê do vídeo precisou ficar em isolamento por conta de uma bactéria contraída. Já o outro gêmeo segue na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Segundo o Hospital Marieta, eles devem continuar na unidade por 30 dias, para ganharem peso.

A mãe afirma que o bebê contraiu a bactéria depois do vídeo. Já o hospital afirma que “não há qualquer relação entre o fato filmado e a colonização bacteriana, tendo em vista que a coleta foi realizada no dia anterior ao ocorrido”. Até hoje os bebês seguem sendo alimentados por sonda.
“Eles [os profissionais do vídeo] deixaram a gente em pânico. Eu no resguardo, já estou sem chão por ter que deixar eles lá. Depois disso, a gente não dorme, sempre pensando nisso”, desabafa. “Nada vai apagar isso da nossa memória.”
Caso do recém-nascido motivou notas de repúdio
Assim que o caso ganhou notoriedade, o Hospital Marieta emitiu uma nota onde repudia a conduta, que considerou “inapropriada e criminosa”.
“Todas as medidas jurídicas – criminais, ético-istrativas e cíveis – estão sendo tomadas com o maior rigor possível, inclusive com apuração de colaboradores que filmaram ou participaram dessa cena lastimável, sem defender a criança”, diz a nota.
Leia na íntegra:
“O Hospital Marieta vem a público manifestar sua completa indignação e repúdio com a conduta inapropriada e criminosa praticada e registrada em vídeo postado nas redes sociais por uma fisioterapeuta terceirizada, prestadora de serviços na instituição, manipulando indevidamente um recém-nascido.
Todas as medidas jurídicas – criminais, ético-istrativas e cíveis – estão sendo tomadas com o maior rigor possível, inclusive com apuração de colaboradores que filmaram ou participaram dessa cena lastimável, sem defender a criança.
Com 380 partos mensais em média, o Hospital Marieta tem no respeito e na humanização ao recém-nascido e às parturientes sua premissa de trabalho há várias décadas. Este ato isolado não pode manchar a imagem de centenas de profissionais que atuam na unidade e zelam diariamente cuidando dos bebês.
Direção Geral e istrativa do HMMKB”
A empresa terceirizada, responsável pela contratação da fisioterapeuta, também emitiu uma nota:
“Nós da equipe de FISIOTERAPIA do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, viemos através desta, expressar nossa profunda indignação a ação da fisioterapeuta pertencente a nossa equipe, executando uma dança com um recém-nascido no bolso da roupa privativa.
Salientamos que somos uma empresa terceirizada que presta serviço de fisioterapia hospitalar ao HMMKB há mais de 5 anos e jamais tivemos situações semelhantes. Temos políticas de orientações aos profissionais e códigos de conduta que seguem fielmente os preceitos que regem a profissão.
Estamos estarrecidos com o absurdo da situação e informamos que a profissional foi imediatamente afastada de suas funções e medidas cabíveis serão tomadas, frente a decisões do órgão regulamentador da profissão (CREFITO) e junto ao hospital.
Lamentamos que um fato isolado e imprevisível como este, possa macular a imagem de um bom trabalho realizado pelos demais membros da equipe e dos colaboradores do Hospital Marieta.
Reiteramos nosso compromisso com seriedade na prestação de uma assistência de qualidade e foco na melhor recuperação dos pacientes.
Nos solidarizamos com a indignação da comunidade frente a esse ato tão chocante e nos colocamos à disposição para apuração e esclarecimento de todos os fatos.
Itajaí, 15 de agosto de 2023.”
O Conselho Regional de Fisioterapia também se manifestou: