Foi no agitado período do ensino médio, ao entrar em uma escola em Palhoça, cidade vizinha de onde mora, em Santo Amaro da Imperatriz, que a catarinense, Elisa, se viu repleta de livros e uma preocupação estampada em seus olhos. Sentia a necessidade de trilhar seu caminho em busca de uma solução para se tornar mais financeiramente independente dos pais.
O anseio de ingressar em uma boa faculdade pública de Santa Catarina se mesclava à necessidade de auxiliar a família com o pagamento dos estudos e, é claro, mais um turbilhão de incertezas sobre o que iria fazer no futuro. No entanto, em meio ao labirinto de preocupações, lembrou de algo que gostava muito de fazer: adoçar a vida.

A vontade de empreender despertava, em seu coração inquieto, um ponto de virada imprevisível, pois naquele doce refúgio, Elisa Derner descobriu não apenas o poder de empreender, mas também como os doces poderiam transformar a sua história.
A jovem tinha aulas do começo da manhã até o meio da tarde e, em alguns dias, o dia inteiro, então precisava pensar em algo que se adaptasse àquela agenda maluca.
“Para ganhar um dinheiro extra, tinha que fazer alguma coisa. Sempre gostei muito de fazer doce, mas não como trabalho. Só que um dia tive a ideia de fazer bolo de pote para vender. Comprei um pacote de pote e comecei a fazer”, explica.
Elisa relembra que a gana pelo empreendedorismo foi mais forte, o amor pela confeitaria veio depois. “Não era meu sonho. Bem distante disso”, revela a confeiteira.

Os bolos de pote eram vendidos por R$ 5,00. A produção era feita após os estudos, até o fim da noite, quando deixava parte da produção na casa de uma amiga, que a ajudava a vender em uma escola de Santo Amaro da Imperatriz, enquanto ela vendia na escola que estudava em Palhoça, ambas na Grande Florianópolis.
“Fiz um acordo com meus pais que iria continuar me virando na escola. Levava (os bolos) de ônibus”, conta.

“Virei traficante de bolo”: escolas proibiram a empreendedora de vender 4rf2e
Era ali, naquele universo gastronômico que ela criava com suas próprias mãos as sementes do sucesso que começavam a florescer. Cada bolo era meticulosamente embalado e carregava consigo um pedacinho da alma criativa de Elisa.
E quando as primeiras fatias foram vendidas a magia aconteceu, eram mais de 60 bolos vendidos por dia. O sabor e a excelência de suas criações rapidamente se espalharam como fogo em palha seca, e o boca a boca fez suas vendas ganharem vida própria.

A jovem empreendedora observava, com olhos cintilantes de gratidão e realização, o seu humilde negócio virando prosperidade. Era como se, a cada pote vendido, ela pudesse testemunhar um sonho sendo concretizado. Até que, certo dia, ambas as escolas a proibiram de comercializar os seus produtos.
“Ficava na frente da escola com os bolos embaixo do moletom, entregava nos banheiros, para ninguém me ver entregando bolo. Virei traficante de bolo”, relembra entre risadas.
No meio da pandemia veio a certeza: “Era isso que eu queria” 6e1d1e
Enquanto o mundo enfrentava os efeitos avassaladores de uma pandemia implacável, Elisa finalmente conseguiu decidir o que queria seguir na vida adulta.
Com a chegada da Páscoa e o crescimento das vendas, a jovem ou a produzir mais produtos além dos bolos de potes, que aqueciam corações aflitos durante aquele momento. Enquanto as ruas permaneciam desertas, suas vendas floresciam como um oásis de esperança, atraindo almas ávidas por um sabor familiar.

E assim, diante das encruzilhadas da vida, Elisa decidiu, ousadamente, renunciar à faculdade, escolhendo se dedicar inteiramente aos doces, nos quais encontrou não apenas uma fonte de sustento, mas também uma paixão que a permitia construir castelos de doçura e transformar a adversidade em triunfo.

