Um diplomata chega em seu escritório e percebe uma correspondência em sua mesa. Ao abri-la, não há nenhum texto escrito, apenas um desenho de um pênis com asas. Essa é uma história real e aconteceu em junho de 2024, no Itamaraty, em Brasília. O caso foi parar nas mãos da Polícia Federal, que abriu uma investigação para descobrir quem enviou (veja o desenho ao final da matéria).

O diplomata é o primeiro-secretário Cristiano Ebner, que chefia a DSS (Divisão de Saúde e Segurança do Servidor) do MRE (Ministério das Relações Exteriores). A correspondência não indicava o real remetente, apenas uma “Fundação Kresus”, que não existe.
Ebner não entendeu a correspondência como uma brincadeira e encaminhou-a à Corregedoria do MRE, para abrir um procedimento interno e descobrir o remetente do pênis com asas.
A função do primeiro-secretário dentro da divisão é analisar exames issionais e perícias médicas, que podem resultar no retorno de um servidor ao exterior ou impedi-lo de servir fora do Brasil por questões de saúde. Como essas situações, muitas vezes, desagradam seus colegas, ele interpretou o aviso como um risco à sua segurança.
Na Corregedoria, foi sugerido que Ebner levasse o caso à Polícia Federal, que abriu um inquérito e iniciou a apuração para verificar quem enviou o pênis com asas.
Em agosto de 2024, os investigadores conseguiram imagens do circuito de segurança da agência dos Correios de Portugal, de onde a correspondência foi enviada. Através do vídeo, descobriram que o autor foi Pablo Cardoso, embaixador radicado em Lisboa e ministro-conselheiro do Brasil junto à LP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Apesar de ter ocorrido no ano ado, a história foi revelada apenas nesta quarta-feira (19) pela coluna de Lauro Jardim, d’O Globo.

Pênis com asas foi apenas uma ‘pegadinha’ de embaixador 322g2o
Após ser descoberto, Cardoso revelou que tudo não ou de uma “pegadinha”. O motivo foi que, em uma sexta-feira, ele não queria ser atarefado com novas demandas e comentou com seus colegas em Lisboa que, se alguém o acionasse, iria fazer uma “brincadeirinha”.
Acontece que ele recebeu uma instrução da DSS e, para “se vingar”, enviou o pênis com asas para o chefe da divisão.
O que Cardoso não imaginava é que o trote iria parar nas mãos da Corregedoria do MRE e da Polícia Federal. Ao descobrir que a brincadeira havia ido longe demais, ele ligou para Ebner e revelou que era o autor da correspondência, explicando ser apenas uma “pegadinha infantil”. Ele chegou a pedir para o primeiro-secretário desisitir da representação, o que não aconteceu.
Em seu relato à Corregedoria, Ebner relatou que o ato, por ter sido feito por um colega de profissão em posição superior na hierarquia, deveria configurar assédio moral, quebra de decoro e preconceito. Ele qualificou o ato como não tendo “justificativa racional” e disse que o desenho lhe causou “constrangimento, angústia, temor e ansiedade”, fazendo-o se sentir ameaçado.

Embaixador que desenhou pênis com asas teve que termo de conduta 285q4h
O caso foi adiante dentro da Corregedoria do MRE e, em outubro de 2024, Cardoso assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que o impede de ter quaisquer comportamentos incompatíveis com o seu cargo durante 24 meses, sob risco de desligamento.
No entanto, ele não sofreu um PAD (Processo istrativo Disciplinar) da Corregedoria. A PF arquivou o caso por “falta de elementos para a consumação do delito de ameaça”.