O câncer colorretal é o segundo tipo de câncer que mais mata no mundo. Foi pensando nisso que pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) e da Universidade Nacional de Cheng Kung (Taiwan) criaram um modelo de IA (inteligência artificial) capaz de calcular a probabilidade de um paciente sobreviver à doença, analisando apenas imagens do tumor.

A ferramenta, chamada de Moma (sigla em inglês para Multi-omics Multi-cohort Assessment), interpreta amostras microscópicas de células cancerígenas.
Para ganhar essa habilidade, a ferramenta ou por testes com quase 2.000 pacientes com câncer colorretal.
“Nosso modelo executa tarefas que os patologistas humanos não podem fazer com base apenas na visualização de imagens. O que prevemos não é uma substituição da experiência em patologia humana, mas um aumento do que os patologistas humanos podem fazer”, disse o coautor sênior do estudo, Kun-Hsing Yu, em comunicado.
Os cientistas acreditam que a ferramenta pode ajudar os médicos a lidar de forma mais individual e incisiva com a doença. Por exemplo, considerando tratamentos mais agressivos dependendo do prognóstico do paciente, especialmente em países com recursos limitados, uma vez que a IA avalia com precisão a agressividade do tumor e sugere qual o tratamento mais adequado ao paciente.
Inteligência artificial na medicina 24rk
Para a criação da ferramenta, os cientistas disponibilizaram à IA dados sobre idade, sexo e estágio do câncer desses voluntários, bem como todos os detalhes sobre o comportamento biológico dos tumores.
Posteriormente, eles incluíram imagens de cada tumor para que a ferramenta aprendesse a encontrar marcadores relacionados ao câncer de cólon e reto, como mutações genéticas e alterações epigenéticas — que mudam o comportamento do DNA para que ele e a bloquear genes que combatem tumores, o que acelera a progressão da doença.
Para trazer essa IA à realidade médica, os pesquisadores então fizeram com que ela analisasse um novo conjunto de amostras (em imagens) de tumores de diferentes pacientes.
A comparação das avaliações do modelo com o diagnóstico recebido pelos indivíduos antes da pesquisa constatou que a IA previu com exatidão a taxa de sobrevida geral dos indivíduos e o período em que eles ficariam livres, ou não, da doença.
Mapeamento da evolução do câncer 1o411k
A taxa de sobrevida indicada pela máquina era mais baixa (ou seja, pior) em pacientes que tinham tumores com maior densidade celular, com estroma (responsável pela sustentação e nutrição do tumor), e que interagiam com células de órgãos ocos, como estômago e bexiga.
A IA também foi capaz de antecipar como cada pessoa poderia responder a diferentes tratamentos com base em algumas especificidades do tumor, como mutações genéticas que poderiam torná-lo mais, ou menos, receptivo à terapia.
A análise dessas mutações, geralmente, exige um exame de sequenciamento genômico, que é mais demorado e de alto custo.
De acordo com os estudos, em todos os testes a ferramenta superou os patologistas humanos e os modelos de IA disponíveis atualmente. Porém, por ora, ela está disponível gratuitamente para pesquisadores e clínicos, mas não para hospitais.
A ferramenta continuará ando por testes com pacientes reais e será periodicamente atualizada, à medida em que a ciência evolui.
Apesar da efetividade do modelo, os pesquisadores deixam claro que os prognósticos dos pacientes dependem de vários fatores e não há como dar completa certeza sobre a sobrevida de cada um.