Patrícia Grillo mantém o legado da família Hoepcke e a preservação da memória de Florianópolis 5z4942

Empresária conta sobre a atuação no jornalismo, a mudança de atividade profissional, o caráter familiar dos negócios há seis gerações e detalhes do Armazém Rita Maria, que inaugura em 28 de janeiro e114h

Antes mesmo de formada em comunicação social/jornalismo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em 1983, Patrícia da Silva Grillo já atuava no extinto jornal “O Estado”, o diário mais antigo da imprensa catarinense, que pertencia ao seu avô, o ex-governador Aderbal Ramos da Silva.

Patrícia da Silva Grillo, diretora do Armazém Rita Maria – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/NDPatrícia da Silva Grillo, diretora do Armazém Rita Maria – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/ND

Atendendo a um chamado de sua mãe, Annita Hoepcke da Silva, para participar da istração dos negócios da família, Patrícia deixou a redação do periódico e ingressou no diferente ambiente empresarial. “Sou jornalista por formação e paixão, gestora por missão. Missão que sempre levei muito a sério”.

A adaptação ao ramo imobiliário, conta, se deu tranquilamente. Cursou pós-graduação, uma MBA (Master Business istration) em gestão empresarial, concluída em 2007, pela Fundação Getúlio Vargas, e permanece como um dos pilares da grupo Hoepcke, ao lado dos irmãos, Aderbal e Guilherme.

Um dos desafios mais recentes da família foi definir o melhor destino para os seis antigos galpões da antiga Empresa Nacional de Navegação Hoepcke, que estão em pé há mais de 125 anos e onde também funcionaram fábricas de gelo e de pregos.

O conjunto erguido por Carl Hoepcke – alemão que impulsionou a economia da Desterro do século 19 e de quem Patrícia é trineta – abrirá ao público no dia 28 de janeiro como Armazém Rita Maria, um centro de gastronomia, cultura e lazer com 20 operações de produtos e serviços distintos.

 Como foi a tua experiência no jornalismo? 4f3f6s

Aos 18 anos de idade, já na faculdade de jornalismo, ingressei na equipe de redação do jornal “O Estado”, pertencente ao meu avô, Aderbal Ramos da Silva. Tive o privilégio de trabalhar com o jornalista Laudelino Sardá, que, na época, era o chefe de redação.

Sempre gostei muito de escrever. Além disso, o jornalismo me ensinou a trabalhar em equipe, a me organizar dentro de uma estrutura na qual dependíamos uns dos outros para fazer a roda girar!

Gostava do contato descontraído e alegre da redação do jornal, da hora sempre corrida, da pressão para concluir as tarefas no prazo e, acima de tudo, do aprendizado diário com meus colegas.

Sendo o teu avô dono do jornal “O Estado” e da rádio Guarujá, que continuaram nas mãos da família, pensavas na época em talvez dirigir estas empresas algum dia?

Quando comecei no jornal era muito jovem, e pensava apenas em aprender a arte de fazer jornal, produzir notícias e fotos, buscar conteúdos interessantes, escrever. Sempre tive paixão por um texto bem escrito, palavras bem colocadas, frases de efeito.

Porém, anos mais tarde, tive que abandonar o jornalismo. As empresas da família sofreram uma cisão, e minha mãe me chamou para trabalhar com ela na construção de uma “nova” Hoepcke. Foi uma mudança repentina, porém, desde muito jovem, os desafios me atraiam imensamente.

Como foi a adaptação ao novo campo profissional?

Mal sabia que minha missão estava apenas começando. E foi justamente nesse novo mundo empresarial que me encaixei como uma luva. Além das palavras escritas, a matemática foi minha grande aliada.

Troquei a Olivetti pela calculadora, o tênis velho pelo scarpin, a calça jeans pela saia lápis e a camiseta branca pela camisa bem cortada. Novo mundo, novas habilidades, afinal, era pegar ou largar. Assumir ou sumir!

Deixei o jornalismo, mas ele não me deixou! Adoro escrever, e foi justamente o exercício do jornalismo que me ajudou a vencer minha timidez. Era obrigada a sair de gravador na mão para entrevistar as pessoas! O mundo se abriu diante de mim!!

Precisava me expor, sair da casca, romper minhas barreiras pessoais, desafiar minhas crenças, lidar com julgamento alheio, literalmente me confrontar com minhas limitações adolescentes.

Era natural que tu e teus irmãos (Aderbal e Guilherme), assim como os teus primos, herdassem a istração dos diversificados negócios da família Hoepcke. Como é atuar no ramo imobiliário, principal atividade do grupo?

Somos a quinta geração, e já estamos na sexta geração, de nossos filhos, trabalhando. É natural que os sucessores assumam o controle dos negócios ou profissionalizem a istração. No nosso caso, optamos por assumir.

O ramo imobiliário é apaixonante na medida em que você vê seu trabalho crescer, frutificar, ganhar reconhecimento e seriedade. Sempre digo que uma empresa não se mede pelo lucro, e sim pelo legado que ela deixa para a sociedade.

Patrícia entre os irmãos, Aderbal (à esq.) e Guilherme da Silva Grillo – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/NDPatrícia entre os irmãos, Aderbal (à esq.) e Guilherme da Silva Grillo – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/ND

O teu trabalho de conclusão de curso na UFSC foi uma reconstituição histórica do Grupo Hoepcke, que completou 100 anos de fundação em 1982. Ao final, ressaltas que, após um século, a empresa mantinha o caráter familiar, istrada pelos descendentes. Hoje, 40 anos depois, ela continua 100% familiar? Por que esta decisão?

