Nova terra, novos desafios: uma aventura que transformou Santa Catarina 67o4z

Este dia 6 de janeiro marca os 275 anos da chegada da primeira leva de açorianos enviados pela Coroa portuguesa para ocupar o litoral catarinense 73291

Este dia 6 de janeiro marca os 275 anos da chegada da primeira leva de açorianos enviados pela Coroa portuguesa para ocupar o litoral catarinense, no século 18. No início de 1748, o navio que trazia o grupo pioneiro de 461 pessoas fundeou ao largo da Baía Sul, onde as famílias permaneceram em quarentena antes de desembarcar na vila de Nossa Senhora do Desterro, antigo nome de Florianópolis.

Outras 14 viagens foram realizadas, resultando na transferência de cerca de 5.500 ilhéus do arquipélago para a Ilha de Santa Catarina, arredores e outros municípios — uma parte deles foi encaminhada depois para a futura capitania de Rio Grande de São Pedro, atual Estado do Rio Grande do Sul.

No livro “Corpo de ilhas”, a professora e escritora Lélia Pereira Nunes dedica um capítulo à cena imaginária da partida dos primeiros casais açorianos rumo ao Desterro – Foto: Leo Munhoz/NDNo livro “Corpo de ilhas”, a professora e escritora Lélia Pereira Nunes dedica um capítulo à cena imaginária da partida dos primeiros casais açorianos rumo ao Desterro – Foto: Leo Munhoz/ND

Os emigrantes precisaram percorrer 7,6 mil quilômetros para chegar ao Sul do Brasil. As viagens eram perigosas, atribuladas, mas muitos casais preferiram se expor aos perigos da travessia do que ar a carência de alimentos (decorrente da superpopulação nas ilhas) e os humores da geologia no arquipélago, maltratado por atividades sísmicas extremas.

Se hoje os Açores são uma região próspera e conectada com o mundo, nos anos das primeiras emigrações, de muito isolamento e pobreza, buscar novas terras era uma questão de sobrevivência. Para Portugal, interessava esse deslocamento, porque a parte meridional do continente americano era cobiçada também pela Espanha.

Situados numa área de 600 quilômetros, entre os extremos ocidental e oriental, os Açores são agentes de uma diáspora que levou muitos nativos para todos os continentes do mundo.

No entanto, a emigração registrada quase três séculos atrás teve características especiais: juntou a necessidade da metrópole de consolidar a presença no Brasil com a busca de novas perspectivas pelos moradores do arquipélago. Já havia ocorrido a transferência de açorianos para o Maranhão, mas a emigração para Santa Catarina foi a maior campanha organizada de vinda de estrangeiros para o país durante o período colonial, encerrada com a independência, em 1822.

No livro “Corpo de ilhas”, a professora e escritora Lélia Pereira Nunes dedica um capítulo à cena imaginária da partida dos primeiros casais açorianos rumo ao Desterro, no dia 21 de outubro de 1747. O local é o porto de Angra (hoje Angra do Heroísmo), na ilha Terceira, tomado pelo burburinho de quem parte, com suas alfaias e pertences, e de quem se despede — todos chorosos, uns pela separação e pelo temor do desconhecido, outros pelo receio de não mais ver parentes e vizinhos com quem estavam habituados a trocar palavras e a sentar juntos, nas praças ou no banco de uma igreja.

Legado de tradições que esconde um aprendizado 4f6y2q

Na primeira metade do século 18, alertada sobre os riscos da disputa territorial com os espanhóis no Cone Sul, a Coroa portuguesa ofereceu uma série de benefícios aos colonos dispostos a emigrar, incluindo agem gratuita e todas as facilidades para o estabelecimento na nova terra.

Cada família receberia um lote de terra (“dois quartos de légua em quadro”), um mosquete (arma de fogo), enxadas, machado, martelo, facas, tesouras, serrote, verrumas (furadores), dois alqueires de sementes, duas vacas, uma égua, além de um fornecimento de farinha suficiente para um ano.

A Coroa portuguesa ofereceu uma série de benefícios aos colonos dispostos a emigrar – Foto: Leo Munhoz/NDA Coroa portuguesa ofereceu uma série de benefícios aos colonos dispostos a emigrar – Foto: Leo Munhoz/ND

No arquipélago, os nativos cultivavam a terra, desenvolveram a cultura do trigo e das vinhas. Tentaram transportar para cá essas práticas, mas elas requeriam um clima que o litoral catarinense não oferecia.

