Outono e tainhas 5d4w3s

É só sobrevoar a Ilha e conferir: há equilíbrio ecológico, não perdemos nossa cabeleira atlântica 3ku29

No outono de céu imaculado, as montanhas estão desenhadas contra o horizonte, as nervuras à mostra, como se estivessem nuas, usando, no máximo, as calcinhas verdes da mata litorânea.

É só sobrevoar a Ilha e conferir: há equilíbrio ecológico, não perdemos nossa cabeleira atlântica. Não há costelas áridas: algumas praias e montanhas ainda guardam certa virgindade. Do alto do Morro da Lagoa, o sol nascente é de um esplendor soberano, vindo lá da mãe África.

Pescadores de tainha na cidade de Governador Celso Ramos – Foto: Divulgação/NDPescadores de tainha na cidade de Governador Celso Ramos – Foto: Divulgação/ND

Impactado pela visão, o marinheiro-escritor, Virgílio Várzea, descreveu suas emoções diante do alvorecer testemunhado dessa inigualável janela: – É um dos maiores espetáculos que o olho humano já viu. E costurou, em renda de crivo, a impressionante descrição desse véu da manhã, descobrindo o ventre da Lagoa: – A luz vai se espalhando em dois efeitos diferentes – um no mar, de onde o astro se levanta, abrindo escamas de ouro fulgente na crista azulada das ondas; outro em terra, pelas encostas e cômoros, em que a luz bate em cheio, alourando as culturas, malhando de ocre as areias, acendendo na Lagoa visões de “fada” Morgana.

A friagem ainda não chegou pra valer,por enquanto o outono se faz anunciar apenas pelo azul profundo que se instala no firmamento, de onde o olho de Deus aprecia, em êxtase, sua própria obra.

Devemos fazer de conta que o calendário do frio não está atrasado,que não há “aquecimento das calotas antárticas” e que as tainhas desembarcadas no Mercado vêm da rede dos nossos manés – e não dos caminhões frigorificados.

Digamos que, de repente, o mar azul se encrespa, fica todo enrugado, os cardumes deixando seu rastro festivo no espelho d’água.– Tainha! – berra o olheiro, senha para que as velhas rendeiras afiem suas facas de escamar e os pescadores acendam o fogo para a escala de suas presas – “tainha fresca, tainha de corso, tainha ovada, ô, sinhora!”

“Entra-se a descer o morro– descreve Várzea – por onde a estrada coleia num leito de barro vermelho, pedregoso e cortado de córregos murmurantes e cristalinos,até quase o fim da encosta, onde se deitam as casas brancas da freguesia, banhadas em beleza”.

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