Como diferentes etnias transformaram Florianópolis em uma cidade cosmopolita 5t5j56

Curador do projeto Floripa 350, professor Neri dos Santos traça contraponto entre os povos que colonizaram Florianópolis e o desenvolvimento da cidade no conceito EDI 4f5f64

Diversa, multicultural, uma colcha de retalhos: assim é a Capital catarinense, que há alguns anos deixou de ser provinciana para se transformar numa Florianópolis cosmopolita. A Ilha da Magia se tornou uma cidade no conceito EDI, que abraça sua gente com equidade, diversidade e inclusão.

Florianópolis se consolidou como uma cidade plural e multifacetadaFlorianópolis se consolidou como uma cidade plural e multifacetada – Foto: Flávio Tin/Arquivo/ND

É claro que essas características que fazem de Florianópolis uma das melhores cidades para se viver no país não surgiram agora. O professor Neri dos Santos, curador de inovação do projeto Floripa 350, pontua que essa Ilha, tão multifacetada, não é resultado apenas da colonização.

Mais recentemente, a cidade recebeu imigrantes de povos estrangeiros, mas essencialmente muitos brasileiros, que foram conquistados por estas terras e decidiram aqui viver, além é claro, investimentos em educação, tecnologia e políticas públicas.

Florianópolis é uma cidade EDI 1w6u6r

Santos explica que Florianópolis é uma cidade EDI, termo relacionado à cidades inteligentes, nas quais destacam-se três pontos fundamentais para o desenvolvimento e qualidade de vida das pessoas e do município: a equidade, a diversidade e a inclusão.

“Quando se tem uma cidade muito monolítica, em termos de desenvolvimento étnico ela se desenvolve pouco. Tem uma expressão que faz todo o sentido neste caso: ‘toda a unanimidade é burra’. Se tu tens a mesma cultura, esta cultura se reproduz e pouco se desenvolve. Quando se tem uma diversidade cultural, de gênero, isso transforma a cidade”, explica Neri dos Santos.

Além da diversidade, tem outros dois fatores importantes para essa cidade cosmopolita. “Primeiro é que Florianópolis é um dos municípios que tem a maior equidade do País. O termo refere-se à igualdade de oportunidade para todos. Floripa é uma cidade que acolhe, abraça e faz com que as pessoas se desenvolvam”, salienta o curador de inovação do Floripa 350.

O terceiro ponto é que Florianópolis é inclusiva: “A cidade é inclusiva social e, consequentemente digital, se tu pegares a maior parte dos empresários do setor de tecnologia, por exemplo, eles não são pessoas de famílias ricas. Geralmente vieram de famílias modestas que vieram pra cá estudar, ficaram e criaram empresas. Agora, a partir de seu trabalho começam a ter notoriedade e desenvolvimento financeiro”, acrescenta o estudioso.

Imigração como chave da diversidade de Florianópolis 6v3j71

O professor Neri dos Santos salienta que as diferentes etnias que imigraram para a cidade construíram essa identidade pluralista que Florianópolis tem.

Isso começou a ser desenhado desde os primeiros habitantes da Ilha: os Carijós. Depois vieram os portugueses, mas pode-se dizer que Florianópolis ou a ter uma importância de natureza sócio econômica com a imigração açoriana.

“Eles deixaram grande legado em todas as áreas em especial à arquitetura. À época, foram responsáveis pelo desenvolvimento da pesca e, evidentemente, da construção dos barcos. Além de pescadores eram excelentes carpinteiros e trouxeram essa arte para cá”, diz.

Arquitetura é um dos legados do povo açoriano deixou a Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/NDArquitetura é um dos legados do povo açoriano deixou a Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/ND

Na sequência, vieram para cá os imigrantes alemães, com uma cultura técnica mais atualizada.

“Eles tinham um nível de escolaridade mais elevado com preocupação em termos educacionais e incentivaram a construção de uma rede educacional para Florianópolis. Também tivaram destaque nas implementações das lojas de ferragens que se espalharam pelo Estado”, pontua o professor Neri dos Santos

Depois vieram os gregos. “Eles tiveram importância significativa no comércio de atacado. O varejo já existia numa atividade de subsistência, os gregos trouxeram as grandes lojas. O pessoal vinha para cá comprar, por exemplo, peças de tecidos para fazer ternos, camisetas, vestidos”, destaca o curador.

Chegamos na imigração dos sírio-libaneses, que se destaca na implementação do comércio varejista na Capital. Aí, temos que esclarecer um equívoco que muita gente faz quando se fala da colonização de Florianópolis.

“Muita gente chama estes povos de turcos, mas eles não são. Praticamente não tivemos imigração de turcos, mas sim sírio-libanesa – no Brasil o povo nativo fez uma simplificação do termo para dizer que todo mundo que veio do meio oriente é turco, evidentemente não é”, esclarece o especialista.

Mais recentemente chegaram os italianos. “Da Itália veio uma inovação muito grande para o fortalecimento da gastronomia de Florianópolis e também da rizicultura”, conta o professor Neri dos Santos, que faz outra ressalva. “Muita gente não sabe, mas a metade das descendências dos catarinenses é de povos italianos. Muitos pensam que são dos alemães, mas estes correspondem apenas a um terço”.

“Mas de fato, o fez com que a cidade se tornasse roteiro gastronômico foi a imigração de pessoas do próprio Brasil. Gente de outros estados que vieram para cá morar em busca de uma cidade mais segura, das belezas naturais de Floripa e da tecnologia. Isso modificou a cultura de Florianópolis”, conta Santos.

