O centenário de nascimento do escritor Salim Miguel (1924-2016) será comemorado em janeiro do ano que vem, mas instituições e pessoas que estiveram próximas a ele durante as décadas em que morou em Santa Catarina já se movimentam para marcar a data.

O primeiro de uma série de eventos com esse objetivo foi o encontro “100 anos de Salim Miguel – Uma obra em movimento”, realizado sexta-feira ada (25), na Igrejinha da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis, dentro do projeto Livro na Praça.
As próximas ações ainda estão sendo planejadas, mas um grupo formado pela professora Luciana Rassier, tradutora de uma obra de Salim para o francês, pela também professora Eliane Debus, secretária de Cultura, Arte e Esporte da UFSC, pelo diretor da EdUFSC, Valdir Rampinelli, e pelo diretor do DAC/UFSC, Zeca Pires, com a interlocução dos filhos e da mulher do escritor, a poeta e tradutora Eglê Malheiros, se movimenta para elaborar uma programação à altura do autor, que publicou mais de 30 livros e atuou como jornalista em Florianópolis e no Rio de Janeiro.

A Editora da UFSC, mentora do projeto Livro na Praça, deve homenagear Salim Miguel na segunda edição da feira anual de livros que realiza no campus da Trindade, marcada para a primeira quinzena de julho de 2024. E intelectuais catarinenses cogitam se reunir para publicar uma biografia do escritor nos próximos meses.
O ano que vem marca o 20º aniversário da descoberta do escritor pela professora Luciana Rassier, do Departamento de Comunicação e Expressão da Universidade Federal. Ela estudou a fundo a produção literária de Salim Miguel e se tornou uma espécie de agente de sua obra no exterior. Junto com Jean-José Mesquen, traduziu para o francês o livro “Primeiro de Abril – Narrativas da Cadeia”, no qual o autor narra, de forma ficcional, os dias em que esteve preso em 1964, durante a ditadura militar.
Estudo da obra de Salim Miguel 722j58
A professora começou a estudar a obra do escritor quando lecionava língua e literatura do Brasil na Universidade de La Rochele, na França.

Também apresentou trabalhos sobre Salim na Argentina, Canadá, Espanha, Portugal e em várias cidades brasileiras. Quando o livro “Nós”, narrativa policial publicada pela EdUFSC, entrou na lista das obras indicadas para leitura nos vestibulares da UFSC e Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), Luciana deu palestras para estudantes do terceirão e de cursos pré-vestibulares, alcançando cerca de 600 alunos.
Luciana Rassier conta que “Nós” foi o último livro de Salim, publicado em 2015, um ano após o escritor ter se mudado para Brasília. No entanto, mesmo com problemas de saúde, ele acompanhou o trabalho da editora e chegou a participar da escolha da capa da obra.
Um grande legado para o Estado 5r5p6c
Luciana Rassier considera Salim Miguel “um grande intelectual que marcou o cenário catarinense e brasileiro”, com atuação no jornalismo, publicações nos gêneros romance, conto, crônica e crítica literária, roteiros para o cinema e como gestor da Editora da UFSC e a Fundação Franklin Cascaes.
“Ele inovou e ousou por onde ou” 71p4y
Salim chegou ao Brasil em 1927, aos três anos, com a família vinda do Líbano para se fixar no litoral catarinense – São Pedro de Alcântara, Biguaçu e mais tarde Florianópolis. Com um grupo de escritores e artistas catarinenses, criou o Grupo Sul, de grande importância na difusão da literatura e das artes catarinenses nas décadas de 1940 e 1950.
Depois de retornar do Rio de Janeiro, no final dos anos 1970, permaneceu na Capital até 2014, mudando-se então para Brasília, onde morreu, em 22 de abril de 2016. Entre seus livros estão “Velhice e outros contos”, “A voz submersa”, “A morte do tenente e outras mortes”, “As confissões prematuras” e “Nur na escuridão” – este, traduzido para o árabe.
Foi reconhecido pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), e pelos prêmios Juca Pato de Intelectual do Ano (2002) e Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (2009).