Em tupi-guarani, o nome Araquari significa “rio de refúgio dos pássaros”. Nos últimos anos, a pequena cidade na região norte catarinense de 24 mil habitantes tem traduzido esse significado de outra forma. Araquari virou também o oásis industrial de Santa Catarina, refugiando, além dos pássaros, empresas de todos os portes. O impacto já é visível nas duas rodovias federais (BR-101 e BR-280) e na estadual (SC-301), que cortam o município. A paisagem verde, cheia de pastagens, animais e árvores, está sendo rapidamente substituída pelo cinza dos prédios comerciais, galpões e fábricas.
Um das principais empresas a desembarcar em Araquari é a coreana Hyosung, que está investindo cerca de R$ 176 milhões numa fábrica de fios de elastano. Os fios são usados na produção de roupas íntimas, moda praia, trajes esportivos e jeans.
O namoro mais recente é com a alemã BMW, que ainda não anunciou oficialmente a instalação da empresa na cidade.
Para atender todo esse crescimento, a Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) construiu uma nova subestação de energia no bairro Porto Grande, em Araquari, ao lado da Hyosung, em tempo recorde de 45 dias. A nova subestação dobra a capacidade de fornecimento de energia na região e atende principalmente à grande demanda das empresas que estão se instalando na cidade. O valor do investimento foi de R$ 1 milhão.
A economia da cidade também já começa a sentir os primeiros reflexos: valorização imobiliária, aumento da receita da Prefeitura, crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) e na população.
A valorização dos terrenos maiores e prontos para instalação de empresas chega a 80% em 2011. Mas parte disso é especulação imobiliária, de acordo com o presidente da Aciaa (Associação Empresarial de Araquari), Jorge Laureano, que também é proprietário de imobiliária. “Os preços e a procura subiram, mas a venda continua igual”, conta.
Entre 1999 e 2008, o PIB de Araquari aumentou 369% e já é o 67º maior do Estado. No mesmo período, o de ville, que é o maior de Santa Catarina, cresceu 249%. Em 2006, o PIB de Araquari era o 85º maior. A receita da Prefeitura ainda não sente tanto crescimento por causa dos incentivos oferecidos para a instalação das empresas. Mesmo assim, entre 2007 e 2011, houve elevação de 60% nos rendimentos do município. Em ville, no mesmo período, a receita da Prefeitura cresceu 113%.
A população da cidade também deu uma esticada nos últimos 20 anos. O aumento foi de 55%, contra 49% da evolução da população vilense no mesmo período.
Explicação está no vizinho
Vários motivos são apresentados para o recente movimento das empresas em direção a Araquari. São incentivos fiscais da Prefeitura, com isenção de impostos municipais (IPTU, ITBI, TLL, ISS), e benefícios com programas do Governo do Estado, como o Prodec e o Pró-Emprego. Através desses programas, as empresas têm linhas de financiamento facilitadas, além se desconto no ICMS através da geração de emprego e renda.
Araquari também está estrategicamente localizada próxima a seis portos (Paranaguá, Navegantes, São Francisco do Sul, Itajaí, Itapoá e Imbituba) e quatro aeroportos (Curitiba, ville, Navegantes e Florianópolis). O município também é cortado por duas importantes rodovias federais, a BR-101 e a BR-280, que são rotas de fácil o para escoamento de produções.
Por ter somente dois rios cortando a cidade (Itapocu e Piraí), os planos terrenos da cidade enfrentam poucos problemas ambientais, o que facilita a instalação das empresas.
Mas todos esses motivos não seriam suficientes se não fosse por um vizinho especial que Araquari possui, de acordo com o prefeito da cidade João Pedro Woitexem (PMDB). “Estamos atraindo investimentos porque temos ville como vizinho. O principal motivo para essas empresas virem se instalar aqui é a nossa proximidade com ville, claro, somado aos outros benefícios”, ressalta.
A região que mais crescerá até 2025
Um estudo da consultoria McKinsey mostrou recentemente que o Norte/Nordeste de Santa Catarina será a região urbana com mais de meio milhão de habitantes que mais vai crescer até 2025. A economia deve avançar a uma média anual de 5,8%. Entre 2000 e 2008, enquanto a economia brasileira cresceu 33%, o Norte/Nordeste de Santa Catarina avançou 40%.
Araquari não quer ficar de fora desse crescimento e espera ser uma das líderes no percentual de desenvolvimento. A expectativa ousada da Prefeitura é que nos próximos dez anos, a cidade alcance cem mil habitantes e que a divisão com ville não possa mais ser percebida, formando uma região metropolitana.
“No bairro Itinga já não se sabe mais onde começa e onde termina cada cidade, e em breve isso acontecerá também na BR-101”, acredita o prefeito Woitexem. Só nos últimos dois anos, foram abertas 1.050 novas empresas de vários portes na cidade.
