Meu bairro é 10: Memórias e histórias do Centro de São José 2u325s

Região central da cidade tem casarões antigos, prédios do século ado e moradores que resguardam a cultura e as memórias locais 132a1f

Uma voltinha no quarteirão pela praça mais antiga da cidade leva o pensamento à uma sala de aula. A sensação é de estar folheando um livro de história.

Mas melhor que isso é ter as memórias do ado diante dos olhos. É bem o que acontece quando a gente se depara com os casarões antigos e prédios de séculos ados no Centro Histórico de São José.

O anfitrião do “Meu Bairro é 10” dessa vez é Osni Antônio Machado, pesquisador, nativo desse lugar que já foi o centro político do município.

“É um privilégio ver esse Centro preservado, porque hoje as cidades vão crescendo e a memória vai sumindo por conta do desenvolvimento”.

Centro Histórico de São José – Foto: Flavio Tin/NDCentro Histórico de São José – Foto: Flavio Tin/ND

O privilégio a que seu Osni se refere está na conservação de vários imóveis públicos e privados construídos há cerca de 200 anos. De quase todos eles há algo de importante a ser dito.

“A casa branca com janelas azuis, na avenida principal foi onde Dom Pedro 2º se hospedou em 1.845 em visita ao Sul do Brasil. Fica na esquina do museu.

Imigrantes açorianos 1s1j4y

O casarão que hoje guarda relíquias de São José foi construído por uma família de imigrantes açorianos, era comércio embaixo e residência em cima,” conta o pesquisador Osni Machado com orgulho do lugar onde vive.

O bom nesse eio é que tudo é perto, concentrado ao redor da pracinha, mesmo quarteirão da Igreja Matriz, que faz referência ao Santo que dá nome à cidade.

Dois dos imóveis considerados Patrimônio Histórico estão ando por reformas, que só devem ser concluídas em 2020. Um deles, de dois andares, abrigava homens da lei no piso superior e servia como cadeia na parte de baixo.

O uso do casarão, depois de concluído o trabalho, ainda não está definido. Diferente do imóvel vizinho que depois da reforma deve voltar a funcionar como uma casa de espetáculos. A construção, num tom amarelo ouro, é do antigo Teatro Municipal de São José.

“Essa obra é de 1854. É o primeiro imóvel construído em Santa Catarina para ser um Teatro Municipal,” conclui o pesquisador.

O conhecimento de seu Osni sobre os detalhes da cidade não tem tanto a ver com escola, mas sim com as longas conversas que tinha com o pai. Osni Machado é filho do historiador Antônio Machado, que morreu em 1988, deixando uma herança cultural não só pra família, mas para a comunidade toda.

Centro Histórico de São José ou por melhorias recentemente – Foto: Flavio Tin/NDCentro Histórico de São José ou por melhorias recentemente – Foto: Flavio Tin/ND

Arte nas veias i4s6v

Quem para em frente à igreja da praça central e desvia o olhar para o lado consegue ver no prédio da esquina uma grande janela envidraçada, que volta e meia está aberta. Lá dentro, sentado numa banqueta, um homem barbudo, muito conhecido na cidade, fixa os olhos numa tela e trabalha o pincel com se fosse um maestro.

Plínio Verani é o nome do artista plástico que sempre é convidado a resgatar memórias da cidade. Foi ele que fez o monumento de concreto moldado em frente à antiga Câmara Municipal, que homenageia as famílias de imigrantes vindas das ilhas açorianas.

O trabalho mais recente de Plínio pode ser visto no novo trapiche de São José. Em vez do cinza comum a esses lugares, o chão ganhou cores variadas, virou um que carrega a linha do tempo, de crescimento da cidade, que enche ele de orgulho.

“É muito importante não deixar que a história se apague, a preservação é fundamental, sem essa percepção não se tem uma amorosidade e uma compreensão do atual. A ampliação de consciência de uma comunidade a necessariamente pela valorização da sua memória,” diz o artista.

Plínio Verani é natural de Orleans, no Sul do Estado, mas ainda criança, com quatro anos de vida, veio com a família para São José, de onde nunca mais saiu. Nossa conversa com ele, na área de lazer próximo ao trapiche, foi interrompida várias vezes por tantos abraços que o artista recebe.

“Tenho muitos amigos, e essa relação se fortalece pela paixão em comum que temos pela grandeza de São José, especialmente pelo Centro Histórico, que ainda concentra uma energia e um significado muito grande para todos aqui”, conclui Plínio Verani.

Pescador de histórias 3t818

Foi num dia de calmaria que encontramos escorados na janela um simpático casal observando o movimento. A Carmem Lúcia e o Gilberto Gerlach, ela com cara de uma boa dona de casa e ele com uma vasta barba branca.

Nem de longe aria pela cabeça da equipe do “Meu Bairro é 10” que estávamos conversando ali com um casal que há 20 anos frequenta um dos festivais de cinema mais importantes do mundo.

