Aprovado na Câmara dos Deputados em votação relâmpago na última quarta-feira (12), o Projeto de Lei que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio levantou debates fervorosos nas redes sociais. O bispo emérito de Blumenau, Dom Angélico Sândalo Bernardino, se manifestou sobre o PL antiaborto.

À coluna da Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, o religioso se mostrou contra ao projeto de lei e destacou sobre a necessidade de promover a educação sexual no Brasil.
“Simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e muito mais vasto”, disse Dom Angélico.
O bispo emérito ainda disse considerar inadequado o momento em que o tema foi apreciado pela Câmara dos Deputados. Ele questionou a motivação de debater uma questão complexa como o aborto às vésperas do período eleitoral.
O Portal ND Mais tentou contato com Dom Angélico Sândalo Bernardino, mas não teve retorno até a publicação da matéria.
Posição do bispo emérito vai na contramão da Igreja Católica 4a6u5y
A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) defendeu a aprovação do PL, mas Dom Angélico seguiu na direção oposta e defendeu sua posição.
“O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo”, disse.
O bispo emérito ainda enfatizou que a situação fica ainda mais grave quando as mulheres estupradas engravidam e optam pelo aborto, pois elas não deveriam ser punidas por serem vítimas.
Para o religioso, é preciso focar no problema e ar a proporcionar educação sexual nas escolas.
“Não podemos prender mulheres antes de darmos a elas, e também aos homens, uma formação sexual e afetiva sólida. É lamentável como isso ainda não seja incluído na nossa formação”, pontuou.
De acordo com o bispo emérito, a educação sexual deveria ser prioridade na escola, pastoral, catequese e dentro da família.
Apesar de ser contra o projeto de lei, Dom Angélico diz que todos devem ser contra o aborto, o qual deveria seguir proibido. Para ele, o problema é prender mulheres quando elas “muitas vezes” são as vítimas.
O que diz PL do aborto 135340
O Projeto de Lei 1904/24 é do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que é próximo ao pastor Silas Malafaia. A articulação do PL contou com a participação da bancada evangélica.
Caso a proposta seja aprovada, serão alterados quatro artigos do Código Penal. Com a aprovação, o ato — que já é proibido no Brasil —, a a receber tratamento de homicídio simples, que conta com punição de seis a 20 anos de cadeia.
Conforme o artigo 128 do Código Penal, o aborto é permitido quando a gravidez representa risco de vida para a gestante, quando é resultado de estupro ou quando o feto é for anencefálico, ou seja, não possuir cérebro.
Nessas situações, as gestantes possuem respaldo do governo para obter gratuitamente a interrupção da gravidez legal através do SUS (Sistema Único de Saúde).
Além disso, o STF declarou, em 2012, que nos casos citados, o parto antecipado serve para fins terapêuticos.

Quem é o bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino 63519
O religioso iniciou carreira católica estudando filosofia no Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo, e teologia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, em Viamão, no Rio Grande do Sul. Depois de estudar jornalismo, foi nomeado sacerdote em 1959.
Mais tarde, nos anos 2000, os caminhos de Dom Angélico o guiaram para Santa Catarina. Em 19 de abril daquele ano, foi nomeado como o primeiro bispo da Diocese de Blumenau, no Vale do Itajaí.
Durante o período em que viveu no estado, foi presidente do regional Sul-4 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ele ficou em Blumenau até 2009, quando em 18 de fevereiro teve a sua renúncia aceita por limite de idade.
Ele também ficou conhecido por manter uma amizade com o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Em 2018, numa atitude que gerou polêmica, o bispo emérito Dom Angélico realizou uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva.
A cerimônia ocorreu em frente ao sindicato dos metalúrgicos do ABC e ganhou repercussão nacional.
