A invisibilidade do trabalho do cuidado foi o tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano. Juliana Leonel, embaixadora do “Parent in Science“, movimento que busca maior inclusão de mães na academia, defende remuneração e aposentadoria para quem realiza os trabalhos do lar.
A pesquisadora aponta que a raiz do problema surge na concepção de que o homem é o provedor fora do lar, enquanto a mulher é responsável pela manutenção do ambiente doméstico, sem ser reconhecida por seu trabalho.
“O cuidado de casa não é reconhecido como trabalho. Tanto que não há uma remuneração”, afirma a pesquisadora.

A especialista também chama atenção para a “sobrecarga mental” resultante do planejamento e gestão contínua do lar, sublinhando que, por ser um trabalho não reconhecido, geralmente não se concede férias às mulheres que desempenham essas funções.
“O cuidado é um trabalho que não tem folga. Por ser um trabalho invisível, ninguém dá férias para a mãe. E isso pode levar à exaustão”, afirma Leonel.
A pesquisadora também comenta sobre a desvalorização do trabalho feminino, que reflete na diferença de oportunidades. “Tem ainda o empregador que não contrata mulheres porque elas engravidam ou têm filhos”, lembra.

Políticas Públicas para cuidadoras 5q704v
Leonel reforça a necessidade de políticas públicas que assegurem justiça e igualdade no trabalho doméstico. A pesquisadora defende o pagamento de um salário para as cuidadoras que se dedicam exclusivamente a este trabalho, com um valor econômico que esteja alinhado ao mercado.
Além disso, sugere a criação de leis que garantam direitos como a aposentadoria para as cuidadoras, inspirando-se no exemplo da Argentina, que em 2021 reconheceu o direito à aposentadoria para mães dedicadas ao cuidado dos filhos.
De acordo com Leonel, também é importante a criação de uma legislação que garanta flexibilidade por parte dos empregadores em relação a responsabilidades parentais, como licenças para cuidados infantis.
“Os empregadores precisam ter uma maleabilidade com relação a isso. Eles não vão ter isso de livre e espontânea vontade. Precisa ser regulado por lei”.