O motoboy Lindberg Sobrinho presenciou o acidente que matou o também motoboy e diretor da bateria da Escola de Samba Copa Lord, Paulo Ricardo Patrício. O acidente ocorreu por volta das 22h de quinta-feira (15), no Itacorubi, em Florianópolis, quando o motorista Carlos Tadeu Tavares cortou a frente de Paulo na SC-404.
Às 22h04 a testemunha chamou os Bombeiros e, na sua versão, Tavares, apresentava sinais de embriaguez. “Estava com muito cheiro de cachaça e não deixamos ele sair até a polícia chegar”, relatou Lindberg.

Segundo a testemunha, Tavares, que é pai do ex-lutador de UFC Thiago Tavares, queria entrar na Edu Vieira e Paulo Ricardo vinha com a moto no sentido contrário.
“O motorista do carro entrou de uma vez, bateu de frente, perdeu o controle e foi parar no muro. Parei, fui até o motoboy, tentei falar com ele. Perguntei o nome, mas ele não respondeu, só suspirou”, conta.
Tavares pagou fiança de R$ 3,3 mil e deixou o Presídio da Capital onde estava detido desde a noite de quinta, quando atingiu a motocicleta de Paulo.
Após audiência de custódia, na tarde de sexta-feira (16), a juíza Andrea Studer, da 5ª Vara Criminal da Capital liberou o motorista do carro para responder pelo crime de trânsito em liberdade.
Tavares se recusou a fazer o bafômetro e, pelo registro da PMRv (Polícia Militar Rodoviária), não apresentava sinais de embriaguez. Além de motoboy e diretor de bateria da Escola de samba Copa Lord, Paulo trabalhava como barbeiro de dia.
Segundo Maureci Horácio de Maria, membro antigo da Copa, a perda é irreparável. “Estávamos preparando ele para, futuramente, comandar a bateria. Uma pessoa muito correta, respeitador. Um baluarte na bateria, perda lamentável”, disse Maureci no velório de Paulo, na sexta-feira.

Paulo planejava ser pai 19v15
Centenas de pessoas estiveram na despedida de Paulo Ricardo Patrício. Familiares, amigos, membros da Copa Lord em peso, e outros motoboys deram adeus ao rapaz, que tinha 31 anos. O velório foi no Cemitério do Itacorubi, misturando tristeza e revolta pela sensação de impunidade.

O mestre de bateria da escola de samba, Diego Cunha, conheceu Paulinho, como era chamado, há cinco anos, antes da Copa Lord: “Era um cara inenarrável, disputado pelos amigos”, disse Diego. Ele soube da morte de Paulinho por outro amigo. “Falei com a esposa dele, a Fernanda. Está muito mal. Não tinham filhos, mas estavam planejando. Era o sonho dele”, conta o amigo.
Segundo Diego, além do samba, Paulinho gostava muito de moto, trilha e dos amigos. “Ele era barbeiro, trabalhava o dia todo e, à noite, fazia entrega para complementar a renda”.

Após perder o amigo, Diego está revoltado com a impunidade: “No Brasil, funciona da forma mais conveniente para quem está por cima. Somos a classe mais baixa e pagamos o pato e a irresponsabilidade de muita gente. Se fosse um pai de família, negro, que tivesse feito isso sem querer, estaria preso”, lamentou Diego.