
Quando ainda era Andréa Abreu (o pessoal da moda a chama assim até hoje), perto dos 16 anos, ela procurou a agência de André Sielski, na Capital, para se tornar modelo. Pouco depois, com a FBF Models, de Blumenau, a carreira engrenou pelo Estado, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1996, em Florianópolis, entrou como booker na antiga Mix Mega Model, de Valmor de Oliveira, com quem trabalhou até se mudar, em 2000, para o Rio, onde atuou com nomes de projeção nacional.
De volta à Ilha, em 2009, retomou à atividade aos poucos. Casada há 25 anos com Marcos Damiani, que a conheceu modelando, mãe de Arthur (20) e de Pedro (14), hoje, Andréa Damiani mantém uma agência 100% virtual, descobre talentos, dá cursos e representa o concurso The Look of The Year em Santa Catarina. Tem sob seus cuidados mais de cem modelos em diferentes regiões do Brasil.

Que grifes e eventos nacionais de moda participaste como modelo?
Fazíamos convenções para Hering, Sulfabril, Malwee, Colcci, Lycra, inclusive esta última, na Semana de Moda de São Paulo, quando não existia ainda o SPFW (São Paulo Fashion Week). Todos os Beiramar Fashion; semana de moda, em Blumenau; Mercado Mundo Mix, em São Paulo. Desfilei também já quando booker e já mãe, uma vez no Rio, para uma estilista, junto com Camila Pitanga. Fiz campanha para Paddock, Dopping, entre outras.

Fizeste algo no ou para o exterior?
Não, meu pai era contra e, logo em seguida, conheci o Marcos, que hoje é meu marido, e virei booker.

Em 1996, aste a ser agenciada pelo fotógrafo Valmor de Oliveira na antiga Mix Mega Model, uma das agências mais procuradas em Santa Catarina. Como foi a tua experiência lá?
Comecei dando aulas de arela com ele, que me colocou na mesa, e a esposa dele na época, Olga Marinho, me ensinou tudo. Até hoje, trabalho com isso graças aos seus ensinamentos. Em 1999, Walmor se juntou ao francês Michel Vinal e abriram a Marilyn, onde fiquei até me mudar para o Rio de Janeiro.
Como foi a tua adaptação no Rio?
Acho que já sabiam que eu estava me mudando para lá. Acho que a Mega de Santa Catarina, São Paulo comunicaram à Mega Rio. E, assim, outras também souberam e me chamaram para fazer entrevista.
Fui primeiro na Mega Models, pois Sérgio Mattos era diretor, e eu sempre o irei muito. Foi amor à primeira vista. Cheguei e ele já me colocou sentada na mesa de booker, sem conhecer ninguém da equipe ou os modelos. Lá, foi minha melhor fase de trabalho.
Fiz 11 edições de Fashion Rio, onde pude ter uma experiência incrível com superprofissionais. Fechei trabalhos com [os fotógrafos] Patrick Demarchelier, Mario Testino, fechei campanhas para Vivo, Oi, Kibon, Bloomingdale’s, lançamento do perfume da JLo [Jennifer Lopez], GQ, etc.

Alguns modelos, hoje famosos, descobertos ou agenciados por ti?
Álvaro Jacomossi (Blumenau/Florianópolis), Michelli Provensi (Maravilha), apostas minhas, e que deslancharam: Rodrigo Hilbert (Orleans), Cauã Reymond, José Loreto, Ana Hickmann, Renata Maciel (Florianópolis), Paulo Zulu, Renata Kuerten (Braço do Norte), Cassiana Mallmann.
Voltaste a morar em Florianópolis em 2009, já casada, com dois filhos e ficaste um tempo afastada das atividades. Como foi a retomada do trabalho?
Sim, voltamos do Rio forçados, no auge da minha carreira profissional. Mas, infelizmente, a violência carioca nos alcançou, e não tinha como morar lá com dois filhos, um de seis meses. A volta foi traumática, triste e muito mais decepcionante quando vi que em vez de me acolherem, como foi no Rio, deram as costas para mim.
Cesinha [Cesar Moreira Filho], que tinha a Mega Model SC, me chamou para trabalhar, mas era inviável em questões de salário, comparado ao que eu ganhava no Rio, e não valia a pena. Resolvi me dar um tempo e esperar os filhos crescerem para retomar. Fiquei durante esse período dando aulas de arela.

