Com mais de 300 anos, conheça a história da primeira igreja de SC 66n2u

Construída pelos escravos com óleo de baleia, Santuário Nossa Senhora da Graça traz uma arquitetura que encanta turistas em São Francisco do Sul 693d6k

As torres amarelas se mesclam com o céu azul. De longe, é quase impossível não reparar na beleza e toda aura que emana do prédio que foi erguido há mais de 300 anos pelos escravos que habitaram a região da Baía da Babitonga, mais precisamente em São Francisco do Sul.

Imponente, histórica e curiosa, a igreja é mais antiga do Estado – Foto: Luana Amorim/NDImponente, histórica e curiosa, a igreja é mais antiga do Estado – Foto: Luana Amorim/ND

O Santuário Nossa Senhora da Graça, tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), é considerado o terceiro mais antigo do país. Mas sua história começou a ser formada muito antes da construção, em 1665.

Dos mares e ventos que moveram as caravelas durante o período das expedições, chegou em terra firme aquela que seria o motivo da fé e do carinhos dos francisquenses durante séculos.

A santa que “salvou” os tripulantes 3f4238

O ano era 1553. O Brasil já vinha sendo colonizado há décadas pelos portugueses, assim como a cidade do litoral catarinense. A época também era marcada pelas grandes expedições com as caravelas, as mesmas que trouxeram os portugueses ao país.

Entre as viagens, estavam os tripulantes do Bergantin La Concepcion, que vinha da Espanha com o objetivo de realizar uma expedição para povoar a região do Rio da Prata, da República Argentina. Porém, enquanto navegavam em águas brasileiras, uma tempestade surpreendeu o grupo.

“Quando eles estavam nas proximidades de Cananeia, no Litoral de São Paulo, veio uma tempestade muito grande. Nesta Caravela, assim como em todas as embarcações da época, eles traziam uma imagem. Nessa específica, estava a imagem de Nossa Senhora da Graça”, explica o diretor de patrimônio, Carlos José Pereira Lima, ou Kiko, como prefere ser chamado.

Imagem vinda com os espanhóis ganha lugar de destaque na Igreja – Foto: Luana Amorim/NDImagem vinda com os espanhóis ganha lugar de destaque na Igreja – Foto: Luana Amorim/ND

A tempestade atingiu a embarcação no meio da noite. Kiko conta que, por conta do medo, as famílias que estavam na caravela se reuniram em volta da imagem e começaram a fazer promessas e rezas com o intuito de espantar a chuva.

“Após essa reunião, não se sabe porque, se por obra divina ou coincidência, mas a tempestade ou. E eles tinham prometido que, se a tempestade asse, a primeira terra que avistassem eles construiriam uma capelinha e deixariam a imagem”, conta.

O grupo, então, seguiu viagem embalados pelo vento que batia sobre as velas e acabou aportando às margens da Baía da Babitonga. Foi ali que, com alguns pedaços de palha, foi construída a primeira capela que abrigou a imagem da santa até a construção da igreja.

Grande parte da estrutura original permanece intacta – Foto: Luana Amorim/NDGrande parte da estrutura original permanece intacta – Foto: Luana Amorim/ND

Feita com madeira espanhola, os olhos de cristal e detalhes em ouro, a imagem encanta turistas e moradores que iram a santa assim que entram no santuário. Segundo Kiko, historiadores afirmam que a estátua possui aproximadamente 546 anos, sendo a imagem mais antiga do país.

A imagem permanece no altar durante todo ano e apenas é retirada na festa em homenagem à padroeira, no dia 8 de setembro. Já nas demais celebrações, uma réplica é usada.

A construção da igreja 6m6i6r

Com o ar do tempo, a pequena capelinha que abrigava a imagem deu início ao processo de expansão da fé em território francisquense, com a construção de outras capelas.

Porém, já no fim do anos 1600, após uma decisão dos senhores de engenho que viviam na região na época, foi iniciada a gente construção do prédio, que atualmente, abriga, não só a padroeira, mas também séculos de história.

“A igreja foi toda construída pelos escravos com três elementos: pedra, cal e óleo de baleia. Na época, o óleo de baleia fazia a vez do cimento. Já o cal era feito com as conchas, como se fosse uma argamassa. Tudo depois era misturado ao óleo de baleia”, conta.

Ainda há no interior da igreja resquícios do revestimento original – Foto: Luana Amorim/NDAinda há no interior da igreja resquícios do revestimento original – Foto: Luana Amorim/ND

Inicialmente, o projeto original constava sem nenhuma torre. Porém no ar do ano, duas foram anexadas ao prédio.

“Logo após, foi erguida uma torre (que possui relógio). Depois, em 1940, foi construída a segunda”, explica.

