Há seis meses um movimento popular chamado RioTavibes está se organizando para transformar o bairro Rio Tavares, no Sul da Ilha de Santa Catarina, em um local mais agradável para a comunidade.
Através de encontros e reuniões, abre-se um espaço de diálogo entre moradores, profissionais liberais, escolas, conselho comunitário e empresários locais. O objetivo é a melhoria da qualidade de vida, preservação ambiental e afirmação cultural – que tem a ver com a tradição dos engenhos de farinha, pesca, renda de bilro e vocação gastronômica locais.

Liderados por um grupo de arquitetos, o movimento faz um diagnóstico do que falta para tornar o espaço público mais qualificado e sugere intervenções a serem feitas na Rodovia Dr. Antonio Luiz de Moura Gonzaga (SC-406), que liga o Elevado do Rio Tavares à Avenida Osni Ortiga, no o à Lagoa da Conceição.
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O bairro, que já vem sendo citado como um dos mais descolados de Florianópolis, atrai gente de várias especialidades e interesses. São estudantes, empresários, profissionais liberais e esportistas de renome nacional como os surfistas Yago Dora, Adriano de Souza, Ian e Fábio Gouveia e Matheus Herdy; e os skatistas Pedro Barros, Isadora Pacheco, Emily Antunes e outros. Porém, faltam espaços públicos para a prática do skate, o que ajudaria a democratizar o esporte e incentivaria seu uso como meio de locomoção.
A localidade também reúne boa gastronomia, proximidade com belos recursos naturais (como a Lagoa Pequena e a praia do Campeche) e um estilo de vida mais despojado, ligado à natureza e ao bem-estar. Portanto, nada mais justo do que tentar evitar seu crescimento desordenado e implementar melhorias enquanto ainda há tempo e espaço disponível.

Adicionalmente, o RioTavibes também se conecta às três esferas de poder ao tratar do meio ambiente (que envolve área de restinga junto à praia, rio, mangue e a Mata Atlântica do Maciço da Costeira), de uma rodovia estadual e de intervenções que envolvem o plano diretor do município.
ONU Habitat Brasil 141560
A proposta foi abraçada pelo IAB/SC (Instituto de Arquitetos do Brasil/Departamento de Santa Catarina) e aprovada para integrar o da ONU Habitat Brasil, no Circuito Urbano 2019. O evento será realizado dentro do Multi Open Shopping no próximo dia 19, como uma oficina de urbanismo participativo para levantar ideias novas.
Um dos profissionais que organiza essa participação é o arquiteto Harnnon Cordeiro Cardoso, que coordena o Movimento RioTavibes. “O encontro vai funcionar como um brainstorming coletivo, onde crianças e adultos, especialistas ou não, se reúnem em equipes multidisciplinares para analisar e definir o que querem em determinados espaços do bairro”, explica Harnnon.
Em outro evento marcado para 2 de novembro, chamado Esse lixo é uma arte, 12 contentores cedidos pela Comcap (Autarquia de Melhoramentos da Capital) serão grafitados por artistas locais. Eles interpretarão alguns contos de Franklin Cascaes e as lixeiras serão colocadas ao longo da SC-406 posteriormente para sensibilizar os moradores sobre o projeto.
Diagnóstico e planejamento 5i301l
Segundo estudo feito em março de 2015 pelo Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis) 6.581 veículos aram pela Rodovia Dr. Antonio Luiz de Moura Gonzaga, no entroncamento com a Rua Laurindo J. da Silveira e Servidão D. Hortência, em um dia de semana. A contagem incluiu automóveis, motocicletas, bicicletas, veículos de transporte coletivo e caminhões. Já em um dia de fim de semana, o número caiu para 4.880 veículos.

De olho nesse fluxo, os arquitetos que participam do Movimento RioTavibes se preocupam com o aumento de tráfego na rodovia, ainda mais depois da inauguração do novo aeroporto da Capital. Tal proximidade com o novo terminal põe em destaque a SC-406 como rota de o a universidades e à Lagoa da Conceição, sem a necessidade de ar pelo centro da cidade, tornando mais urgentes questões de segurança e conforto para os usuários.
“Esse é o momento ideal para pensar sobre o que queremos para o bairro no futuro. A intenção é qualificar a SC-406 como via urbana, com recuos estratégicos para evitar estacionamentos sobre calçadas e acostamentos. Também precisamos de espaços para a circulação de pedestres e ciclistas, com ciclovias e calçadas adequadas”, diz o arquiteto e urbanista Angelo Arruda, coordenador do Grupo de Trabalho Estudos Urbanos do IAB/SC.
Problemas e soluções 3e406e
Além do maior fluxo de pessoas e veículos, a análise colaborativa revelou a inexistência de calçadas, ciclovias, arborização, lixeiras e mobiliário urbano. Para facilitar o trabalho, o grupo dividiu a rodovia em trechos e definiu o intervalo entre o Multi Open Shopping e o Hiper Select Supermercado como o primeiro recorte a ser abordado.
Ali, apenas três faixas de pedestres estão disponíveis; há servidões estreitas com tráfego em mão dupla; pontos de ônibus sem calçada e em frente à saída de estacionamento; depósito de lixo em local inadequado e carros estacionados em lugares que atrapalham a mobilidade.

Com isso em mente, algumas ações foram apontadas para começar a reurbanização. Entre elas, pinturas e parklets (miniparques ou espaços de convivência, comumente equipados com mobiliário móvel, palcos, lixeiras, estacionamento de bicicletas e até wi-fi).
Na sequência, viria a reurbanização de toda a rodovia Dr. Antônio Luiz Moura Gonzaga com a colocação de calçadas, pontos de ônibus e lixeiras. Por fim, o projeto prevê a criação de um parque linear no corredor ecológico entre o morro do Maciço da Costeira (Mata Atlântica), o rio Tavares e o mar (restinga), com áreas para pedestres e ciclistas, além de agens para os animais silvestres.
Miami e São Paulo são referências 3k373e
“Várias cidades instalaram deques que ajudam a preservar a natureza e ainda permitem a circulação de pessoas para desfrutar de ambientes que necessitam ser preservados”, cita Angelo.
“Também é importante que esses caminhos sejam íveis para cadeirantes e que unifiquem algumas ‘trilhas’ existentes hoje no o à praia”, completa Harnnon. O coordenador do Movimento cita ainda algumas referências de urbanismo tático que servem de inspiração para o grupo, como o distrito criativo Wynwood Walls, em Miami, nos Estados Unidos, e a travessa
Beco do Batman, em São Paulo. Ambos são espaços onde painéis e grafites unem arte urbana e gastronomia.

Paralelamente, os arquitetos fazem pesquisa de legislação, programas e fundos que possam dar e e recursos para a intervenção (leis de incentivo à cultura, Política municipal de arte pública, editais, Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano), numa fase posterior de execução do projeto.
O amplo diálogo pera ainda as três esferas de poder: federal, estadual e municipal. Isso porque as intervenções propostas atingem uma rodovia estadual e mexem com o plano diretor do município. “Por isso procuramos trazer o poder público para o debate, envolvendo órgãos como o Ipuf e instituições como a UFSC”, aponta Harnnon.