E depois?
Em 2015, Norton Flores, empresário de São Paulo, me procurou pela indicação do Sérgio Mattos para representar o concurso da agência Way, o Amend Fashion Team. Aceitei, e foi um evento incrível, de grande responsabilidade, onde eu pré-selecionava todas as candidatas de Santa Catarina. Organizei a final no IL Campanario Villaggio Resort, em Jurerê Internacional, durando um fim de semana, com as finalistas e convidados.
Com isso, me chamaram para a final de São Paulo, onde fui responsável pelas finalistas nacionais, durante uma semana, com um incrível e megaevento, vários convidados ilustres e celebridades. Ali foi o pontapé inicial para me tornar scouter [olheira] e descobrir talentos.
Em 2017, a agência Joy de São Paulo me convidou para trabalhar no The Look Of The Year, famoso concurso mundial de modelos, que até hoje represento em Santa Catarina.
Com a pandemia, me pus a refletir sobre toda essa caminhada, e percebi que tinha muita gente boa que, às vezes, não fazia carreira nacional, mas poderia fazer regional. Com isso, abri uma agência totalmente digital, podendo assim trabalhar os modelos aqui em Santa Catarina e também descobrir e preparar novos talentos para fora. Hoje, tenho modelos em todo Brasil, para quem faço gerenciamento de carreira, e também um agente internacional que projeta as modelos para fora do país.

Como scouter, o que buscas nas pessoas que podem vir a ser modelos? O que te dá o alerta?
A personalidade, a atitude e a segurança. Eu consigo ver a pessoa crua lá na frente, pronta. Um brilho.
Que tipos humanos as agências e o mercado da moda e publicitário pedem?
Varia com a época. Hoje, o mercado está mais aberto a novas possibilidades. Na minha agência, procuro por esse diferencial, e aposto nele. Tem dado certo.

Tens atração por pessoas consideradas fora do padrão. O que te faz apostar nelas?
Tenho. Acho que tem lugar para todos. Não é a beleza padrão que embeleza as pessoas e, sim, a sua energia, um brilho no olhar, a vontade de mostrar a que veio, o orgulho de ser quem ela é, independentemente da beleza externa. Lógico que tudo no seu limite. Mas já tiveram pessoas lindas, que não me aram nada e não aprovei.
Mas sempre falo para elas: “não desista se é realmente isso que você quer. Eu posso ter não visto algo que outra agência pode ver. Cada agência tem um olhar”. Hoje, no meu casting, tenho indígenas, cadeirantes, gente fora do padrão, com cicatrizes, etc… Etnias e o diferente é o que mais procuro, pretos, asiáticos, albinos, gente que se ame.

Ser modelo é um sonho bastante comum, principalmente entre os mais jovens, porém, em boa parte das vezes, não se tem os atributos necessários. O contrário também é corriqueiro?
Hoje, a maioria quer ser. Apesar de trabalhar neste meio há mais de 20 anos, sofro na hora de dizer não. Talvez, porque já fui modelo, sou mãe também e sei como é frustrante ser reprovado. Mas com minha experiência em todos os lados, tento ser o mais humana e transparente possível. Não quero iludir ninguém, sou muito sincera. E sobre pessoas ideais não quererem saber da profissão ou não confiarem no seu trabalho e irem com quem você sabe que não vai cuidar como você, dói. É triste ver uma possível modelo de sucesso recuar.

Por que optaste em ter uma agência virtual? No futuro poderá necessitar de espaço físico?
Não podia ficar parada, e o mundo pedia isso. Acho que foi a decisão certa, e que, provavelmente, será o futuro das agências. Os castings, creio, continuarão sendo digitais. Só precisamos que tudo [pandemia] acabe para poder ter mais trabalhos. Creio que vou precisar de um espaço físico, um escritório pelo menos, pois busco trazer uma bandeira para se juntar comigo.
Além de modelo, instrutora, scouter, coordenas no Estado o The Look of The Year, um concurso internacional para descobrir talentos. Qual a diferença em descobrir um novo rosto em um evento deste e na rua?
A diferença é que quem participa quer ser modelo, e sabe quem você é. Já abordar na rua, com tanta agência falcatrua, os deixa inseguros, e muitos nem modelos querem ser. Então, é muito mais fácil receber um belo NÃO.

As redes sociais são vitrines para muitas pessoas que vivem da imagem, não necessariamente modelos, e que vêm absorvendo uma fatia da publicidade. Sentes alguma mudança na tua atividade?
Muita!!!! As influencers estão tomando conta. Por isso, trabalho com influencers também. Nas redes sociais, os clientes entram em contato pelo Direct com as modelos ou quem ainda nem é, e oferecem trabalho. Só que, como as modelos não têm ideia de como funciona, trabalham de graça, só para aparecer ou por roupa ou com cachês ridículos, o que dificulta bastante o trabalho das agências.