Estritamente familiar. Amamos nosso trabalho e sempre tivemos o privilégio, eu e meus dois irmãos, de termos a condução firme e segura de nossa mãe, Annita. Há 10 meses, ela nos deixou, porém o legado foi forte, os ensinamentos que tivemos, impactará para sempre nossas vidas e consequentemente de nossos descendentes.

Somos frutos de nossos anteados, e na cruzada da vida contamos sempre com os princípios com os quais fomos criados.

Sábios aqueles que sabem aproveitar o vento do destino, aproar as velas, refazer a rota. Muitas vezes pode parecer custoso e assustador, porém necessário para manutenção da própria subsistência.

Os antigos galpões do cais Rita Maria são as lembranças concretas mais remotas de Carl Hoepcke?

Carl Hoepcke era um homem multifacetado, à frente de seu tempo. Impactou e marcou profundamente as gerações adas e as atuais. Foi um divisor de águas na sociedade catarinense: antes e depois dele.

Cônsul honorário da Alemanha no Brasil, além de grande espírito empreendedor, chegou no ano de 1863, com 18 anos de idade, e instalou-se na província de Blumenau (SC), num pequeno pedaço de terra. Destacou-se desde cedo, pela capacidade gerencial e pelas habilidades inatas.

Para mim e minha família, tudo lembra nosso patrono. O retrato dele na parede do escritório não nos deixa esquecer que todos os dias é dia de muito trabalho e dedicação.

Dois livros já foram escritos contando sua  brilhante trajetória.

Bruna Füchter, que integra conselho istrativo do Armazém Rita Maria, e a mãe, Patrícia Grillo – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/NDBruna Füchter, que integra conselho istrativo do Armazém Rita Maria, e a mãe, Patrícia Grillo – Foto: Fernanda Furtado/Divulgação/ND

Os galpões aram décadas alugados para igreja, locadora de automóveis, supermercado, danceteria, sauna. A empresa chegou a considerar em alguma época a hipótese de derrubá-los para construir um prédio moderno no local?

Acredito no construir ao lado, não em cima! Vamos somar, agregar, transformar, ressignificar o tempo. Criar a possibilidade de trazer à tona a simbologia de uma época, recriar memórias, transgredir o fluxo empoeirado do tempo, romper a rotina ótica de uma cidade paralisada pelo desencanto da paisagem urbana, já sem surpresas.

Vamos criar espaços de convivência, onde as pessoas se sintam felizes, na simplicidade da vida, como antigamente. Não precisamos de muito para desfrutar a felicidade de morar numa ilha cheia de encantos.

Vamos reconsiderar nossa forma de viver. Olhar para a vida é olhar a arte. Ser feliz é poder degustar uma refeição com os amigos e a família, é poder beber um chope num lugar descontraído, dar boas risadas, aproveitar o tempo!!

Diferentemente de quando eram ocupados pelas empresas da família e depois por locatários, o conjunto será aberto ao público como centro de gastronomia, lazer e cultura. Por que foi escolhida esta utilização?

O Chelsea Market de Nova York foi, certamente, nossa primeira inspiração. Antiga fábrica da Nabisco até 1922, sofreu uma super-reforma, porém manteve o clima fabril da época. Hoje abriga um mix de empório gourmet com lojas, restaurantes, cafés, etc.

Nosso desafio foi reeditar um ícone de modelo arquitetônico fabril em Florianópolis com uma pegada cosmopolita, como o Chelsea novaiorquino, e trazê-lo de volta ao convívio da sociedade.

Visão interna de um dos galpões do Armazém Rita Maria, na fase final de restauração – Foto: Roger Engelmann/Divulgação/NDVisão interna de um dos galpões do Armazém Rita Maria, na fase final de restauração – Foto: Roger Engelmann/Divulgação/ND

Que peças do acervo de Carl Hoepcke ficarão expostas permanentemente?

Algumas das antigas máquinas da fábrica de pregos estão expostas no hall de entrada das torres que levam seu nome, na rua Cristóvão Nunes Pires. No complexo do Armazém Rita Maria, hélices e leme dos navios da Empresa Nacional de Navegação Hoepcke, bem como o guindaste recuperado que servia para retirar as cargas dos navios que atracavam no cais do porto. Também recuperado o antigo portão do estaleiro Arataca, que situava-se embaixo da ponte Hercílio Luz, construído antes mesmo da ponte!

Os novos edifícios residenciais e comerciais, como o próprio Centro Executivo Carl Hoepcke, e a reabertura da ponte Hercílio Luz têm contribuído para revitalizar aquela região que ou por anos sendo degradada. Qual o potencial do Armazém para contribuir neste processo?

Já é um processo que vem acontecendo a nível mundial, cidades revitalizando seus centros históricos, ressignificando espaços que compõem a memória  afetiva de uma sociedade. O que falta ainda, na minha opinião, em Florianópolis, é um olhar mais atento do poder público a fim de impulsionar essa tendência que veio para ficar.

Durante as obras, houve alguma descoberta, uma surpresa?

Durante as obras de restauro, encontramos os trilhos dos vagonetes que faziam a ligação entre os galpões e o cais do porto. Colocamos vidros reforçados no local, deixando à mostra esse detalhe da época. Também encontramos  muitas amostras de pregos antigos, descartados pelo processo de seleção de qualidade no trabalho da metalúrgica.

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