O novo tarifaço de Trump, pacote comercial anunciado pelo presidente norte-americano na última quarta-feira (2), entra em vigor neste sábado (5). A medida irá taxar os produtos brasileiros em 10%. Com os EUA sendo o principal destino das exportações catarinenses, o novo pacote irá impactar a economia estadual, segundo analisaram especialistas ouvidos pelo ND Mais.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações catarinenses. Em 2024, o estado embarcou US$ 1,74 bilhão para as terras estadunidenses, na sua maioria itens manufaturados, como produtos de madeira, motores elétricos, partes de motor e cerâmica.
Para o Brasil, o nível das tarifas é um dos menores. O país fica abaixo de outras economias como China (34%), Japão (24%) e União Europeia (20%). A única exceção são o aço e o alumínio brasileiros, que seguem taxados em 25%, conforme medida em vigor desde março.
Nos últimos dez anos, os EUA nunca registraram um déficit comercial com o Brasil. O superávit acumulado no comércio de bens a favor dos EUA desde 2014 chega a US$ 91,6 bilhões.
O que muda na economia catarinense com o tarifaço de Trump? Especialista analisa 4sb53
Segundo o professor de Economia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) João Rogério Sanson, o fato de o tarifaço de Trump incluir a taxa de 10% igualmente a todos os países da América Latina faz com que o Brasil não tenha prejuízo em relação aos competidores mais próximos, fazendo os EUA continuarem comprando os produtos brasileiros.
No entanto, o economista acredita que as tarifas podem fazer os EUA importarem menos produtos. “O mais importante é a altamente provável queda no nível de atividade americana e, por consequência, mundial. Isso afetará as compras de todos os mercados”.
Com a diminuição das atividades econômicas estadunidenses, o economista avalia que haverá uma desaceleração do PIB dos países no mundo inteiro, incluindo o Brasil. Com efeito, os preços dos produtos no mercado brasileiro (e catarinense) também deverão desacelerar, tornando-os menos caros no curto prazo, projeta Sanson.

Tarifaço de Trump é oportunidade para Santa Catarina buscar novos mercados, avalia a Fiesc 2m2u2u
Para o presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), Mauro Cezar Aguiar, o Brasil saiu relativamente beneficiado no tarifaço de Trump, já que as taxas aplicadas ao país são menores que de outros potenciais competidores, como países asiáticos e europeus.
Com o novo pacote tarifário, os EUA, principal destino das exportações catarinenses, terão que pagar mais pelos produtos do estado. Para Sanson, mesmo que o Brasil tenha sido relativamente beneficiado, isso ainda significa diminuição em termos absolutos da ida dos produtos de Santa Catarina ao país norte-americano. “O quanto cairão [as exportações] como consequência depende da sensibilidade dos compradores ao aumento de preços, o que varia de produto a produto”, pondera o economista.

Segundo Aguiar, o aumento das tarifas impostas pelos EUA é uma oportunidade para o Brasil – e Santa Catarina – explorar novos mercados. “O cenário encaminha-se para uma guerra tarifária, com retaliação pelos países mais afetados pelas novas taxas, como os asiáticos – em especial a China – e os europeus. Com isso, os produtos brasileiros am a ser mais competitivos que os norte-americanos nesses mercados”, acrescenta.
Sanson enxerga as atitudes recentes dos EUA como uma tentativa de frear o crescimento da China no mercado internacional para conter a crise. “Parece que os americanos querem redefinir os acordos estabelecidos ao final da Segunda Guerra. Eles estavam em tanta vantagem econômica que puderam bancar desde então os órgãos internacionais criados na época. Mas, agora, encontram-se em situação tendente a uma grande crise de sua dívida pública”, considera.