O México elegeu sua primeira mulher presidente, segundo projeções oficiais divulgadas nesta segunda-feira (3). A cientista Claudia Sheinbaum, de 61 anos, foi apelidada de “dama de gelo” pela adversária durante a campanha eleitoral.

“Fizemos história”, anunciou Claudia Sheinbaum aos apoiadores nesta manhã. A futura comandante do país é aliada do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, que fundou o partido Morena (Movimento Regeneração Nacional).
O Instituto Nacional Eleitoral Mexicano apontou nesta segunda-feira que a candidata tem de 58,3% a 60,7% dos votos, enquanto a oponente Xóchiti Gálvez tem de 26,6% a 28,6%.
Sheinbaum foi prefeita da capital Cidade do México de 2018 a 2023. Durante o mandato, teve que lidar com a pandemia da Covid-19 e o desabamento de um viaduto do metrô, tragédia que causou 27 mortes.

Antes de se lançar na política, ela se formou em física pela UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México) e fez pós-graduação em engenharia ambiental, além de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.
Claudia Sheinbaum participou do Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) que ganhou um Prêmio Nobel da Paz em 2007.
A eleição deste ano é um marco para o México, considerado o segundo pior país do mundo para ser mulher, de acordo com uma pesquisa do Instituto para Mulheres, Paz e Segurança (GIWPS) da Universidade Georgetown.

O levantamento apontou que o país tem o maior índice de violência política contra mulheres do mundo. Em 2022, foram registrados 537 casos, enquanto a média global é de 16 ocorrências anuais.
Dados do governo ainda revelam que dez mulheres foram assassinadas por dia no México em 2023.
Claudia Sheinbaum foi militante na juventude 141w2
A cientista foi uma jovem politicamente ativa na militância estudantil e ajudou a organizar uma greve na universidade em 1987, contra o aumento das mensalidades.

Os pais de Claudia Sheinbaum também eram de esquerda e participaram das manifestações históricas de 1968 no México. A população na época protestava contra os gastos públicos com os Jogos Olímpicos.
A dez dias da abertura das Olimpíadas, as forças armadas abriram fogo contra os estudantes em uma manifestação pacífica e mataram centenas de civis. O ato ficou conhecido como Massacre de Tlatelolco. “Sou filha de 68”, declara Claudia com frequência.

A família dela tem origem judia. Vindos da Lituânia, seus avós paternos chegaram ao México em 1920 fugindo da Segunda Guerra Mundial. Os avós maternos também eram judeus e chegaram da Bulgária em 1940.
Além da militância, a ciência também corre nas veias da nova presidente: seu pai era um empresário e químico, a mãe era bióloga e médica.
“Dama de gelo” 4yf3v
Claudia Sheinbaum entrou na política em 2000 como secretária de Meio-Ambiente da Cidade do México, quando o atual presidente Andrés Manuel López Obrador era prefeito da capital.

Antes de ser eleita prefeita da cidade, em 2018, ela comandou o distrito de Tlalpan entre 2015 e 2017. O terremoto de 2017 fez uma escola de Tlalpan ruir durante seu mandato e 17 crianças morreram.
Ela se recusou a olhar para a adversária Xóchitl Gálvez ou chamá-la pelo nome nos três debates da campanha presidencial. A frieza demonstrada pela candidata rendeu o apelido de “dama de gelo”, cunhado pela rival.
“Você ainda é fria, sem coração, eu a chamaria de dama de gelo”, afrontou Gálvez durante o primeiro confronto.

Claudia Sheinbaum tentou compensar a falta de carisma distribuindo sorrisos aos apoiadores e publicando vídeos bem-humorados no TikTok.
A engenheira se casou em 1987 com o político Carlos Ímaz, com quem teve uma filha. O casal se separou em 2016 e recentemente, em 2023, ela anunciou um novo casamento com seu namorado da faculdade, Jesús Tarriba, que reencontrou pelo Facebook.