“Meu pai começou a construir uma casa e por muita coincidência do destino, deixaram um espaço aberto para construir algo. Quando chegou no terceirão, ele me perguntou o que eu queria fazer, mas eu estava muito em dúvida, porque a verdade é que queria fazer bolo. Aquilo já era minha vida. Então meu pai me deu aquele espaço para um ateliê”, diz a catarinense.
Ver essa foto no Instagram
Com muito amor pela família que sempre a apoiou, Elisa diz que foi o pai “que levantou as paredes do sonho”. Então, a jovem começou a guardar dinheiro e pegou uma quantia emprestada com a avó para a construção do espaço.
“Não me arrependo, pois olha onde estou hoje com 19 anos”, garante.
Um café em uma floricultura: o sonho ganha outro patamar com o “Flores e Amores” 4bp14
No coração da pequena cidade de Santo Amaro da Imperatriz, uma floricultura exala suas fragrâncias suaves e, desde a última terça-feira (6), o aroma de café, doces e diversos salgados. O local fica nas margens da BR-282, no Centro da cidade.

As pétalas coloridas se estendem como um tapete de sonhos, convidando os antes a se perderem em meio à beleza da natureza. E no canto mais acolhedor desse universo botânico, Lisa floresce com mais um sonho saindo do papel.
“Eu imaginava que seria coisa de cinco, seis anos para frente. Por muita coincidência, bem quando comprei meu carro, recebi uma mensagem da dona da floricultura me oferecendo para conhecer o espaço”, conta a catarinense.
Com o sangue de empreendedorismo na veia, mas descapitalizada por conta da aquisição do primeiro carro próprio, a confeiteira resolveu conhecer apenas de curiosa.
“Me apaixonei pela proposta. Não tinha nem dinheiro para investir no café e a dona floricultura me esperou, trabalhei muito na Páscoa para conseguir. Tentei agarrar o mundo e deu muito certo”, explica Lisa.
Para dar conta de tudo, Elisa conta com uma equipe formada pela sua avó, sua mãe, uma funcionária e agora seu sócio no café, o Igor, seu namorado.
“Queremos um espaço gostoso, legal e bem decorado. Tudo isso tem um custo, de criatividade também. Está dando tudo certo”, comemora.

“É uma experiência de ar por numa floricultura, tem um lago com tartarugas, bastante artesanato… tudo com a nossa cara”, afirma a catarinense.
Além disso, Elisa afirma que está focada em prometer um cardápio recheado e que abrange todos os tipos de pessoas como veganos, intolerantes, etc.
“Estamos fazendo vários testes para trazer o melhor para o nosso cliente”, explica Elisa.
Ver essa foto no Instagram
Catarinense revela segredos para quem quer seguir a arte da confeitaria 365k4s
Cada criação gastronômica ganha vida e transcende a mera doçura, saciando diversos paladares. Nos bastidores, cada bolo, torta, docinhos, tudo é meticulosamente adornado, se tornando mais do que um produto culinário. É uma obra de arte meticulosamente esculpida com os dedos habilidosos de quem sonha.

As cores vibrantes dos glacês dançam em harmonia, as texturas se entrelaçam como pinceladas precisas em uma tela em branco. E assim, diante de uma vitrine repleta de iguarias tentadoras, a confeitaria se revela como uma galeria onde o sabor brinca com a estética, provando que a verdadeira arte pode ser saboreada em cada mordida.
Para Elisa, é preciso sempre manter a qualidade. “Sei que os preços estão subindo cada vez mais, mas eu não consigo trocar as marcas que trabalho. Principalmente porque sei que o que me traz cliente é minha qualidade”, conta a catarinense.

Além disso, a empreendedora relembra que “qualidade não é quantidade”. Para ela, ter milhares de clientes não é o essencial, mas sim aqueles que aceitam pagar o preço do produto.
“A confeitaria possui muitas áreas. A gente tem que focar no nosso público. (…) Nunca desista, é clichê, mas é verdade”, conta.
Em alguns momentos que se via estagnada nas vendas, Elisa cogitou desistir em 2021 e até fez uma carteira de trabalho, mas com ajuda e apoio da mãe, seguiu firme no propósito.
“Muitas pessoas começam a trabalhar em casa e chega um momento que vai aumentando as vendas e fica difícil, mas não tenha medo de ir para um lugar maior, construir, alugar… Por menor que seja, é ter sempre o seu espaço e a tua liberdade de trabalho, com organização, que tudo dá certo”, finaliza a confeiteira de Santo Amaro da Imperatriz.