A remoção do lodo das águas da Beira-mar Norte, em Florianópolis, é necessária para devolver a saúde para a Baía Norte. Mas o procedimento exige um trabalho minucioso e cuidadoso, alerta o professor Paulo Horta, do Departamento de Botânica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
“O material é difícil de manejar e tem contaminantes preocupantes por conta da toxicidade”, destaca Horta. “É uma bomba que não sabemos o tamanho”.

O material lodoso é formado por diversas substâncias químicas que foram se acumulando no fundo ao curso de décadas. “Tudo o que a gente faz no nosso território vai pro mar. O lodo não é inerte, mas sim um conjunto de substâncias“, explica o pesquisador.
Dentre as substâncias há metais pesados, prejudiciais à saúde de animais e seres humanos; além de elementos orgânicos. Dentre eles concentrações significativas de nutrientes, como nitrogênio e fósforo – cujo desequilíbrio pode resultar na floração de algas.
Por meio de uma série de mergulhos, Horta identificou que o lodo da Baía Norte é formado por duas fases: a primeira é uma camada chamada de “coloidal”, formada por partículas finas difíceis de capturar. Ela recobre a segunda camada, composta pelos poluentes sólidos.
Não há saída confortável: se ignorarmos o problema, é possível que os eventos extremos provocados pela emergência climática “retirem” esses sedimentos do fundo do mar e distribuam pelas praias da Ilha de Santa Catarina, ressalta Horta, que atua no projeto Ecoando Sustentabilidade. A iniciativa conta com duas ações na região.
Por outro lado suspender os materiais sem maiores cuidados, por meio de uma dragagem por exemplo, pode “fazer com que eles [os poluentes viagem para além da Beira-mar Norte”, acredita o pesquisador. “Há risco de contaminação para áreas de maricultura em Santo Antônio de Lisboa e regiões de pesca artesanal”, ilustra.
“Primeiro precisamos de um grande diagnóstico. Aquilo não pode ficar lá eternamente”, destaca. O professor acredita que a instalação de um ‘filtro biológico’ é uma das soluções para a área. A iniciativa prevê a limpeza das águas com o auxílio de algas verdes.
A reportagem tentou contato com a Floram (Fundação do Meio Ambiente de Florianópolis), mas o órgão não retornou até o fechamento. O IMA (Instituto do Meio Ambiente) não quis se manifestar.