Há mais de um ano, eles se arriscam na linha de frente da maior guerra sanitária do século, a pandemia de Covid-19. Cansados, sobrecarregados, não se entregam, não desistem, não abandonam o posto. Hoje, Dia Mundial dos Profissionais de Saúde, eles merecem toda reverência.

Desde o início da crise que mergulhamos em fevereiro do ano ado eles ganharam ainda mais importância aos olhos da sociedade. Quem ainda duvidava da relevância e extrema necessidade do trabalho de técnicos, auxiliares, enfermeiros e médicos, agora reconhecem que sem eles seria impossível vencer a batalha contra a doença que mais matou brasileiros nos últimos 12 meses.
“Ia pra casa arrasada, teve meses que eu não tive um dia de folga”, conta Renata. “A gente chegava nas unidades tudo lotado, oxigênio acabando e aquele apavoro”, lembra Willian. “Às vezes, a gente vê que o vírus vence a gente, isso é muito triste”, lamenta Thaiany. “Nossa demanda tem sido cada vez maior, não diminuiu, as pessoas estão muito adoecidas”, diz Julia. “Foi um ano de muito desafio”, conta Aline.
Profissionais de saúde que enfrentam a pandemia, Renata, Willian, Thaiany, Julia e Aline têm rotinas difíceis. Em diferentes áreas, são movidos pelo mesmo juramento: salvar vidas. Vivem o período de maior aprendizado em suas carreiras profissionais e situações que, dificilmente, apagarão da memória.
Alguns dos seus colegas, dolorosamente, ficaram no caminho. Desde o início da pandemia, 68 profissionais de saúde perderam a vida para a Covid-19, sendo 37 médicos e 31 enfermeiros, técnicos ou auxiliares de enfermagem. Quem ainda luta pode estar perto da exaustão, é verdade, mas não perdeu a esperança em dias melhores.
“No início, nós médicos assumimos um compromisso: seríamos os últimos a sair dessa pandemia. Enquanto houver algum paciente com Covid-19, vai ter um médico cuidando dele, ao lado dele”, ressalta o Ademar Oliveira Paes Júnior, presidente da ACM (Associação Catarinense de Medicina).
A jornada dupla da infectologista 1i692d
A médica infectologista Renata Zomer de Albernaz Muniz trabalha em dois hospitais da Capital. “O paciente é pai, mãe, amor da vida de alguém, então, na hora que tu conversa e a pessoa te olha com aquele olhar de desespero, aquele olhar de ‘e agora?’ Tu acolhe, conversa, esclarece, vem a vontade de dar um abraço e não pode”, relata Renata.

No atendimento, o momento mais difícil para Renata é virar as costas e se afastar da pessoa. “Dói, dói muito. É muito difícil a família escutar o que a gente tem para dizer às vezes. E é muito difícil dizer o que a gente tem para dizer”, afirma.
Renata se viu diante de jornadas ininterruptas na pandemia. A oscilação dos casos e na lotação das UTIs exigiu da especialista mais do que disposição e muito mais do que profissionalismo.
“Tenho uma filha pequena de dois aninhos, que fica muito mais com o pai do que comigo. Às vezes, quando ela chora de dor, chama o papai, porque a mamãe ficou muito mais ausente e isso é muito difícil”, lamenta Renata. Para ela, a distância da filha Helena e dos familiares é um dos maiores desafios. “Mas a gente vai conseguir, a gente vai conseguir”, repete a médica, com esperança.
Atendendo colegas na terapia n2t35
Na psiquiatria, Julia Trindade viu a demanda por terapias disparar na pandemia. Para atender a nova carga, foi preciso trabalhar até nos dias de folga. Entre os novos pacientes, uma parcela cada vez mais significativa de colegas de profissão.

“Eu sempre falo que o profissional de saúde mental é o paciente mais difícil, porque a gente é treinado para cuidar das pessoas e, muitas vezes, há uma resistência de que precisamos ser cuidados”, relata.