Outros povos que também formaram colônias em Florianópolis e trouxeram inovações para a cidade foram ses, argentinos, uruguaios, paraguaios, venezuelanos, haitianos, russos, entre outros.

Seis povos que fizeram de Florianópolis seu lar r4c2f

Indígenas: antes da chegada dos europeus, a região era habitada por diversas tribos indígenas, como os Guarani e os Carijós. Ainda há comunidades indígenas presentes na Grande Florianópolis;

Portugueses: tiveram um papel fundamental na colonização do Brasil. Na Ilha fazem parte da estrutura da cidade, arquitetura, cultura e costumes até os dias atuais;

Açorianos: chegaram à região no século  XVIII e deixando marcas na profissionalização da pesca, indústria náutica e tradições culturais e religiosas da Ilha;

Africanos: Durante o período colonial e a escravidão, muitos foram trazidos para cá como mão de obra. A presença africana contribuiu significativamente para a cultura brasileira;

Imigrantes europeus: no final do século XIX. Destaque para os gregos que fortaleceram o comércio, italianos que investiram na gastronomia e alemães que desenvolveram a indústria, serviços e educação;

Sírio-libaneses: chegaram no final do século 19 em busca de oportunidades econômicas. Aqui ajudaram a fortalecer o comércio.

Curador de inovação do projeto Floripa 350 explica como a Florianópolis se tornou cidade plural 3k1pr

O curador de inovação do projeto Floripa 350, professor Neri dos Santos, conversou com o jornalista Windson Prado e explicou a construção social, política e cultural que fizeram com que a provinciana Desterro se tornar a acolhedora e multicultural Floripa.

Acompanhe a entrevista abaixo:

  • Florianópolis é uma cidade que respira diversidade, no sentido mais plural da palavra. Como se deu esta vocação da Ilha?

“Sim. Somos uma cidade cosmopolita. Isto é um legado que começou há muito tempo, se intensificou nos últimos 20 anos e tem sido inspiração para uma cidade ainda mais inclusiva no futuro”.

  • Agora que sabemos da colonização, o que mudou nos últimos 20 anos?

“Uma intensificação da pluralidade, uma forte transformação multicultural, quando Florianópolis deixa de ser uma cidade provinciana. Mesmo sendo capital, tínhamos pouca atividade sobretudo de natureza econômica e cultural.

Mudamos esta característica devido a três questões, chamamos de três fatores que são críticos para o sucesso para a cidade”.

  • Quais são eles?

“O primeiro foi a diversidade étnica. Indígenas, portugueses, açorianos, africanos, alemães, gregos, sírio-libaneses, e mais recentemente os imigrantes ses, argentinos, uruguaios, paraguaios, venezuelanos, haitianos e até russos, mas principalmente brasileiros de outros estados que escolheram viver em Florianópolis, transformaram a ilha em multicultural”.

  • O investimento em educação e tecnologia também entra nesta questão?

“Sim, foi fundamental. Nos últimos anos Florianópolis se transformou em uma cidade universitária que atrai muitos jovens para fazer graduação e especializações. Esta cidade universitária evoluiu de forma significativa na área de ciência e tecnologia.

Somos hoje o lugar do País que tem mais número de doutores em proporção à população. Superamos Campinas que sempre teve vanguarda neste quesito. Este é o segundo fator crítico para o sucesso para a cidade”.

  • E o terceiro, qual é?

“É o desenvolvimento do ecossistema de inovação. Florianópolis é um polo educacional, a cidade acabou absorvendo novos profissionais especializados, destaque para a tecnologia de informação. Somos hoje a cidade que tem o maior número de startups por habitantes no país”.

  • Esta mudança na característica da cidade, com investimentos em educação, políticas públicas para atrair novos moradores foi algo natural ou planejado?

“Foi pensado e é o resultado de ações contínuas que no futuro vão ampliar ainda mais esta vocação pluralista da cidade. Há de se destacar algumas ações e pessoas como o professor Caspar Erich Stemmer, que foi reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, diretor do Centro Tecnológico e chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da instituição.

Atrás dele vieram muitas pessoas, inclusive eu. Junto a outros nomes importantes a cidade foi se planejando e criando aquilo que hoje é o ecossistema de inovação”.

Professor Neri dos os é o curador de Inovação do Projeto Floripa 350 – Foto: Reprodução/NDProfessor Neri dos os é o curador de Inovação do Projeto Floripa 350 – Foto: Reprodução/ND
  • Políticas públicas também são importantes? 4n4m22

“Muito. E mais do que criá-las é preciso dar continuidade às ações para consolidar uma cidade cosmopolita. Eu explico como isso aconteceu aqui.

No governo Paulo Afonso foi criada a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina). A ação foi uma continuidade ao que estava sendo feito pelo gestor anterior, Vilson Pedro Kleinübing. Saindo o Paulo Afonso entrou o Esperidião Amim que deu sequência a muitos projetos, inclusive, iniciou o Sapiens Parque. Luiz Henrique assumiu o Governo do Estado e deu continuidade, assim como Raimundo Colombo, Moisés da Silva e agora tem feito Jorginho Mello.

Tivemos a sorte de isso também acontecer na política municipal. Exemplo, quando Ângela Amim esteve à frente da Prefeitura de Florianópolis, foi criada a maricultura na Ilha. Desde então, todos os prefeitos seguem apoiando o segmento, que está fortalecido. Então é fundamental que o poder público continue as políticas públicas para efetivar o conceito de cidades inteligentes”.

Floripa 350 6j3f1m

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

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