Foi condenado a 16 anos, nove meses e 18 dias de prisão, em regime fechado, o homem que assassinou brutalmente e depois carbonizou a jovem Mauriceia Estraich, com 22 anos na época do crime. O homicídio ocorreu em março de 2021 no município de Descanso, no Extremo-Oeste de Santa Catarina. O julgamento ocorreu em Chapecó.

O conselho de sentença, formado, por sorteio, por duas mulheres e cinco homens, reconheceu as qualificadoras de motivo fútil, emprego de fogo e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Os jurados afastaram a qualificadora de feminicídio. O agressor teve ainda negado o direito de recorrer em liberdade.
O julgamento, que se estendeu por oito horas, foi conduzido pelo juiz da 2ª Vara Criminal da comarca de Chapecó, André Milani. O júri ocorreu em fórum adverso da comarca de origem do processo a pedido da defesa, que foi acolhido pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina e determinou a comarca vizinha para realizar a sessão. Amigos e familiares da vítima acompanharam todo o julgamento.
Interrogatório 3b6o2c
Após ouvir os depoimentos de três testemunhas, o réu abdicou do direito de ficar em silêncio. Diferente das demais versões contadas ao longo do processo, o agressor surpreendeu até mesmo os advogados de defesa ao dizer que pretendia incendiar a casa para evitar que o pai e outro irmão se mudassem para a residência do casal nos próximos dias.
Como era madrugada, segundo ele, a vítima acordou com os latidos do cachorro e o encontrou tentando colocar fogo em sacos de cimento, já dentro da casa. Mauriceia pegou uma faca e ele, ao tentar retirar a arma, acabou ferindo a mão. Lesão que, primeiramente, havia sido causada ao quebrar o vidro do carro que estava na garagem da residência, para retirar o veículo e salvar o bem.

O autor do crime contou que quando a vítima ameaçou chamar a polícia, ele estrangulou a moça com as próprias mãos, e não se utilizando de um golpe “mata-leão”, como versão anterior. Acreditando que a mulher estava sem vida, considerou cometer suicídio para evitar a prisão. Assim, abriu todas as bocas do fogão, sentou no sofá e ateou fogo no móvel.
Com o desconforto da inalação da fumaça, resolveu fugir usando roupas limpas do irmão que ali morava com a intenção de despistar o envolvimento no fato. Ainda em interrogatório, o réu disse que o desentendimento com a cunhada era pela influência que ele exercia sobre os irmãos para o consumo de drogas e que, inclusive, estava sob efeito de entorpecentes no momento do crime.
Relembre o crime 3zc37
A jovem Mauriceia Estraich morreu carbonizada na casa onde morava com o companheiro no loteamento Novo Horizonte, em Descanso. A casa de aproximadamente 60 m² foi atingida pelo fogo na manhã do domingo, 28 de março.

Ainda no dia do incêndio, a polícia ouviu sete pessoas próximas de Mauriceia. O principal suspeito era o cunhado de Mauriceia, um jovem de 24 anos, que confessou o crime. “Ele confessou, parcialmente, a prática do crime mediante a presença de um advogado”, disse o delegado responsável pela investigação, Cléverson Luis Müller, na época do crime.
Conforme o delegado, o jovem disse que sabia que Mauriceia estava sozinha em casa no dia do crime e decidiu ir até lá. “Bateu na porta, foi atendido por ela e a segurou com as mãos no pescoço, evitando que ela gritasse. Na sequência, aplicou dois golpes ‘mata-leão’, o que fez com que ela caísse ao chão”, relatou.
Müller informou que o suspeito disse que acreditou que a cunhada já estivesse morta e ateou fogo nela e na casa. Ele ainda teria alegado que estava sob efeito de drogas. “Ele não definiu nenhum motivo para a prática, não soube explicar a razão que o motivou a fazer aquilo”.
Porém, as investigações apontaram que a principal motivação do crime foi o fato do cunhado de Mauriceia ter ficado sem lugar para morar. “A família do companheiro dela iria morar por um período na casa do casal, mas Mauriceia não aceitou que o cunhado fosse porque em outros momentos teria ‘dado em cima’ dela. Esse motivo fútil que resultou na morte dela”, relatou o delegado.
Gasolina deu início ao incêndio 43c2e
A investigação identificou que o incêndio começou às 5h54 da manhã do domingo, dia 28 de março, e que o cunhado de Mauriceia teve condições de chegar na casa 20 minutos antes.
A perícia feita na casa revelou que o foco inicial do incêndio foi justamente o local em que Mauriceia foi encontrada morta, próximo a uma porta de o à garagem.
“Exames laboratoriais demonstraram e comprovaram que foi usado gasolina. O suspeito não confirmou o uso do combustível, mas acreditamos que essa versão busca apenas o afastamento de algumas qualificadoras do crime”, reforçou o delegado.
Vizinhos não escutaram gritos ou pedidos de socorro e o jovem teria utilizado de dissimulação para que ela abrisse a porta sem causar barulho. “Em razão do seu porte físico e sua rápida ação, ele também utilizou do recurso que dificultou a defesa dela. Por fim, pelo grau de parentesco foi indiciado pelo feminicídio, com a qualificadora pelo uso do fogo”, pontuou o delegado.
O companheiro de Mauriceia, conforme a investigação, não teve nenhuma participação no crime. Ele estava com o irmão antes da morte dela, por isso o suspeito sabia que a vítima estaria sozinha em casa.