Efeitos colaterais e reações adversas 63674q

Quando me perguntam se sofro de alguma doença, logo respondo: sim, sofro de efeitos colaterais e reações adversas. Efeitos colaterais, para alguns, são piores do que a própria doença que se quer curar. Para acabar com uma leve dor de cabeça, adquire-se um problema ainda maior: fígado, estômago, erupções na pele… Já houve um belo precedente: na época da Inquisição, jogava-se a pessoa na fogueira para curar os males da alma. Não sei o que você acha, ó leitor, mas prefiro uma boa dor de cabeça a ser queimado vivo. Questão de opinião.

Alguns anos atrás, fui acometido de pequena tontura, provavelmente pelo efeito da pressão, tinha regressado de uma viagem aérea. Aconselharam-me a consultar um médico. Fui ao consultório com aquela alegre disposição de quem já se acha à beira da morte. O médico me borrifou água nos ouvidos, me sacudiu bem a cabeça, como se faz quando a gente toma uma dose de tequila, e garantiu que eu estava com labirintite. Receitou três tipos de remédio para tomar durante o dia.

Segui religiosamente o recomendado, e os sintomas da doença, que não existiam antes, aram a se manifestar quando comecei a tomar os remédios: tonturas, zumbidos no ouvido, pressão na cabeça. Puxa, o diagnóstico do médico estava certo! Tive de deixar meu cargo de Caixa, visto que não conseguia baixar a cabeça para examinar qualquer documento e as diferenças de caixa começaram a me rondar. Quando resolvi largar os remédios fiquei bom.

No entanto, os maléficos efeitos colaterais não mais me abandonaram. De tanto serem bombardeadas com dilatadores, as artérias do meu cérebro ainda hoje se irritam a qualquer incentivo. Sua consequência mais catastrófica foi me tirar o prazer de degustar uma cerveja. Quase sempre, com o primeiro copo, aumenta a circulação frontal e a cabeça começa a pesar. Ao preencher algum formulário, no quesito “costuma beber” tenho que anotar: apenas socialmente. O que quer dizer quase nunca, pois não sou lá muito social.

Hoje sou cauteloso. Ao tomar remédio, leio antes a bula. Normalmente, existem duas linhas indicando os benefícios do remédio e duas páginas relacionando as reações adversas. Você escolhe o que prefere.

Aqueles que adoram ter uma doença para ficarem se gabando delas (Imagine o tamanho da minha hérnia! Meu cálculo renal devia ir para o Guiness Book!) devem, certamente, adquirir remédios só pelos efeitos colaterais.

Para esses, bula de remédio deveria vir com um alerta: cuidado, você corre o risco de ficar curado.

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