Experimentar o mundo como conhecemos é um privilégio que nem todos podem desfrutar. Por conta de algumas deficiências, incluindo aquelas que afetam a visão, muitos precisam descobrir uma nova forma de viver, adequando tarefas e situações. Para que o processo seja prazeroso, a Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC), no bairro Saco Grande, é uma das instituições parceiras da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, responsável por oferecer atendimento às pessoas cegas.

Com o objetivo de atender crianças, adolescentes, jovens e adultos, o projeto é pautado na orientação e mobilidade dos indivíduos, levando em consideração as dificuldades de cada um e o caminho que deve ser trilhado para que a inclusão aconteça.
Isso porque a organização oferece atendimento para pessoas cegas e com baixa visão, além de orientar aqueles que já nasceram com a deficiência e quem acaba sendo acometido ao longo da vida.
As diferenças são fundamentais para compreender e planejar a vivência de cada um, possibilitando a participação nas atividades e a troca de experiências.
“O importante aqui é que a pessoa vai estar com outras pessoas, vai conviver com outras pessoas nas mesmas condições dela ou piores que ela, aí vai começar a entender que não existe plano B, é aquilo ou aquilo. Ele vai aprender a ser cego”, explica o presidente Henrique Sales Rosica.
Para proporcionar o entendimento dos ambientes e a percepção do que está ao redor, um dos desafios é instigar os sentidos, e o professor da oficina de orientação e mobilidade, Igormar Zucchi, menciona a importância da audição em uma travessia de rua.
“Entender a quantidade de carros que am, a velocidade que eles estão ando, se é mão única, se é mão dupla e se tem uma sinaleira sonora”, conta o profissional.
O educador explica que, no momento em que alguém guia uma pessoa cega, por exemplo, existem diversas informações que são readas pela condução, pela forma como o outro está caminhando ou mexendo o braço — técnica chamada de guia vidente, que facilita a comunicação. É possível saber até mesmo a altura de um degrau, tudo graças ao movimento correto.
Com os ouvidos aguçados, os participantes também aprendem o uso da bengala, noção de espaço e equilíbrio. Braille, soroban, informática adaptada, natação, atletismo, jiu-jitsu, teatro, artesanato, cerâmica e pintura são outras possibilidades que podem ser exploradas, como no caso de Fábio Luiz Santos Carioca, 41, que descobriu a dança como possibilidade, a partir do olhar da professora.
Tudo começou durante um alongamento, quando o dançarino moveu o tronco e os braços no ritmo da música. Foi aí que a professora fez o convite para dançar. “Minha primeira aparição foi no dia do aniversário da instituição, em 2011.”
Atendimento para crianças e adolescentes 442t2r
No caso dos mais novos, os atendimentos são realizados do zero aos 14 anos. Ao chegar à instituição, o primeiro o é conhecer a criança e o adolescente, entendendo quais são as potencialidades e necessidades. O processo é pensado de forma individual, levando em consideração as singularidades.
Com o intuito de promover a inclusão, a família é convidada a participar do processo. Cada vivência com os professores é única, com atendimento direcionado.
A visita dos responsáveis é importante para entender que o trabalho desenvolvido na ACIC precisa ter continuidade em casa. No caso em que um bebê cego chega à instituição, o foco é estimular a habilitação, preparando a criança para ingressar no ensino regular na idade adequada.
Quando a opção é o oposto e a visão foi perdida com o tempo, o trabalho é outro. O objetivo é a reabilitação, ensinando e orientando as tarefas do dia a dia, incentivando a independência e a realização de atividades que fazem parte da rotina de qualquer pessoa, como andar de ônibus.
Cada canto da ACIC é pensado para a pessoa cega. Com o uso de marcações no chão, nas paredes e música nos corredores, eles aprendem em quais salas estão acontecendo as oficinas, como andar pelo espaço e a importância dos detalhes na comunicação com o mundo.
Mudando destinos 6h5043
Se alguns descobriram uma paixão, existem aqueles que vieram de longe em busca do conhecimento. Prova disso é Jasmine Wacholz Chaves, 22, que saiu de Massaranduba junto com a mãe em busca de oportunidades. Entre 2008 e 2017, a ACIC foi uma parada obrigatória para a jovem, que agora cursa a graduação em psicologia.
Mesmo longe das oficinas, a garota é conhecida pelos professores e colaboradores. “Geralmente o mundo não está preparado para receber pessoas com alguma deficiência, para incluir essas pessoas”, diz a estudante, que fez da Capital a sua casa.
Espaço aberto para a comunidade 4r3y
Além dos atendimentos direcionados, outro espaço conhecido é a biblioteca. Isso porque o espaço é aberto ao público, com diversas opções de livros e histórias, trabalhando a imaginação com os diferentes gêneros textuais.
Mais do que fazer a leitura no ambiente, os visitantes podem levar as publicações para casa. Pensando no uso comum, os livros são classificados com uma etiqueta em braile, facilitando a organização. Com as prateleiras recheadas de opções, o público também pode usar os computadores para fazer pesquisas.
A busca por direitos 2p4x2c
Ainda que a garantia de alguns direitos seja assegurada pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), ainda existem algumas barreiras. As dificuldades arquitetônicas e a falta de informação, por exemplo, são alguns dos empecilhos.
Na trajetória da pessoa cega, além das dificuldades exteriores, é preciso encarar aquilo que vem de dentro. “É muito difícil a reabilitação se a pessoa não aceita a condição dela hoje. Então tem todo um trabalho com psicólogos, assistentes sociais, porque não são só as pessoas, é preciso envolver a família também. Para muitos é uma situação nova e a família não sabe como lidar com isso”, menciona o presidente Henrique Sales Rosica.