Segundo dados de 2020 divulgados pela ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, na tradução do inglês), o Brasil ocupa a segunda posição dos países que mais realizam cirurgias plásticas no mundo. Entre os procedimentos mais realizados, está o aumento de mama, com mais de 170 mil cirurgias feitas durante o ano no mundo. Entretanto, um movimento contrário ganha força entre as brasileiras.

Na procura por um corpo mais natural ou em casos de complicações de saúde, mulheres estão retirando próteses de silicone, realizando o explante. Conforme a ISAPS, em 2018, 14,6 mil mulheres retiraram o silicone no mundo. Em 2019, o número ou para 19,4 mil. Em 2020, atingiu a marca de 25 mil explantes.
‘Meu médico não acreditava em rejeição’ 4f6a4i
Vanessa Franca, de 41 anos, é uma das mulheres que realizou o procedimento de explante de silicone. Em julho de 2021, a personal trainer decidiu que faria uma cirurgia para reduzir as mamas por achá-las muito grandes.
Contudo, após uma conversa com o médico, aceitou colocar 145 ml de silicone em cada peito. “Nunca foi um sonho. Queria fazer uma redução de mama. Conversando com o médico ele achou que seria interessante [colocar o silicone] e eu também”, contou.
Apesar de nunca ter sido um sonho, o implante de silicone se tornou um pesadelo para Vanessa. Os sintomas de rejeição começaram a aparecer logo após a cirurgia de implante e, com três meses, percebeu que o seu corpo estava rejeitando as próteses.
“Depois do pós-operatório percebi que tinha algo de errado, sentia muita dor. Com três meses de cirurgia abriu a cicatriz. É como se meu corpo estivesse rejeitando as próteses. O meu médico não acreditava em rejeição, achava que isso não existia”.

Sintomas para considerar o explante 50152f
Segundo o cirurgião plástico e membro da SB (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) Fernando Amato, os sintomas para uma pessoa pensar em realizar o explante mamário são inespecíficos e podem estar associados a outras doenças, como as autoimunes, ou até mesmo a menopausa.
Conforme o médico, tudo deve ser investigado. Entretanto, sintomas locais podem ajudar a identificar problemas com as próteses.
“A paciente que tem uma mudança do formato da mama, dor na mama, assimetria de volume, perda de consistência e vermelhidão. Todos esses podem ser indicativos de uma complicação local do implante.”
‘Não conseguia abraçar o marido ou pegar a filha no colo’ 1t60f
Dores locais e complicações na mama foram uma realidade para Vanessa durante 11 meses. Com infecções recorrentes e inchaço no peito, a personal precisou fazer tratamento com antibóticos para tratar a rejeição em um dos seios.
“Minha vida virou um inferno, saí de uma pessoa super ativa para uma pessoa que não conseguia abraçar o marido ou pegar a própria filha no colo”.
Mesmo com um médico que não acreditava na rejeição da prótese, Vanessa não deixou de acreditar que havia algo de errado. Sozinha, estudou sobre os problemas que o implante mamário poderia trazer para as mulheres e se identificou com os sintomas. “Minha prótese era tão pequena, tamanho de um pão de queijo, mas causou muitos estragos”, diz.
Contratura capsular X doença do silicone 11927
Entre os problemas relatados após o implante de silicone, está a contratura capsular, definida por Fernando Amato como: “uma alteração da cápsula que se forma ao redor do implante”.
Segundo o médico, a alteração da cápsula pode causar dor, deformidade e endurecimento da mama. “Nesses casos de contratura capsular pode ser indicado a troca ou o explante de silicone”, diz.
Após muita dor e com rejeição do corpo ao implante, Vanessa foi encaminhada para o hospital com três meses de cirurgia. “Meu médico tirou a prótese e viu que estava muito encapsulada. Ele limpou e colocou de volta. Ali, com três meses, eu já estava arrependida do silicone”.
Além da contratura capsular, a ‘doença do silicone’ pode ser um dos motivos que levam uma mulher a realizar o explante. De acordo com o médico da SB, o termo é amplo, genérico e pode estar relacionado a todas as complicações que um implante pode causar.
“Mas é muito importante saber que esse termo ‘doença do silicone’ é muito genérico. Ele pode englobar todos sinais e sintomas ou ele pode estar relacionado especificamente a presença do do silicone se espalhando pelo corpo”.
Explante 452g6h
Com um médico que não acreditava na rejeição do implante, Vanessa foi em busca de outros especialistas. “Até cheguei a me consultar com outros três cirurgiões, pessoas que estão acostumadas a fazer explantes. Mas o discurso que eu ouvia era sempre o mesmo: não tinha nada errado e o que tinha acontecido era uma fatalidade”, conta ela.
A personal realizou a cirurgia de explante 11 meses após o implante de silicone. “Na cirurgia de explante mamário é realizado a retirada do implante com a cápsula que fica ao seu redor. Muitas vezes é preciso fazer uma reconstrução e reposicionamento com os tecidos que sobraram. O formato da mama é refeito para ter um resultado mais natural”, explica o cirurgião.
Depois de remover o implante mamário, Vanessa conseguiu se sentir livre novamente e, apesar de ainda sentir alguns incômodos, as dores foram embora.
“Depois de ter tirado as próteses, eu não tive candidíase mais e meu cabelo parou de cair. Tinha dores que não conseguia dormir, só sentia a contratura da prótese. É indescritível. Foi muito horrível. Uma fase da vida muito traumática”.
Da escolha de reduzir os seios, a personal não se arrepende: era uma necessidade para melhorar a sua qualidade de vida. Seu único arrependimento profundo foi de ter colocado a prótese.
“Para mim foi um grande aprendizado, mas para o médico foi mais. Ele me deu a certeza de que rejeição não existia e que isso não podia acontecer. A prótese foi para analise da fábrica e eles batem o pé até hoje de que rejeição não existe. Mas eu sou a prova viva: do dia que coloquei até o dia que tirei, não tive paz”.
Liberdade 4u4c4i
Dez meses após ter retirado o silicone, Vanessa consegue respirar aliviada. O seio em que havia a contratura, não ficou 100% “mas a essa altura é o que menos importa”, afirma.
“Tudo que mais quero é minha vida de volta, minha saúde de volta. Abraçar minha filha e poder pegar ela no colo, ela só tem 3 anos. Nada paga: não há beleza, nem estética”.
Para a personal, existem mulheres que juntam dinheiro a vida inteira para colocar silicone e não se dão conta de que, para tirar, custa o dobro.
“Pior do que você querer remover, é você não ter dinheiro para. No grupo a gente vê muitas mulheres desesperadas. Ainda não é uma realidade no SUS (Sistema único de Saúde) o explante”, finaliza.