Após pressão dos pais, um livro infantil do escritor e cartunista Ziraldo foi suspenso nas escolas de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, pela Secretaria Municipal de Educação. As famílias dos alunos consideraram o conteúdo agressivo.

O livro “O menino marrom”, lançado por Ziraldo, em 1986, narra a amizade entre um garoto negro e um branco. Os dois investigam o mistério das cores e aprendem sobre a diversidade racial e o respeito.
Dois pontos da obra revoltaram os pais dos alunos em Conselheiro Lafaiete, que alegaram que o livro induziria as crianças a “fazer maldade”.
Em um trecho, o “menino marrom” se oferece para ajudar uma senhora a atravessar a rua, mas é rejeitado por ela com rispidez.

As crianças então assistem à idosa ar e o “menino cor-de-rosa” pergunta: “Por que você vem todo dia ver a velhinha atravessar a rua?”, ao que o “menino marrom” responde: “Eu quero ver ela ser atropelada”.
Em outra agem do livro de Ziraldo, os garotos decidem fazer um pacto de sangue para selar sua amizade. No entanto, eles não têm coragem de se ferir e acabam firmando o pacto com tinta azul em um papel.

A Secretaria Municipal de Educação suspendeu temporariamente as atividades sobre “O menino marrom” nas escolas na quarta-feira (19). Em nota nas redes sociais, a pasta lamentou as interpretações dúbias e defendeu a relevância da obra.
“O livro é um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade. Utilizando uma linguagem simples e ilustrações atraentes, Ziraldo consegue envolver as crianças e facilitar a compreensão de conceitos complexos como racismo e empatia”, esclarece o órgão.
Ziraldo morreu em abril, aos 91 anos 6o3h1c

Ziraldo Alves Pinto moldou uma geração com histórias infantis dotadas de sensibilidade e consciência social. Ele foi o criador do “Menino Maluquinho”, famoso personagem da literatura brasileira, em 1980.
O chargista mineiro foi um dos fundadores do jornal “O Pasquim”, ao fim da década de 1960, que se caracterizou pela oposição ao regime militar. Ele chegou a ser preso três vezes após a publicação do AI-5.

Em 2008, Ziraldo e outros jornalistas perseguidos pela ditadura tiveram sua anistia aprovada pelo Ministério da Justiça. O escritor foi indenizado pelo Estado em R$ 1 milhão e recebeu pensão vitalícia de R$ 4 mil.
Ziraldo morreu em 6 de abril, aos 91 anos. A família informou que o desenhista faleceu em casa enquanto dormia, em um apartamento da Zona Sul do Rio de Janeiro.