Aumento da insônia, diagnóstico de Burnout e esgotamento mental são problemas mais comuns entre os profissionais da categoria na pandemia. “A gente fala muito de humanizar a medicina, humanizar a questão de saúde, mas, às vezes, a gente esquece que o profissional de saúde também é humano e precisa desse tempo de cuidado”.
Segurança após a vacinação 2r3f5b
As boas notícias ajudam a aliviar. Na linha de frente, vêm os primeiros sinais de que a vida, devagar, volta ao que era antes. No início da pandemia, o grande medo da fisioterapeuta Aline Lisboa era levar o vírus para o convento onde ela trabalha. Mais de 70 idosos ficam sob os cuidados dela e da equipe.
“Foi um ano de muito desafio, porque a gente saía de casa só para trabalhar, voltava e nem no mercado eu ia, porque tinha contato com a minha avó e irmãs, todas muito idosas”, lembra a profissional de saúde. E os cuidados não foram em vão. Somente uma moradora ficou doente e se recuperou bem da doença mais devastadora da atualidade. Hoje, tanto as funcionárias, quanto as irmãs estão imunizadas.
“Voltamos a fazer atividades ao ar livre, e elas ficaram muito contentes, conversam mais, se encontram, se fortalecem com os exercícios físicos e cognitivos. É emocionante mesmo”, comemora Aline.
Ele é socorrista, ela enfermeira j21g
Willian da Silva é socorrista do Samu e casado com Thaiany Cristiane Rodrigues da Silva, que é enfermeira. Juntos, encaram o desafio de cuidar e socorrer. Enquanto isso, confiam à família os cuidados da pequena Maria Eduarda, filha de um ano e meio do casal.

“Como a gente começou a desdobrar o plantão muitos dias fora de casa, só chegava dava um beijo nela e voltava. Ela perguntava: ‘papai, já vai voltar?’ e isso cortava o coração”, lembra Willian.
Na ambulância, ele viveu o que jamais imaginava: “Uma das maiores dificuldades era onde colocar alguns pacientes. Estava tudo cheio, tudo lotado. A gente chegava nas unidades e tudo lotado, oxigênio acabando e aquele ‘apavoro’”, conta Willian. Segundo ele, algumas vezes, foi preciso esperar duas horas dentro da viatura, até uma maca receber o paciente.
No outro lado do atendimento, no hospital, Thaiany presenciou a encruzilhada de ter que escolher pacientes com a estrutura hospitalar no colapso. “Nossa equipe é multidisciplinar. Todo mundo fazendo a sua parte. Às vezes, o vírus vence a gente, isso é muito triste, mas na maioria dos casos, estamos conseguindo reverter e dar mais altas do que óbitos”, enfatiza.
“Precisamos ter otimismo com cautela” 4c6d4c
Natural de Florianópolis, Ademar Oliveira Paes Júnior cursou medicina na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), especializou-se em radiologia e diagnóstico por imagem, fez doutorado e estudou gestão antes de assumir a presidência da ACM. Atuando na Clínica Imagem e Hospital Baía Sul, Ademar é mais um na linha de frente do enfrentamento à pandemia.

Na visão dele, a característica mais relevante do momento é o cansaço, pela extensão do tempo. “Especialmente no início desse ano, tivemos momentos muito difíceis. Não foi apenas a capacidade de estrutura, mas das pessoas, das equipes”, relata o presidente da entidade de classe.
Para ele, Santa Catarina ainda não está no melhor momento e não pode aliviar nos cuidados. “A gente aprendeu a ser um pouco mais cauteloso. Precisamos ter otimismo com cautela. Estamos ampliando a cobertura vacinal, mas acredito que não podemos relaxar nos cuidados”, enfatiza.
Preocupado com novas variantes e com a falta de estrutura e de pessoas, Ademar relata que a grande dificuldade do médico é receber casos graves e não ter espaço físico, ou leitos, para a devida assistência.