Após anos de trabalho, a Santuário  foi inaugurado em 1665. No interior da Igreja, ainda é possível observar elementos que remontam daquela época, como a imagem fixada ao centro do altar e a via sacra, importada de Munique, na Alemanha, e que rodeia a igreja.

Outro espetáculo à parte são os detalhes. Grande parte das aplicações foi feita com folha de ouro, conta o diretor.

Padres enterrados e escravos excluídos: as histórias por trás das celebrações 255y3w

Padres enterrados, divisão na igreja e missa rezada de costas. Essas são algumas das histórias que as estruturas da igreja testemunharam com o ar dos anos. Histórias que até nos dias atuais ecoam na mente de Kiko e dos moradores de São Francisco do Sul.

Entre elas, está a forma com que as pessoas eram dividas nas celebrações. Kiko conta que a parte principal do altar era destinada aos barões e senhores de engenho, que acompanhavam as celebrações nos camarotes erguidos ao redor do altar.

“Enquanto eles não chegavam, o padre não podia celebrar a missa. Além disso, nós conservamos a mesa de comunhão em frente ao altar. Como as pessoas não podiam ar (para o altar), ali que acontecia a comunhão”, conta.

Já o povo “comum” se perfilava atrás do altar principal, enquanto os escravos,  responsáveis por erguer cada pedaço da igreja, viam a celebração do lado de fora.

Visão dos camarotes onde os senhores de engenho acompanhavam a celebração – Foto: Luana Amorim/NDVisão dos camarotes onde os senhores de engenho acompanhavam a celebração – Foto: Luana Amorim/ND

O prédio também guarda embaixo das suas estruturas os restos mortais dos padres que, por anos, atuaram na região de São Francisco. Como era um costume da época, após a morte, eles eram enterrados no interior da igreja.

“Toda Igreja, na época, era cemitério também. Quando eles morriam eram erguidas as tábuas e os corpos enterrados debaixo do altar. E assim acontecia por toda a igreja. Na parte do presbitério, eram sepultados autoridades civis, capitão mor e religiosos. Do arco cruzeiro ao corpo da igreja, o povo. Da porta pra rua, os escravos”, explica.

Além disso, em frente à própria Igreja, durante os tempos da escravidão, ficava o pelourinho, local onde os escravos eram açoitados.

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Algumas das histórias continuam eternizadas no local através do Museu Diocesano da Arte Sacra Pe. Antônio Nóbrega, localizado aos fundos do prédio. Inaugurado em maio de 2013, o local conta com um acervo de mais de 800 peças.

Entre os objetos, estão imagens centenárias, vestimentas e objetos usados nas antigas celebrações. O espaço é aberto ao público de terça a domingo, das 10h às 18h. O ingresso custa R$ 3.

Herança de família marcada para sempre nas paredes da Igreja 2s2h1u

A relação de Kiko com a história do prédio data-se de muito antes do seu nascimento. A família do diretor é uma das antigas da cidade e o nome de seus ancestrais se misturam às narrativas do prédio.

“Minha família é muito antiga daqui, família Nóbrega. Eu sou sobrinho-neto de um padre que está sepultado aqui, atrás do altar do museu. Ele foi pároco por aqui, por 50 anos. Minha mãe era sobrinha dele”, explica.

Antônio Nóbrega foi a primeira pessoa da família de Kiko a desembarcar na cidade. Ele atuou na cidade durante 50 anos, local onde permaneceu até os últimos dias de vida.

“Ele foi um padre que fez muito pela cidade, sempre trabalhando muito pelo povo e pela igreja”, conta.

O carinho com o prédio e a dedicação do ancestral ao longo dos anos ultraou gerações e permanece até hoje na família. Kiko é um deles. O diretor cresceu dentro da Igreja e acompanhou nos últimos anos todas as mudanças e as reformas ao prédio.

Padres eram enterrados no interior da igreja – Foto: Luana Amorim/NDPadres eram enterrados no interior da igreja – Foto: Luana Amorim/ND

“Fui uma das pessoas que ajudaram a guardar essas peças expostas no museu. Eu tinha uns 13 anos, e trazia escondido para não darem, e colocava dentro de um baú. Ninguém sabia, não contava para ninguém. Quando montaram o museu, me perguntaram se eu sabia das peças e eu apontei pro baú”, relembra.

A dedicação é tanta que hoje o diretor patrimônio tem o nome eternizado nas paredes com uma sala do Museu dedicada especialmente a ele.

“Eu não sabia da homenagem. No dia que inauguraram o museu, me perguntaram se eu ia, porque queriam fazer surpresa. Quando eu cheguei, eles falaram ‘agora vamos inaugurar a sala do Kiko’. Eu fiquei espantado, sem reação mesmo”, conta.

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