VÍDEO: Praia do Santinho, em Florianópolis, foi cenário de roda de capoeira democrática 371t50

Todo terceiro domingo do mês, a Maré Brasil faz a roda na praia do Santinho com homens, mulheres, jovens, adultos, crianças e os mais experientes 4z1w4f

Pica-pau, Virgulino, Kafé, Geleia, Alicate, Minnie, Defunto, Bambu… Sob a condução do contramestre Rato, esses e outros capoeiristas foram abençoados pelo sol da manhã de domingo (19) durante uma roda de capoeira num deque da Praia do Santinho, Norte da Ilha.

Roda de capoeira da Escola Maré BrasilKauan e o contramestre Rato, pai e filho na capoeira – Foto: Nícolas Horácio/ND

Homens, mulheres, jovens, adultos, crianças e os mais experientes gingaram ao som dos afinados berimbaus e das cantigas tradicionais de capoeira. Até um russo participou.

Manezinho, com pai pescador e mãe rendeira, o contramestre Rato, 41 anos, 29 de capoeira, nasceu Anderson Libanio, e criou a Escola Maré Brasil em 2009. O barracão fica nos Ingleses, também Norte da Ilha, e tem cerca de 100 alunos.

Kafé o contramestre rápido em ritmo acelerado na finaleira da roda – Vídeo: Nícolas Horácio/ND

Como a capoeira é a sua vida, a esposa, Karime Daniele Silva, 38 anos, – codinome Minnie – e os três filhos do casal, Kauan, 9 anos, Bianca, 8, e Kauê, 3, estavam na roda e também são praticantes.

“A capoeira me move e construiu quem sou. Quando nasci, minha mãe me batizou Anderson. Quando entrei na capoeira, recebi o codinome Rato. Depois de um tempo, o Rato ensinou muito para o Anderson e vi que eu era muito mais o Rato”, descreveu.

Turma que participou da roda de capoeira da Escola Maré Brasil na praia do SantinhoA turma toda da roda de capoeira de domingo no Santinho realizada pela Escola Maré Brasil – Foto: Nícolas Horácio/ND

“A capoeira te ensina por exemplo, a coletividade, que dependemos um do outro para viver bem; que precisamos, sempre, buscar a alegria em nosso coração; apresenta o movimento social de um povo que foi escravizado e apresenta o quanto é importante cuidar das crianças, da família e das pessoas”, completou.

Graças a capoeira, Rato entrou na universidade. Levou sete anos para conquistar o bacharelado em educação física, depois, se formou em licenciatura. Há mais de uma década, ensina a cultura nas escolas da Ilha. Hoje, faz mestrado na linha de pesquisa de sociologia e história da educação na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Capoeira russo 5t4gk

De Moscou, Capital da Rússia, Imah Maxim Shtefan, 36 anos, se mudou para Florianópolis há quase dois anos. “Aqui não tem neve, não tem que vestir muito casaco, nem meias”, brincou em relação à mudança. Antes de Florianópolis, ele morou na Bahia, onde treinou capoeira com os mestres Cobra Mansa, Valmir e Jurandir.

Imah Maxim Shtefan está em Floripa há quase dois anos – Foto: Nícolas Horácio/NDImah Maxim Shtefan está em Floripa há quase dois anos – Foto: Nícolas Horácio/ND

Imah é morador dos Ingleses, onde, segundo ele, há uma comunidade com cerca de 200 famílias russas. Aqui, está com a esposa, Eva, e os três filhos: o mais velho, Dominik, 7 anos, é capoeirista. Markus, 6, também russo, é o do meio. Já o caçula, Kainalu, de dez meses, é manezinho.

Na capoeira, ele é Treinel Ímã e aprendeu a jogar com a professora Svetlana Pastuskova, no seu país de origem. O que ele mais aprecia na prática é o que descreve como um universo dentro de outro universo.

“Um mundo que você pode compartilhar com os outros. Um mundo de amizade, alegria – da pancada também – e da brincadeira, da música. É tudo isso (!)”, definiu.

Da Bahia para Floripa 452w3f

Fábio Batista de Souza, o Kafé, 28 anos, é baiano de Paulo Afonso e está há sete anos em Florianópolis. Na capoeira, treina há 13 anos. Ele começou com o professor Alex da Muzenza. Depois, em Alagoas, entrou no Alagoarte, do Mestre Pelé. Há quatro anos, Kafé entrou no grupo Filhos de Tigre, de São José, do mestre Tigre.