Então, adaptaram seus conhecimentos e a tecnologia de que dispunham (como as atafonas ou engenhos) à produção de farinha de mandioca, que era um hábito ancestral dos indígenas que habitavam o litoral de Santa Catarina. Com as tribos da região também aprenderam a pescar, aproveitando o remanso dos rios e a calmaria das baías que separam a Ilha do continente.

Ao chegarem, os açorianos encontraram uma pequena vila de cerca de 300 habitantes. Depois dos primeiros tempos de receios com o mar, herança do convívio com o oceano indomável do hemisfério norte, construíram casas perto da orla e foram se agrupando, por conta da segurança que a proximidade conferia ao grupo em terras desconhecidas.

Culto ao Divino Espírito Santo viaja no tempo 6gg34

Uma das heranças mais autênticas e representativas da alma açoriana em todos os locais da diáspora é a religiosidade, e dentro dela o culto ao Divino Espírito Santo ocupa lugar de destaque.

Tradição e fé unem comunidades de Florianópolis para a realização da Festa do Divino – Foto: PMF/Arquivo/NDTradição e fé unem comunidades de Florianópolis para a realização da Festa do Divino – Foto: PMF/Arquivo/ND

No litoral catarinense, a devoção à Santíssima Trindade tem hoje a força dos tempos da emigração. Em países como os Estados Unidos e Canadá, para onde também foram muitos moradores dos Açores, especialmente ao longo do século 20, ocorreram adaptações aos costumes de cada região, mas os descendentes mantêm a fé e a expressam com grande fervor. Seja nas igrejas, seja nas festas, nas cantigas e rituais de caráter profano, essa veneração é uma marca da presença dos nativos dos Açores.

Com um vasto mosaico étnico, o Brasil também tem distintas formas de expressar o fervor ao Divino, agregando sempre elementos e a cor local a uma tradição multissecular. A Ilha de Santa Catarina é um dos pontos onde essa devoção se mostra muito consolidada, a ponto de o ciclo do Divino abarcar todas as localidades de maior expressão, de Canasvieiras ao Pântano do Sul. E são muitos os municípios do litoral para onde essa adoração se espraiou, de Barra Velha a Jaguaruna, sem falar nos vales que demandam para o interior e até em Lages e São Joaquim, na região serrana.

Autora do livro “Caminhos do Divino — Um olhar sobre a Festa do Divino Espírito Santo em Santa Catarina”, Lélia Nunes vê o culto como “um viajante no tempo”, sete séculos após a rainha Isabel de Aragão ter prometido peregrinar o mundo com o símbolo do Divino Espírito Santo (coroa com uma pomba no alto), colhendo donativos para os pobres, caso D. Dinis, seu marido, fizesse as pazes com D. Afonso, filho legítimo e herdeiro do trono, que disputava essa primazia com Afonso Sanches, filho bastardo do rei.

No entanto, o legado dos colonizadores é bem maior, e está também na gastronomia, nos cantos e danças, no artesanato, no folclore, nas técnicas construtivas, nas crendices, na medicina caseira e na literatura popular.

A origem dos açorianos que acreditaram no novo mundo o4q2w

Os Açores são compostos por três grupos de ilhas — as dos grupos central (Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial), oriental (Santa Maria e São Miguel) e ocidental (Flores e Corvo).

O arquipélago está situado a 1.300 quilômetros da Europa e a 2.000 quilômetros da América do Norte. Ainda hoje há atividades sísmicas nas ilhas, perceptíveis, por exemplo, na ebulição das águas do mar em alguns pontos da orla. Contudo, os abalos são monitorados e a população sabe lidar com eles, o que não acontecia no século 18, quando os moradores tinham apenas a devoção aos céus a que se apegar nos momentos de maior temor.

Por isso, na época, com o aval do Conselho Ultramarino português, o alistamento dos interessados em migrar para o novo continente atraiu um grande número de famílias. Uma vez instalados, os emigrantes trataram de cuidar da própria sobrevivência, ocupar a terra e deixar prole, garantido, do ponto de vista geopolítico, a posse de Portugal sobre o território.

A invasão espanhola, em 1777, ajudou a dispersar os moradores estabelecidos na Ilha de Santa Catarina. Ali, muitas famílias do Desterro se mudaram para o continente próximo e para os municípios como Penha, Barra Velha (então ainda pertencente a São Francisco do Sul), Porto Belo, Tijucas, Imaruí, Laguna e Tubarão.

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