O aumento no preço da carne tem tirado o sono e mexido com o bolso do brasileiro. Açougues têm registrado queda no movimento, o que acaba acarretando preocupação também no comércio.
A reportagem do ND+ foi até o Emporium e Açougue Aurino, no bairro Abraão, área continental de Florianópolis, para entender como essa mudança está impactando no comércio.
De acordo com o açougueiro, Marcelo Vidal, o movimento diário caiu cerca de 50% há pouco mais de um mês, momento em que ocorreu o aumento de preços.

“Os clientes trocaram cortes como a alcatra, costela e o entrecot por carne moída e carnes de segunda”, afirma o açougueiro.
Aumento no preço do quilo no local: 96x1c
- Alcatra ou de R$ 39,90 para R$ 47
- Costela ou de R$ 22 para R$ 33,90
- Entrecot ou de R$ 49 para 59,90
O local, que normalmente atendia cerca de 80 clientes diariamente, ou para 40 com funcionamento das 8h às 19h30. O estabelecimento também funciona como restaurante com pratos à la carte. “O cliente começou a trocar o açougue por supermercados, onde acaba encontrando o produto mais barato”, explica o profissional.
No Kretzer Conceito em Carnes, no bairro Coqueiros, a reclamação seguiu a mesma tendência: queda brusca no movimento após o aumento.
De acordo com o açougueiro, Adriano Inácio, os clientes que antes optavam por cortes como a picanha, entrecot, maminha e contra filé, estão optando por carnes mais baratas, como a fraldinha e o acém.

Aumento no preço do quilo no local: 96x1c
- Picanha ou de R$ 72,90 para R$ 92,90
- Entrecot ou de R$ 42,90 para R$ 59,90
- Maminha ou de R$ 39,90 para R$ 53,90
- Contra Filé ou de R$ 39,90 para R$ 56,90
Segundo Inácio, mesmo as carnes mais baratas também sofreram alterações no preço, cerca de 15%, o que acaba afastando ainda mais a clientela. “Os clientes chegam, olham o preço e saem”, lamenta.
Para se reajustar a nova realidade, o açougueiro conta que tiveram que reduzir a compra de mercadorias e reduzir a produção. “Acredito que no período entre Natal e Ano Novo, aliado ao 13°, as vendas aumentem” afirma Inácio.
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Restaurantes também sofrem impactos 6e93m
Para acompanhar a alta no preço da carne, o restaurante Ponto Light, que funciona há 20 anos no bairro Abraão, teve que se adaptar à rotina. O local serve bufê diariamente.
De acordo com a proprietária, Marília Freire, com o aumento do preço do produto, o jeito foi manter a carne bovina no bufê, porém diminuir a quantidade.

A proprietária afirma que cortes como o contra filé e a fraldinha, que eram comprados a R$ 20,50 e R$ 17,90, aram para R$ 30,40 e R$ 26,90, respectivamente.
“É difícil manter as carnes com esse aumento no preço. Tivemos que substituí-los por outros cortes, como o coxão mole”, explica Freire.
Fatores determinantes 3vs9
De acordo com a economista Laura Pacheco houve dois fatores determinantes que contribuíram para a elevação do preço da carne bovina no país. O primeiro foi o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, devido ao 13° salário nos meses de novembro e dezembro. Segundo a economista, estatísticas apontam que o brasileiro consome mais carne quando tem mais dinheiro.

Outro fator determinante foi a questão da peste suína africana que atingiu o rebanho chinês. Com isso, os chineses começaram a demandar mais carne e, auxiliado à alta do dólar, ficou mais “fácil” para quem é de fora comprar carne brasileira, o que a torna atrativa comercialmente.
“É tudo uma questão de oferta e demanda. Estamos tirando carne do mercado brasileiro e exportando. O mercado precisou fazer esse reajuste que, em alguns casos, chega a 30%”, explica Pacheco.
O aumento sazonal da demanda, marcado pelas festas de fim de ano, junto ao consumo chinês, formaram a “tempestade perfeita” sobre os preços das carnes.
A economista acredita que em 2020, com a normalização no país asiático e o controle da doença, as exportações diminuam e o preço volte a cair, mas a tendência é que “não volte a ser como era antes”. “Esse aumento não veio para ficar, acontece devido a um fator externo (peste suína na China)”, explica.
Não só o Brasil está exportando carne para a China, os Estados Unidos também têm feito a prática. Com 1,386 bilhão de habitantes, um único país (Brasil) não conseguiria suprir a demanda do país.
Defesa do consumidor 4j6523
De acordo com o vice-presidente da Comissão do Direito do Consumidor da OAB/SC, Felipe Roeder da Silva, o impacto no bolso do consumidor, vai variar de acordo com o preço que os produtos alcançarem.
Segundo Roeder, consta no Art. 39 Inc. 10 do Código de Defesa do Consumidor, que, para que as indústrias subam os preços dos produtos, deve haver uma “justa causa”. Como exemplo de justa causa se enquadra o aumento do preço da carne devido ao aumento da exportação para a China.