Diariamente, dentro ou fora da temporada de verão, longas filas se formam para entrar e sair de Florianópolis. Mas para além dos horários de pico, basta um pequeno acidente ou um problema técnico em algum automóvel, para o trânsito parar e o congestionamento se formar no o à Ilha, travando motoristas, ônibus, caminhões e outros veículos.

O problema não é novidade, pois se trata de um contorno viário altamente sensível a qualquer desordem. “Quando você tem ruas paralelas, se uma via der problema, há outra opção para recorrer.
Porém, não é o caso de Florianópolis. Na Ilha, temos o sistema viário no formato de espinha de peixe, em que há uma espinha principal e várias ruas tem saída nela.
Se a espinha do meio dá um problema, seja na Via Expressa, na SC-401 ou na SC 403, tudo para”, explica o professor Elson Pereira, especialista em Planejamento e Desenvolvimento Urbano.
Quem mora em São José, Biguaçu ou Palhoça e deseja entrar ou sair da Ilha, sabe que precisa se deslocar com pelo menos 1h30 de antecedência para não se atrasar, a depender do ponto que deseja se locomover e do tipo de transporte.
A falta de alternativas para deslocamento na entrada e saída, associado às características físicas e áreas de concentração da cidade, faz com que todo o fluxo de veículos se concentre nas pontes Colombo Salles, Pedro Ivo e também na Hercílio Luz, reaberta para circulação de veículos no final de 2019.
Novo contorno Viário deve reduzir fluxo de cargas na entrada da Ilha, mas pode comprometer trânsito na Grande Florianópolis 3j103c
Um dos aspectos associados às filas e congestionamento na entrada e saída de Florianópolis, é o transporte de cargas e veículos pesados da BR-101, que am pela região metropolitana da capital.

Para resolver o problema, está em construção desde 2008 a maior obra viária em andamento no Brasil, do Contorno Viário na Grande Florianópolis.
A nova rodovia terá 50 quilômetros, ando pelos municípios de Governador Celso Ramos, Biguaçu, São José e Palhoça, e pretende desafogar o trânsito na entrada da cidade.
Contudo, especialistas contestam o real impacto da obra, cuja entrega foi adiada mais uma vez no final do ano ado, com previsão de finalização em julho de 2024.
Para o professor aposentado e doutor em Engenharia Civil, Roberto Oliveira, “quando o Contorno Viário ficar pronto, o fluxo de automóveis vai ser muito mais intenso, podendo gerar uma situação ainda pior do que agora”.
Em entrevista ao ND em 2023, o secretário executivo da Câmara de Transporte e Logística da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Egídio Martorano, afirmou que “o Contorno Viário não é a solução para o problema do congestionamento na Grande Florianópolis, pois exige um planejamento sistêmico integrado, que a pela melhoria de qualidade e eficiência do transporte público”.
Transporte público e descentralização dos serviços podem desafogar trânsito na entrada de Florianópolis 5w170
O volume crescente de veículos individuais, associado ao intenso fluxo de pessoas na Ilha para trabalhar ou buscar serviços, bem como a falta de planejamento urbano e o desmonte dos órgãos técnicos locais, são outros aspectos que provocam a falta de mobilidade.
Na visão do professor Roberto Oliveira, que também fez parte de várias discussões sobre planejamento urbano na cidade, novas obras e empreendimentos deveriam ser alocados fora da Ilha, distribuindo melhor os serviços de saúde, educação, bem como ofertas de emprego.
Transporte coletivo atrativo e faixas exclusivas de ônibus 4an2p
Cada ônibus pode tirar de circulação centenas de carros por dia das ruas, reduzindo as filas e acidentes de trânsito.
No entanto, para o transporte coletivo ser de fato atrativo, é preciso criar corredores exclusivos, para que os ônibus não disputem espaço com os carros e haja maior previsibilidade do tempo percorrido, sem intercorrências no caminho.
Mas é importante destacar que não basta ter apenas uma faixa exclusiva nas pontes, por exemplo, para agilizar o transporte coletivo na entrada e saída da cidade, se logo depois o caminho para o ônibus não tiver uma continuidade.
Por isso, a cidade deve ser repensada completamente para ampliar as vias de o exclusivo para ônibus, tornando o deslocamento mais ágil, sem filas, com maior previsibilidade de tempo e redução da poluição.
Outro aspecto importante é a ampliação do número de veículos coletivos, rotas e horários disponíveis. Com a superlotação de algumas rotas nos horários de pico, é comum que pessoas não consigam entrar nos ônibus e ter que esperar por mais de 40 minutos pelo próximo.
Além disso, várias rotas que ligam o Continente à Ilha tem limitações de horários nos finais de semana e depois das 20h durante a semana, como a linha Chico Mendes. Na prática, para uma pessoa trocar o uso do automóvel individual pelo ônibus, é preciso oferecer outras vantagens.
BRT e corredores exclusivos 104lu
Há mais de 10 anos, o Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis), desenvolveu uma série de estudos técnicos sobre o tema, e mapeou que considerando o tempo de viagem, custos com acidentes, impacto ambiental e custos operacionais.

