Mais uma vez, a barreira de areia da Prefeitura de Florianópolis para evitar o contato do rio do Brás com a praia de Canasvieiras rompeu. Nas duas vezes anteriores, a chuva se encarregou disso e reconectou o rio poluído ao mar. Na última sexta-feira (23), entretanto, a ação foi dos moradores de Cachoeira do Bom Jesus e Canasvieiras, indignados com alagamentos.

Eles acreditam que se o rio fica trancado, o transbordamento ocorre nas suas ruas e casas. Entre eles, é consenso: a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) é a responsável pelo problema. O órgão nega e responsabiliza a prefeitura. Esta, por sua vez, anunciou uma série de medidas, na segunda-feira (26), para mitigar o problema.
Conforme o secretário-adjunto do Meio Ambiente de Florianópolis, Lucas Arruda, boa parte de Canasvieiras possui rede coletora de esgoto, mas essa rede precisa de manutenção. Há mais de 30 anos isso não é feito. “A manutenção inicia hoje e acreditamos que pode tirar um pouco de pressão desse caminho que a água da chuva estava procurando. Vamos desobstruir para liberar o fluxo e deixar a água andar, como foi projetado”, explicou Arruda.
No entendimento do secretário, dois fatores poluem o Brás: “As pessoas que se ligam [à rede] de maneira inadequada [esse número não é tão grande segundo ele] e as estações de bombeamento de esgoto da Casan. Por isso, o prefeito determinou que a Aresc [Agência Reguladora do Estado de Santa Catarina] e os técnicos da secretaria do Meio Ambiente façam uma perícia nelas”, indicou Arruda.

O secretário-adjunto lembrou ainda da ação civil pública do MPF (Ministério Público Federal) contra a Casan sobre o caso e que, mesmo a prefeitura não sendo parte no processo, vai tentar agir.
“Demos alternativas ao prefeito de revitalização do Brás, mas ele entendeu que precisa de autorização do MPF para executar”, ressaltou Arruda. Uma das ideias que mais agradou ao prefeito Topázio Neto (PSD) é a construção de um sistema de dutos ligando mar e rio e garantindo o fluxo de água para reoxigenar o rio.
Procurada, a Casan se manifestou em nota, afirmando que possui quatro bombas instaladas em Canasvieiras, duas em funcionamento e duas reservas.
Conforme o órgão, Canasvieiras tem 96% de cobertura de esgoto, além de dois emissários que fazem esgotamento da elevatória para a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), também funcionando normalmente, segundo a Casan.

“No Brás, a Casan tem instalada uma Ura (Unidade de Recuperação Ambiental), que opera dentro dos padrões ambientais. As principais ruas de Canasvieiras têm problemas na drenagem pluvial, que é de responsabilidade da prefeitura. Durante as chuvas, as redes coletoras de esgoto são utilizadas para drenar água de forma indevida. Portanto, quando chove, a vazão da elevatória, que deveria ser apenas de esgoto doméstico, recebe uma carga enorme das águas de chuva, sobrecarregando o sistema da Casan.”
Rio poluído em contato com o mar 52584v
Ontem, o Jornal ND foi novamente ao ponto de contato entre o rio do Brás e a praia de Canasvieiras. Nas ocasiões anteriores, após o rompimento natural pela chuva, a Defesa Civil orientou a prefeitura a fechar a conexão por uma questão de saúde pública. Ontem, após a abertura pelas comunidades, o órgão recomendou 48 horas de observação para definir o que fazer a partir de amanhã, ou de quinta-feira (29).
Segundo o pescador Augusto Klingelfus, 49 anos, a abertura não foi trabalho de um autor, mas das pessoas prejudicadas por enchentes, sobretudo na Cachoeira.
“Estamos a favor dessas pessoas. A nascente do Brás está lá no morro da Cachoeira e, fechando aqui e tendo o excesso de chuva, transborda nas ruas na Cachoeira”, frisou Augusto. “Fecharam novamente [o rio] e as casas lá debaixo d’água. É uma sacanagem!”, completou.

Um dos que batalha pela revitalização do Brás, Klingelfus lamentou ao ver crianças tomando banho justamente no ponto de conexão entre a praia e o rio poluído. “Não custaria a Defesa Civil estar aqui na praia anunciando esse problema e pedindo para as pessoas evitarem de tomar banho numa água totalmente poluída”, disse o pescador.
Morador da Cachoeira, Eliel João Pereira, 50 anos, é mais um indignado. Ele assistiu, com outros amigos da comunidade, à retirada de sacas de areia numa das conexões entre um canal do rio Papaquara com o Brás, na avenida Luiz Boiteux Piazza.
“Resolvemos agir. No domingo à noite, fiquei até 4h da manhã tirando água da minha casa, com minha mulher e meus filhos. Para alguns vizinhos, mesma situação”, lamentou Eliel. Ele estava num grupo com cerca de 20 pessoas que se mobilizaram para retirar as sacas.

A prefeitura desaprovou a ação. “Ali é um dos pontos que estava puxando água do Papaquara para sair pelo Brás, algo indesejado, porque traz a poluição do Papaquara para o Brás”, explicou Arruda. “Esse foi um primeiro ponto identificado e era um manejo de drenagem”, completou.