“Existem dificuldades, às vezes, para fechar escalas, com tantos médicos doentes. Por conta da vacinação dos profissionais de saúde, reduziu o número de médicos afastados com Covid-19, mas a gente segue com essa dificuldade: acúmulo de pacientes em algumas emergências, sem poder dar a assistência adequada”.
Muitas perdas em dois meses 1b5d1
Segundo o presidente da ACM, Ademar Oliveira Paes Júnior, em abril, reduziu pela metade o número de profissionais afastados por causa da Covid-19 em relação a março. Em relação às mortes, o início de 2021 é mais letal que os nove meses de pandemia em 2020. “Fomos bastante castigados no início de 2021”, pontua.

Os profissionais de saúde também sentiram o pior momento da pandemia no Estado, os meses de março e abril ados. Cansados e resilientes, não conseguem sorrir todos os dias. Unidos e ainda preocupados com os estragos da doença nos seus pacientes, levantam da cama todos os dias motivados pela nobre missão de salvar.
A origem da homenagem 5o6k43
A data de hoje foi escolhida para homenagear os profissionais de saúde, mas nem sempre foi assim. O 12 de maio era comemorado como o Dia da Enfermagem homenageando a britânica Florence Nightingale, ela se dedicou a essa profissão e foi a autora do juramento lido nas formaturas ou colações de grau do curso de enfermagem. Florence fundou a primeira Escola de Enfermagem no mundo.
Devido ao crescimento dos hospitais, no entanto, o dia foi modificado abrangendo mais profissionais de saúde. Além dos enfermeiros, a data reverencia médicos, biólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, biomédicos e farmacêuticos.
Profissionais de enfermagem vítimas da Covid-19 em SC 6k6y6u
Vanessa Neuber Salm, técnica de enfermagem, Blumenau, 5/5/2020;
Lúcia Isolde Rocha Henrique, técnica de enfermagem, ville, 26/5/2020;
Claudiomiro Silveira Ratts, técnico de enfermagem, ville, 26/5/20;
Rejane Gonçalves, enfermeira, Itajaí, 21/6/2020;
Jaqueline Bonetti Bianco, técnica de enfermagem, Blumenau, 11/8/2020;
Ademir da Rocha, Enfermeiro e técnico de enfermagem, Içara, 28/8/2020;
Mariscellis Guerreiro, técnica de enfermagem, Içara, 7/9/2020;
Cesar Augusto Nascimento, enfermeiro, Florianópolis, 1/10/2020;
Raquel Budal Arins, técnico de enfermagem, ville, 16/10/2020;
Andréa Albuquerque, enfermeira, Jaraguá do Sul, 18/12/2020;
Luiz Adriano Mello, técnico de enfermagem, Chapecó, 26/12/2020;
Paulo Sérgio Mirek, enfermeiro, Itaiópolis, 11/1/2021;
Antônio Roberto Leandro, técnico enfermagem, Araranguá, 27/1/2021;
Rosa Maria Melato, auxiliar de enfermagem, Gaspar, 25/2/2021;
Zeni Buenos Pereira, técnica de enfermagem, Itajaí, 26/2/2021;
Eliandre Boscato, técnica de enfermagem, São Carlos, 1/3/2021;
Helena Maria de Paula Silva, Técnica de enfermagem, Brusque, 3/3/2021;
Maria José Gomes, enfermeira, Brusque, 4/3/2021;
Adelaide Beninca, técnica de enfermagem, Urussanga, 18/3/2021;
Adriana Honorato de Souza, técnica de enfermagem, Criciúma, 18/3/2021;
Joanadeli Mendes Correia, técnica de enfermagem, Ilhota, 19/3/2021;
Ivone Rodrigues Bastos, técnica de enfermagem, Monte Castelo, 14/3/2021;
Sidnei da Silva Oliveira, técnico de enfermagem, Itajaí 25/3/2021;
Meglyn Fernandes, técnica de enfermagem, Florianópolis, 28/03/2021;
Claudia Denise Soares Santos Camargo, técnica de enfermagem, ville, 29/3/2021;
Margareth Linhares Martins, professora e enfermeira, Florianópolis, 1/4/2021;
Juraci Jurema Vicenti Demonti, técnica de enfermagem, Nova Trento, 6/4/2021;
Luiz Carlos de Oliveira, auxiliar de enfermagem, ville, 7/4/2021;
Jurema Sartor, auxiliar de enfermagem, Itapoá, 7/4/2021;
Antônio de Almeida, técnico de enfermagem, Lontras e Rio do Sul, 10/4/2021;
Ester da Cunha Lira, técnica de enfermagem, Antônio Carlos, 13/4/2021.
