Tem coisas que só Palhoça guarda, ou melhor, mostra. Diferentemente de outras cidades da Grande Florianópolis alguns habitantes do município apresentam um costume curioso: manter animais de grande porte em frente às suas casas ou estabelecimentos comerciais. Quilos de fibra de vidro ou toneladas de concreto permitem que as espécies – algumas extintas há milhões de anos-, fiquem expostas e sirvam de cenário para fotografias de crianças e até adultos surpresos com girafas, cavalos ou dinossauros espalhados por ruas do Centro, Alto Aririú e Pagani.
Vantuir Gomes, 37 anos, pensava nos locais onde distribuiu currículos e na entrevista pela qual havia ado horas antes. A conquista de um emprego na Capital catarinense saiu abruptamente de seu pensar durante uma caminhada pela rua Jacob Weingartner, no Centro de Palhoça. Um cavalo marrom, sem corda, sobre a calçada o fez parar repentinamente. Para comprovar que seus olhos não o enganavam Gomes tirou os óculos de sol. Bastaram segundos para que a feição de espanto fosse desfeita por uma risada. “Na minha cidade tem cavalos por todo lado. Não tinha visto nenhum ainda por aqui”, disse o gaúcho de Dom Pedrito (RS), morador de Palhoça há dez dias. O animal está na frente da agropecuária da família Manini.
“Meu pai gosta muito de cavalos. Por isso ele contratou um artista plástico para fazer esse aqui”, explicou Daniel, Manini, 35, ao contar que frequentemente o equino de fibra de vibro é encilhado. O atendente do estabelecimento ressalta ainda que a diversão das crianças é tirar fotos montadas no animal que está ali há mais de cinco anos. Em tamanho real a escultura já foi pintada nas cores preto, branco e bege. “É só falar que fica na loja do cavalinho que clientes e entregadores já sabem onde fica”, brincou.
Cem metros separam a escultura da agropecuária do cavalo-marinho que decora a esquina onde está o restaurante da família Schütz. “Pensamos em colocar um siri, mas desistimos por acreditarmos que não ficaria bonito”, disse a proprietária, Arli Schütz, 51, ao confessar que a ideia deu certo e facilitou a identificação do local pelos clientes. “O cavalo-marinho caiu há algumas semanas após um temporal. Logo recuperamos e reforçamos a estrutura”, detalhou a mulher, ao contar que mesmo com o estabelecimento fechado as pessoas pedem para entrar no pátio para tirar fotos ao lado da escultura feita com ferro e alumínio. “Ele fica iluminado a noite. É o símbolo do restaurante há dez anos”, completa Arli.
Betão era fã da bicharada
Ao finalizar a construção do edifício África, Roberto Céu, o Betão espalhou pelo entorno da obra uma aranha, um sapo e uma garça. Todos foram depredados e por fim retirados do local. Sobraram então a girafa de mais de quatro metros de altura e uma serpente que parece deslizar sobre um muro. “Além dessa girafa ele fez outras duas que estão na Guarda do Embaú e no bairro Morretes”, contou o despachante Idelfonso Knabben, 60, sobre o animal que há mais de 10 anos ocupa a frente do prédio. Knabben lembra que a escultura é a atração da rua e que milhares de fotos já foram feitas por pais e mães a pedido das crianças. “Muitas nunca viram um exemplar de verdade por isso se encantam”, acredita. O despachante recorda que Betão fazia a manutenção constante da peça em concreto. No ano ado o artesão caiu ao enquanto concertava uma das orelhas da girafa. A queda rendeu traumatismo craniano.
A serpente sobre o muro é razão de piadas diárias. Como não é tão atrativa para as crianças quanto a girafa, ninguém se propõe a fazer fotos. “A cobra é cega. Ela vai comer os arinhos da gaiola. São essas e outras brincadeiras que ouço sempre”, disse Jackson Leonel, 40, dono da agropecuária que fica de frente para o réptil, na avenida prefeito Nelson Martins. Leonel recorda que Betão esculpia tocos de madeira trazidos pelo rio da Madre, na Guarda do Embaú. “Ele amava bichos. Sua morte foi uma perda lamentável”, observou. Betão morreu em março, vítima de câncer.
Um caranguejo, também de concreto decora a entrada da loja de tintas, na avenida Bom Jesus de Nazaré, no Aririú. O crustáceo chama a atenção, ainda mais porque é o símbolo da cidade de Palhoça. Fato que não agrada muitos palhocenses, devido ao crescimento rápido que o município experimenta. A peça do artesão e empresário, Valmir Walmor Schwinden, 55, não é nem de longe tão conhecida na cidade quanto é o tiranossauro construído por ele no bairro Alto Aririú, em 1982.
“Desde criança gosto de dinossauros. Então resolvi fazer um pra mim. Em 30 dias estava pronto”, contou Valmir Walmor Schwinden, 55, sobre a obra que fica do lado de fora do terreno de sua mãe. A escultura também é ponto de referência para os moradores além de atrativo fotográfico para as mais diversas idades. Valmir tem mais de 25 peças espalhadas por quatro Estados. Mas nenhuma delas supriu um desejo antigo, que é seu projeto atual: construir um Apatossouro em tamanho real, ou seja, com 27 metros de cumprimento por sete de altura. “Será um espaço para visitação de estudantes. A intenção é usar o interior do dinossauro para ensinar sobre as espécies extintas há milhões de anos”, almeja. A intenção é construir o exemplar na cidade de Leoberto Leal.
Um dinossauro mas dimensões pretendidas por Valmir é uma realidade no quintal do aposentado, Fernando Miranda, 63, desde 2009. Mas diferentemente das demais obras expostas pela cidade, o simpático Brontossauro em tamanho real não está à disposição dos curiosos. “Fiz pra mim. Para satisfazer minha vontade de ter meu próprio dinossauro”, disse sobre o capricho que custou quase R$ 200 mil. Metade dele valor foi gasto com mão de obra. Para concluir a obra, Miranda usou 20 toneladas de areia, 5 toneladas de ferro e mil metros quadrados de tela metálica. Também utilizou 200 sacas de cimento e 12 galões de tinta, de 18 litros. Dentro do brontossauro ele fez uma sala de 18m², com ar-condicionado, cama e banheiro. A obra tem 29 metros de cumprimento e 10 de altura. “Recebi várias propostas de compra desse imóvel. Tem construtoras que queriam deixar o dinossauro para servir de playground. Não quero! Se sair levo ele comigo”, completou.