“Até final de 2012, cerca de quatro mil novos empregos devem ser criados com as empresas que estão chegando. Isso significa pelo menos 10 mil novos habitantes”, calcula o secretário de Desenvolvimento Econômico de Araquari, Clenilton Carlos Pereira.
Fábrica da BMW já estaria confirmada
Nem a Prefeitura de Araquari nem a empresa confirmam a informação, pelo menos por enquanto, mas a BMW já teria até terreno definido para instalação de sua nova fábrica de automóveis em Araquari. A divulgação da cidade escolhida no Brasil foi prorrogada para o final de novembro.
A empresa chegou a ver alguns terrenos em ville, mas não teria encontrado o que procurava. Já em Araquari, o terreno escolhido seria um pertencente à Mineração Veiga, na BR-101. A área, que fica no km 67 da rodovia, tem cinco milhões de metros quadrados, sendo quase dois milhões livres para a construção da fábrica.
Técnicos da BMW chegaram a ar algumas semanas na cidade fazendo estudos no solo e no ar da área. O objetivo seria ter certeza que as partículas presentes no ar não afetariam a pintura dos automóveis. Devido a uma cortina de vegetação que fica entre a área da Mineração Veiga e o local onde seria construída a fábrica, os técnicos teriam aprovado a área. A distância para o mar, cerca de 12 km, também foi outro ponto à favor, para os veículos também não sofrerem a influência da maresia.
Os detalhes sobre o investimento não foram divulgados, mas informações prévias indicam que a fábrica no Brasil seria uma linha completa de montagem.
Investimento coreano de R$ 176 milhões
A Hyosung foi a principal empresa a se instalar em Araquari e ajudou a atrair a atenção do meio industrial para a cidade. Com investimento de R$ 176 milhões, a fábrica coreana de elastano vai criar 300 vagas de empregos diretos. O início das atividades está previsto para o final deste ano. O investimento do conglomerado asiático corresponde a 59% do PIB de Araquari.
Em um terreno de 225 mil metros quadrados às margens da BR-101, no km 69, uma fábrica de 40 mil metros quadrados vai produzir 10 mil toneladas de elastano por ano. A produção será destinada para o mercado interno brasileiro e para os países da América do Sul. A empresa possui fábricas de elastano também na China, Coréia do Sul, Vietnã e Turquia.
Fundado em 1966, o grupo Hyosung tem negócios em 150 países, que renderam um faturamento de US$ 7 bilhões em 2009, e emprega mais de sete mil funcionários. No Brasil desde 2006, a empresa possui uma fábrica em Americana (SP), onde produz tecido utilizado na produção de pneus, segmento liderado pela sul-coreana.
Com ampliação prevista para começar já em 2012, a fábrica da Hyosung em Araquari receberá outros R$ 170 milhões em investimentos e dobrará de tamanho e de produção. A unidade catarinense da companhia foi pensada para suprir 60% da demanda do mercado brasileiro. A produção de Araquari vai representar até 10% da produção global da companhia.
Ampliando áreas de atuação
Os negócios da empresa Fort Lev andam tão bem em Araquari que a empresa, que já emprega cerca de 500 funcionários, está ampliando seu ramo de atuação. Obras de ampliação também podem ser vistas no terreno da empresa. Uma das líderes em fabricação de reservatórios de água no Brasil, a empresa agora investe também na fabricação de tubos e conexões.
A unidade de Araquari está sendo ampliada justamente para atender a essa nova demanda da empresa. Hoje já são 20 mil metros quadrados de área construída e a empresa deve no mínimo dobrar de tamanho nos próximos anos.
Com sede no Estado do Espírito Santo, a Forte Lev tem unidades ainda na Bahia e em São Paulo. Em Araquari, a empresa está instalada às margens da BR-101, no km 64.
Incentivos conquistaram vilense
Depois de nascer e permanecer instalada por cinco anos em ville, a empresa Durín, que atua nos ramo de órios e metais sanitários e conexões, fez as malas e partiu para Araquari, onde hoje possui uma sede própria de 15 mil metros quadrados.
Em ville, a empresa contava com cerca de cinco mil metros quadrados e com apenas 110 funcionários. Há dois anos em Araquari, agora a empresa emprega 300 trabalhadores e mais ampliações estão em andamento.
O motivo para a mudança foram os incentivos fiscais oferecidos pelo município, o valor da área comprada e a proximidade com ville. “Estamos tão perto de ville que nem parece que nos mudamos”, conta o diretor comercial da Durín, Rosinaldo de Aguiar. “Aqui conseguimos crescer e focamos nossa produção em outro público”.
