
Quando o assunto é reciclagem, em Chapecó, muita gente lembra do Seu Adão. Adão Francisco dos Santos há mais de 30 anos é catador de materiais, líder e entusiasta da causa da sustentabilidade e do cooperativismo. Assim como ele, outras centenas de pessoas sobrevivem da atividade. São pessoas de todas as idades. Na Associação dos Recicladores Raio de Luz – Amarluz, na qual Adão é presidente, a mais jovem é a Esllania dos Santos.
Esllania tem 19 anos e trabalha como catadora há cinco anos. “Vim por interesse e necessidade. Entendo o material, sei separar na esteira, sei trabalhar em grupo, sei fazer o fardo para despachar, sei um pouco de tudo dentro da reciclagem”, conta a jovem. Ela trabalha oito horas por dia. O horário é fixo, mas a remuneração, não: “ dá um salário mínimo, às vezes dá menos, não tem como saber porque é por produção. Mas dá para sobreviver”.
Quem poderia melhorar o salário e a vida da Esllania e das outras 410 famílias que vivem nas associações de catadores somos todos nós. Quanto mais separamos e destinamos corretamente os resíduos, mais eles chegam em boas condições e geram mais renda para esses trabalhadores. Infelizmente, ainda há muito descaso com este processo. Muita gente, por falta de conhecimento, descarta tudo no material reciclável. Tudo mesmo: “ galinha, animais, injeção, que é perigoso. Tem que andar sempre de luva, que a gente se corta bastante no vidro, em lata , em ferro, tem que andar se cuidando bastante, se proteger”.
Mas, será que há proteção para a ignorância humana? Esllania conta que existe bastante preconceito, “na rua, eles enxergam a gente suja, né? Dão risada, olham com cara feia, acham que somos moradores de rua, essas coisas”.
“Essas coisas” que a jovem cita é que ferem de verdade. Adão, 71 anos, que o diga. Nessas três décadas de profissão, já enfrentou de tudo. Ainda mais para quem largou a agricultura, no município de Seara, e veio tentar a vida em Chapecó. Ele conta que a reciclagem foi a única oportunidade que encontrou e foi como sempre conseguiu sustentar sua família. Esllania é neta dele e um dos motivos de sempre pensar no futuro.
O presidente da associação lembra que a situação já melhorou bastante: “ deu pra gente sentir já algum avanço, mas eu queria deixar aqui o meu apelo, aquelas pessoas que ainda não estão fazendo essa separação adequada, para que se engajassem nessa luta de bem separar porque melhora o nosso trabalho, e a nossa qualidade de trabalho melhora a cidade.
Fazer a separação correta exige um pouco de conhecimento e treino para se adaptar à rotina. Na reportagem que está neste link, nós mostramos como deve ser a separação correta. Uma dica é: o que não pode ser reaproveitado vai para o orgânico – como os resíduos molhados e sujos. Para as associações de catadores só deveria ir material reciclável. Mas a realidade é bem diferente: “ vem resto de comida, fralda de pessoas adultas, acamadas, de crianças. É imensidão de fralda, comida, resto de frutas que vêm dos restaurantes e lanchonetes, casca de frutas, é um problema geral!”
É só você imaginar: juntamente com os materiais que eles precisam para separar e vender (papel, plástico, metal, vidro…) vir junto e compactado pelos caminhões, resíduos orgânicos, que apodrecem. O forte odor e a insalubridade que vêm dessa mistura é impossível de imaginar.
Os resíduos que as associações recebem vem de toda a cidade trazidos pelos caminhões da empresa contratada pela prefeitura. Além dos materiais, as associações ganham incentivos para investir em equipamentos e participar de projetos sociais que dão mais condições de trabalho. As 16 associações de Chapecó estão organizadas legalmente, têm estatuto, CNPJ, emitem nota fiscal .
Em 2021 foi aprovada uma nova legislação para reger, também, o trabalho dos catadores autônomos. A gerente de saneamento da Secretaria de Infraestrutura, Graciela Heckler, explica que são cerca de 140 cadastrados: “Nós estamos também fazendo esse cadastro das famílias autônomas, que realizam esse trabalho e que não estão vinculadas às associações. Mas, sempre reforçando que o trabalho da reciclagem autônoma só é permitido no município desde que não haja concentração de resíduos orgânicos”. Ou seja, eles só podem atuar em áreas pré estabelecidas, onde não existem contêineres, que representa 62% da cidade. Os veículos que fazem este recolhimento precisam usar um adesivo de identificação. Quem estiver irregular pode ser multado.
Seja nas associações ou na coleta autônoma, todo o resíduo recolhido e separado por esses profissionais é vendido ou para atravessadores, ou diretamente para a indústria que vai reciclar o material. Os catadores lucram mais com os plásticos PET, vendidos, em média, a R$ 2,80 o quilo. O papelão e o papel branco são vendidos a R$ 0,50 o quilo e a caixinha que continha leite a R$ 0,20 o quilo.
Então, antes de descartar seus materiais no lixo, lembre-se que ele compõe o salário e a sobrevivência de muitas famílias, além de que não devem ir para o meio ambiente. O sistema de coleta e reciclagem está evoluindo e precisa da colaboração de todos. Por uma Chapecó mais limpa e sustentável, pelo sustento de milhares de pessoas.