“Tinha consciência e sabia o que estava fazendo”. Esse é o parecer do médico psiquiatra e assistente técnico do MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) quando se trata da alegação de insanidade mental do acusado pela chacina na creche Pró-Infância Aquarela em Saudades, no Oeste de Santa Catarina.
O assistente técnico foi mais uma das testemunhas ouvidas durante a tarde desta quarta-feira (9) no julgamento do acusado, no Fórum de Pinhalzinho.

Conforme o TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), até o momento foram ouvidas três vítimas, duas testemunhas de acusação, uma presencial e outra online e uma testemunha de defesa de forma online.
O médico psiquiatra falou sobre o planejamento de longo prazo do crime e como isso demonstrou consciência do réu.
Segundo ele, o fato do acusado ter planejado detalhe por detalhe da chacina demonstra que ele tinha plena capacidade e consciência do que estava fazendo. Esse foi o parecer do profissional enquanto assistente técnico que atuou nas investigações.
A testemunha falou sobre a memória seletiva e enfatizou que isso não tem relação com a esquizofrenia paranoica, ou seja, e se rapaz realmente tivesse esquizofrenia paranoica, não teria a memória seletiva.

Ele então apontou como possibilidade é ele tem síndrome de ganser, que faz com que ele apresente respostas sem nexo enquanto tem memória preservada de alguns fatos.
O assistente técnico ainda falou sobre a dependência do acusado com relação a jogos eletrônicos e online e a ouvir vozes. As hipóteses foram descartadas por ele. Em uma conversa com uma tia do acusado, o médico psiquiatra percebeu dificuldade nas relações sociais do rapaz desde a infância.
Portanto, alegou que o nível de esquizofrenia que o acusado possui, que seria a esquizofrenia diferenciada, diz respeito às relações pessoais, falta de responsabilidade com o trabalho e falta de maturidade que se espera de uma pessoa com a idade que ele tem.
Acrescentou, também, que essa negligência com essas relações e obrigações é o que caracteriza esse tipo de esquizofrenia. Conforme a testemunha, esse aspecto não teria afetado o entendimento dele com relação aos atos.
O ND+ não irá publicar fotos do rosto do assassino, tampouco destacar o nome dele ao longo da cobertura. Também não irá mostrar o rosto das vítimas. A decisão editorial foi feita em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), além de não compactuar com o protagonismo de criminosos.
O dia da chacina 1s4e11
O pacato município de Saudades, distante a 42 km de Chapecó, nunca mais foi o mesmo depois do fatídico 4 de maio de 2021, quando a creche Pró-Infância Aquarela foi alvo do ataque brutal de um jovem de 18 anos.
Armado com uma espécie de espada, o rapaz invadiu a escola de educação infantil e matou três bebês, com idades até 1 ano e 9 meses, uma agente educacional, de 20 anos, e uma professora, de 30. A chacina completou dois anos em maio de 2023 e teve repercussão internacional.
Conforme a Polícia Civil, o jovem — que morava na cidade — dirigiu-se de bicicleta à creche, localizada na área urbana do município. Ao entrar no local, começou a atacar a professora que, embora ferida, correu para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola, na tentativa de alertar sobre o perigo.
O rapaz atacou, então, as crianças que estavam na sala e a funcionária. Duas meninas de menos de dois anos e a professora que sofreu o ataque inicial, morreram no local. Outra criança e a funcionária morreram depois no hospital.
Após a chacina, o jovem deu golpes contra si e foi internado. O acusado teve a prisão preventiva decretada no dia 5 de maio de 2021, um dia após o crime, e responde processo por cinco homicídios qualificados, por motivo torpe, cruel e em ação que impossibilitou a defesa das vítimas.
Além disso, é réu por 14 tentativas de homicídio. Ele recebeu alta no dia 12 de maio e foi levado ao Presídio em Chapecó, onde permaneceu preso até a data do júri. Segundo a investigação da Polícia Civil, o jovem planejou o crime e tinha consciência do que estava fazendo quando invadiu a creche.

O delegado Jerônimo Marçal Ferreira, responsável pela investigação do caso, informou, à época da chacina, que o acusado confessou o crime. Marçal ainda disse que a agente educacional e a professora foram heroínas ao impedir que o jovem fosse para outras salas, conseguindo com êxito, mesmo que feridas, evitar o pior.
Durante a investigação, que contou até com o apoio da Embaixada dos Estados Unidos, mais de 20 pessoas foram ouvidas, tendo o próprio acusado prestado depoimento no dia 10 de maio, enquanto ainda estava internado, sob custódia policial, no Hospital Regional do Oeste, em Chapecó. A polícia também apreendeu aparelhos eletrônicos e dispositivos pertencentes ao jovem.
No dia 14 de maio de 2021, os delegados realizaram uma coletiva de imprensa após o fim do inquérito, detalhando, entre outras coisas, que o jovem teria escolhido a creche pela fragilidade das vítimas, que tinha plena consciência do que fez e que foi um crime premeditado durante 10 meses.
Os relatórios dos dados e das informações encontradas nos aparelhos eletrônicos do réu demonstram que, durante o período em que planejou o ataque, ele participou de fóruns de discussão na internet sobre crimes violentos e pesquisou serial killers.
Exame de insanidade mental foi negado 39575k
A defesa do acusado pediu exame de insanidade mental, mas a Justiça negou três pedidos nos dias 25 de maio, 23 de junho e 7 de julho de 2021.
No dia 5 de agosto, durante uma audiência online, o juiz decidiu ouvir o jovem presencialmente. No dia 24 do mesmo mês, durante a oitiva do acusado, o advogado de defesa apresentou um laudo particular e o juiz Caio Lemgruber Taborda deferiu o pedido para a realização do exame de insanidade mental, o qual foi realizado pela Polícia Científica de Blumenau.
O laudo foi concluído no dia 19 de outubro de 2021 e o juiz solicitou mais detalhes ao perito. A partir disso, o juiz decidiu no dia 2 de fevereiro de 2022 que a questão da insanidade mental será definida no júri.
No dia 7 de fevereiro a defesa questionou em primeira instância a decisão e pediu um novo exame de insanidade mental. O pedido foi negado. Em 1º de maio a defesa entrou com novo recurso pedindo um novo laudo, a Justiça negou a solicitação no dia 28 de junho.
No dia 11 de outubro, o juiz decidiu que o caso iria para juro popular no dia 9 de agosto.