A solução mais interessante para melhorar a mobilidade em Florianópolis seria a adoção do BRT (Ônibus de Transporte Rápido) — mesmo modelo aplicado em Curitiba, com vias exclusivas, ônibus rápidos e estações para pagamento antecipado.
Na época do estudo, o custo estimado para implantação da rede completa de transporte público, com 87 km de linhas troncais de média/alta capacidade, foi de R$1,23 bilhões. Contudo, não houve nenhum investimento para a implantação do modal na cidade.
Já o metrô, precisaria de uma densidade demográfica muito maior, que justificasse os custos exorbitantes para construção. Cada quilômetro do metrô custa em média R$750 milhões para implantação.
O mesmo vale para o metrô de superfície. Embora seja mais barato, o custo gira em torno de R$350 milhões por quilômetro para construção, ou seja, apenas 10 quilômetros custariam mais de R$3 bilhões.
Recentemente, circulou nas redes sociais um projeto de sistema metroviário sem embasamento técnico. Porém, o modelo desconsidera os custos elevados e a real necessidade de tráfego para o município.
Transporte Marítimo 1w6i24
No final de 2023, foi lançada na Alesc a Frente Parlamentar para a Implantação do Transporte Marítimo na Grande Florianópolis. O modelo é discutido há anos, afinal, Florianópolis é uma Ilha, com áreas que ficam de frente para a região continental, mas que hoje exigem o deslocamento viário, causando filas na região central.
A construção de balsa, ferry-boats ou ainda outros meios marítimos, exige alto investimento, estudos de impacto, e vontade política dos municípios e Governo do Estado.
Para o professor Elson Pereira, o transporte hidroviário é um importante complemento, porém, não resolverá todo o problema de mobilidade, uma vez que a população não está concentrada nas regiões consideradas hoje para a implantação.
Para além do transporte marítimo, será necessário repensar o trânsito e vias locais próximas, que podem vir a receber esse novo fluxo de automóveis, cargas e pedestres.
Como outras cidades buscaram resolver problemas de mobilidade 1z3a1e
Com o crescimento no número de veículos individuais, a necessidade e o direito de ir e vir, cidades do mundo inteiro buscam solucionar os problemas de congestionamento e mobilidade, integrando diferentes ações e modais de serviço.
Curitiba (PR): com mais de 2 milhões de habitantes, o transporte coletivo da capital paranaense é referência mundial. Em 1970, a cidade foi pioneira ao implantar os Ônibus de Transporte Rápido, o BRT (Bus Rapid Transit, em inglês), com um sistema de faixa exclusiva que atravessa a cidade.
O planejamento urbano acompanha o esquema viário, com a construção de prédios comerciais e residenciais próximos às estações-tubo e trajeto dos ônibus, garantindo que as pessoas não precisem utilizar o transporte individual para o deslocamento.
Uma diferença importante, além da via exclusiva, é a cobrança antecipada nas “estações-tudo”, que garante a velocidade no embarque e desembarque dos ageiros.
Santos (SP): construída há mais de 100 anos, a Balsa que liga Santos à Guarujá, no litoral de São Paulo, é considerada a maior do mundo com uma média diária de 14 mil veículos transportados.
Em 2023, o volume diário médio (VDM) registrado na travessia foi de 252 pedestres, 7.772 ciclistas, 14.072 veículos e 9.980 motos.
O trajeto tem 400 metros, sendo percorrido entre 5 a 7 minutos, ligando a Ilha de Guarujá à Santos. Já o caminho pela rodovia leva 44 minutos, com 57 quilômetros. Medellín (Colômbia): segunda maior cidade da Colômbia, Medellín se tornou exemplo mundial no transporte público integrado, sustentável e eficiente.
A cidade, com mais de 2,5 milhões e meio de habitantes, possui diferentes modais de transporte, com quase 2000 bicicletas públicas gratuitas, teleféricos com o às comunidades, metrôs, ônibus e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que juntos garantem maior fluidez no trânsito e agilidade para o deslocamento.
Dunquerque (França): desde 2018, a cidade sa com mais de 200 mil habitantes, oferece e livre nos ônibus para moradores e turistas. A eliminação da tarifa impulsionou o uso do transporte coletivo, que registrou um crescimento semanal de 60%, e o dobro nos finais de semana, com quase 50 mil viagens diárias. O e livre visa reduzir também as emissões de carbono e impulsionar o deslocamento nas cida