Sim, todo mês de maio de cada ano, o Gilberto e a Lúcia se moldam em trajes finos e embarcam para a França. São convidados de honra no Festival Internacional de Cannes, pela linha cultural de trabalho que o Gilberto adotou.

O homem de barba branca, natural de São José, é engenheiro civil de formação, mas cineasta e escritor de coração. Gilberto Gerlach foi funcionário do Estado por 35 anos e atuava fazendo a divulgação do cinema de artes.

A ligação com o Festival de Cannes tem uma longa história que começou no ano de 1996. “Eu fui convidado a fazer parte de um júri no Festival de Cinema do Rio de Janeiro e lá no Rio estava o filho de um dos criadores do Festival de Cannes.

Houve na ocasião uma coincidência muito interessante nas avaliações dos filmes, tivemos opiniões muito semelhantes do início ao fim, linhas de pensamento afinadas, a partir daí nos tornamos amigos e fui convidado a ir a Cannes,” diz o cineasta, com a simplicidade de quem é convidado a ir à padaria tomar um café.

Gilberto Gerlach, que desde 2011 é membro da Academia Catarinense de Letras, fez recentemente um filme sobre a história de Blumenau. “Era para ser um curta metragem de 10 minutos, mas rendeu um longa, de 1h10, já foi lançado no CIC, nas cidades de Blumenau e Ibirama e está aguardando agora um circuito de exibição”, afirma.

Oleiro por paixão 422p72

São José, que já foi conhecida como a capital da louça de barro, hoje tem três olarias apenas em funcionamento. A tradição milenar perdeu espaço para a modernidade. No lugar da cerâmica estão o alumínio e o plástico tomando conta do mercado.

Para falar sobre esse tema batemos à porta da casa de Lourival Medeiros, um conservador dessa prática artesanal de fabricação de louças e utilitários.

“Perdemos muito espaço, produzíamos louça para toda região da Grande Florianópolis e até para Estados vizinhos, mas hoje há pouco o que fazer,” lamenta o oleiro. Foi essa reação de mercado também que levou Lourival a fazer uma curva no estilo da produção.

Hoje ele produz poucas peças utilitárias, investe mais no trabalho decorativo. É como fazer uma mudança da cozinha pra sala. Tem a ver também com a preferência dele de focar mais na veia artística.

“Eu me formei um oleiro justamente para manter a tradição, para permitir que isso não se acabe, por isso até estou ensinando outras pessoas fazendo do meu atelier uma espécie de escola”, diz Lourival.

Jeito pra ensinar ele descobriu que tem numa viagem que fez a Portugal. Envolvido num projeto cultural ele foi para o Arquipélago dos Açores para absorver mais conhecimento, mas ao chegar lá acabou participando de oficinas como professor.

“Foi uma surpresa interessante e muito prazerosa, você chega num lugar pra aprender e acaba ensinando, foi gratificante para mim,” se orgulha o professor.

Além de trabalhar na mesa de oleiro, Lourival Medeiros volta e meia ataca de roteirista. O trabalho mais recente foi um documentário que leva o nome “O Barro e a Canoa”.

O filme valoriza o trabalho dos oleiros e relaciona a função a vida dos pescadores, já que em tempos ados o transporte das peças era quase que todo feito em canoas.

Parabéns, senhora 6m1p1i

A visita mais prazerosa em toda essa caminhada pelo Centro Histórico de São José foi a casa de uma senhora que completou recentemente 102 anos. Encantadora é palavra que define essa mulher que por muito tempo frequentou o ”Beco da Carioca”, um cantinho do centro, preservado como patrimônio do município, perto de um rio onde as mulheres lavavam roupas até a década de 1970.

Dona Alcina Julia da Conceição, nascida em 1918, não foi só lavadeira de roupas de famílias ricas. “Fui também empregada doméstica, cuidadora de crianças, tiradeira de berbigão, faxineira e hoje vivo aqui sentada no meu cantinho, de vez em quando vem alguém me fazer algumas perguntas”, completa ela de olhos fechados, com a visão que hoje só percebe vultos.

O apelido dela nos tempos do “Beco da Carioca” era Baí. “Foi por causa de uma criança, que só me chamava assim, nem sei por que, era Baí para lá, Baí para cá, e aí pegou… revela sorrindo a simpática senhora. Aliás, que bom humor ela tem.

No meio da conversa perguntamos se a Baí ainda sai pela cidade para caminhar um pouco. Com ar de brincadeira diz ela: “Não posso não ‘meu fio’, menina nova não pode sair sozinha porque os gaviões atacam, afinal tô na flor da idade, a beira dos meus 18 anos”, fala ela em meio a uma suave riso. Foi assim que dona Alcina nos presenteou com alegria, foi especial essa visita, foi especial pegar nas mãos dedicadas a um século de trabalho. Isso sim é história viva no Centro Histórico de São José!

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