“Quando conheci a capoeira tinha uns seis anos e me identifiquei pela movimentação, pela ginga, pelo toque. Me encantei e sempre quis entrar. Mas a minha mãe não deixava. Até que apareceu um projeto na escola e, por sorte, meu nome estava inscrito e iniciei. Capoeira é contagiante”, ressaltou Kafé.

Casal capoeira 6i2y5t

A manezinha Bruna Bosquetti, 24 anos, do bairro Monte Verde, foi apresentada à capoeira pelo namorado, Cristian Marcos Pimentel Fernandes, o Virgulino.

Desde criança, tinha bastante flexibilidade, fazendo ponte, bananeira, estrelinha. Há um ano e sete meses, quando conheceu o namorado, aprendeu mais movimentos. Domingo, ela participou da primeira roda.

Virgulino na roda de capoeira da Escola Maré BrasilVirgulino e Bruna, que ainda não definiu eu codinome, mas pensa em algo relacionado ao mar – Foto: Nícolas Horácio/ND

“Foi muito legal! Estava bem empolgada, animada e fiz dois jogos. Um com o Virgulino, outro com a Geleia. Estava uma energia muito boa”, disse Bruna, que ainda não definiu seu codinome. O fato de a primeira roda ter sido na praia facilitou a estreia dela.

“Aprendi a jogar na praia. É um lugar que tem uma energia muito boa e tem tudo a ver com a capoeira.” Ela disse que se o namorado se afastar da capoeira, ela fica.

Entre idas e vindas, Virgulino está na Maré Brasil desde 2011. Segundo ele, a roda do Santinho está voltando a tomar corpo e, cada vez mais, recebendo gente de fora.

A criançada também manda ver na capoeira – Foto: Nicolas Horácio/NDA criançada também manda ver na capoeira – Foto: Nicolas Horácio/ND

“A nossa escola não é só a capoeira. Trazemos a galera para a amizade. O contramestre sempre tem uma conversa longa com as pessoas, quer conhecer a história, os projetos. Ele respira isso 24 horas”, afirmou

Virgulino, que retornou há 15 dias, respondendo a uma vontade do seu corpo: “estava com as engrenagens enferrujadas.”

História e conceitos da capoeira 2g3r4g

Segundo o contramestre, há divergências sobre a história da capoeira. Alguns dizem que é africana, outros, que seria indígena, mas Rato acredita que surgiu no Brasil e que a origem é afro-brasileira.

“Mas o mais importante, acredito, é que ela é patrimônio imaterial do Brasil e da humanidade. A capoeira está aí para que a gente se lembre, sempre, de todos os povos que contribuíram com o Brasil, principalmente o povo negro”, frisou Rato.

Ele ressaltou, também, que o jogo sofreu várias transformações e é uma cultura dinâmica, que acompanha a construção da sociedade. “A capoeira do Século 19 é diferente da de hoje”, ponderou.

Para ele, o mais importante, é o movimento social, que pera gerações: “a troca de saberes que transmitimos na roda e nas conversas; o som do berimbau, dos instrumentos; as cantigas tradicionais, que trazem suas mensagens”, disse.

Contramestre Rato criou a Maré Brasil em 2009 e também leva capoeira às escolas – Foto: Nícolas Horácio/NDContramestre Rato criou a Maré Brasil em 2009 e também leva capoeira às escolas – Foto: Nícolas Horácio/ND

No domingo, Rato também improvisou uma cantiga, citando os codinomes de alguns dos presentes a fim de humanizar e personalizar o momento.

No Santinho, a Maré Brasil realiza os encontros há sete anos, mas voltou há quatro meses, por causa da pandemia. A roda ocorre todo terceiro domingo do mês no local.

Participe do grupo e receba as principais notícias
da Grande Florianópolis na palma da sua mão.
Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os
termos de uso e privacidade do WhatsApp.
+ Recomendados
+

Cultura 4k371x

Cultura

Selo de Renda de Bilro: tradição manezinha agora tem certificação oficial 2g462o

Certificação de qualidade da Renda de Bilro visa valorizar o trabalho artesanal das rendeiras de Flo ...

Cultura

Cidade mais católica de SC preserva a língua alemã no dia a dia; saiba qual 1r1a1y

A cidade abriga a maior igreja de madeira da América Latina e tem a maior proporção de católicos do ...

Festa do Pinhão

Regras, atrações e programação: o que você precisa saber sobre a Festa do Pinhão em Lages 404n55

Abertura da 35ª edição da Festa do Pinhão acontece na noite de sexta e a programação segue pelos pró ...

Cultura

FOTO: Camisinha de 200 anos com imagem de freira nua choca visitantes em museu europeu 49db

Este é o primeiro exemplo na coleção do Rijksmuseum, em Amsterdã, na Holanda, de uma impressão em um ...