Viralizou, para usar um termo bastante atual, a recente decisão de um juiz do interior de Sergipe que negou pedido de indenização da família de um aluno contra o professor que lhe tomou o celular em sala de aula. A mãe do garoto, como todas as mães, achou que o filho era santo e pleiteou reparação por danos morais, diante do “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional” do pimpolho – como se ouvir música, alheado a tudo, enquanto os colegas estudam, fosse um comportamento defensável.
Com um linguajar comum aos de sua estirpe, o magistrado declarou: “Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contraeducação, as novelas, os reality shows, a ostentação, o ‘bullying intelectivo’, o ócio improdutivo, enfim, a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo as vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”.
Ao dizer que se tornou “um carma” o que já foi considerado um sacerdócio, o juiz dá a entender que leu, na mesma semana em que ou o pito na mãe, no filho e em muita gente que também o merecia, reportagem mostrando como a Coreia do Sul deu um salto na economia pela via da educação. Em meio a rankings que embasam esse fato, uma coisa chama a atenção: mais de 40% dos coreanos afirmaram que encorajariam seus filhos a seguirem a carreira de professor. Coincidência ou não, pesquisa a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que 12,5% dos mestres brasileiros se dizem vítimas de agressões verbais por alunos ao menos uma vez por semana. Na Coreia, esse índice é zero.
Na contramão do magistrado sergipano, lembro do juiz da Grande Florianópolis que obrigou uma escola pública a aceitar um aluno delinquente porque não achava justo deixá-lo preso, adolescente que era, se poderia estar numa sala de aula. Até aí, a medida parecia baseada no bom senso. Só que havia um porém: o jovem era matador de aluguel. Certamente, o filho do magistrado estudava no outro lado da cidade.
Em outra escola, após cada festa para arrecadar fundos – sim, elas precisam comprar o que o Estado não dá – ocorre um arrombamento para levar o dinheiro recolhido no evento. Os autores são ex-alunos, e a polícia conhece os seus nomes.
É por essas e outras que a decisão do juiz de Sergipe se espalhou pela internet e foi lida com satisfação, na frente dos alunos, em muitas escolas do país.