Médicos vítimas da Covid-19 em SC 4k6w39
01. Gastão Dias Junior, pediatra, Balneário Camboriú, 22/4/2020;
02. Ivan Savoia Assef, ginecologista, Balneário Camboriú, 6/7/2020
03. Jonas Coelho Lehmkuhl, geriatra, Lages, 25/7/2020;
04. Vera Lúcia Machado Nunes, ginecologista, Balneário Camboriú, 29/7/2020;
05. Nelson Luiz Barrichello, intensivista, Itajaí, 2/8/2020 ;
06. André Karnikowski, ortopedista, Brusque, 13/8/2020;
07. Moacir José Cucco, pediatra, Lages, 17/8/2020;
08. Reginaldo Boppré, cirurgião vascular, Tubarão, 29/8/2020;
09. Ari Bertoldo Sell, psiquiatra, Florianópolis, 17/11/2020;
10. Renaud Pimental Frazão Filho, reumatologista, Florianópolis, 21/11/2020
11. Marco Aurélio Gamborgi, cirurgião plástico, ville, 4/12/2020;
12. Maria da Conceição Lourenço Azêdo, ginecologista, São Bento do Sul, 9/12/2020
13. Ademir Kaiser, pediatra, Rio do Sul, 14/12/2020;
14. Marco Antonio Alvino Garcia, clínico, ville, 29/12/2020;
15. Ernesto Gazziero Filho, endocrinologista, Blumenau, 30/12/2020;
16. Olavo José Schmidt, clínico, Videira, 4/1/2021;
17. João Constâncio Albuquerque Filho, médico do Trabalho, Jaraguá do Sul, 6/1/2021;
18. Antônio Sérgio Ferreira Baptista, gastroenterologista, ville, 8/1/2021;
19. Heraldo Macuco Capella, neurologista, Florianópolis, 22/1/2021;
20. Adail Japy Lira, clínico e Intensivista, Brusque, 24/1/2021;
21. Cézar Figueiredo Forte, pediatra, Florianópolis, 25/1/2021;
22. Maricelia Vieira, ginecologista, Florianópolis, 9/2/2021;
23. Mário Techy, ortopedista, ville, 3/3/2021;
24. Álvaro Steckert Filho, coloproctologista, Florianópolis, 8/3/2021;
25. Ernério José Back, urologista, Indaial, 10/3/2021;
26. Gilberto Vandick Schloegel Querne, urologista, Balneário Camboriú, 14/3/2021;
27. Vilson Dalla Nora, anestesiologista, Balneário Camboriú, 19/3/2021;
28. Ronaldo Bachmann, cirurgião Geral, Timbó, 20/3/2021;
29. Joares Luiz Nogara, gastroenterologista, Blumenau, 23/3/2021;
30. Luiz Alberto Susin, endocrinologista, Lages, 25/3/2021;
31. Hernan Heredia Farrel, radiologista, Xanxerê, 1/4/2021;
32. Aires Antônio de Souza, cardiologista, Imbituba, 8/4/2021;
33. Paulo Roberto Gonçalves do Nascimento, ginecologista, Capinzal, 14/4/2021;
34. Paulo Cezar Santos, cardiologista, Balneário Camboriú, 20/4/2021;
35. Levy Silva Junior, intensivista, ville, 30/4/2021;
36. Paulo Ferreira Lima, alergista, Florianópolis, 2/5/2021;
37. Sérgio Senff, ortopedista, Florianópolis, 3/5/2021.