“Rir é um ato de resistência”, já dizia Paulo Gustavo, que morreu em maio de 2021, vítima da Covid-19. E resistência é uma palavra que as mulheres conhecem bem, inclusive no universo do humor.
No Dia do Comediante, celebrado neste domingo (26), a Diversa+ conversou com duas humoristas da cena de Florianópolis. Elas contaram como trilharam o caminho da comédia e os obstáculos que precisam vencer para galgar seus espaços.

A comédia começou a ser encenada na Grécia antiga por volta de 500 a.C. Diferente das tragédias gregas, em que os personagens eram nobres e heróis, nas comédias os atores eram pessoas comuns da polis, muitas vezes estereotipadas e caricaturadas.
Por meio do riso, a comédia abordava temas relacionados ao cotidiano e inspirava críticas e revoluções sociais.
Ainda hoje o humor segue pautando discussões modernas e sociais. Áry Palma, de 34 anos, conta que chegou no mundo do stand up comedy em 2018 após levar “um pé na bunda” do ex-namorado, e destaca as dificuldades que ainda precisa enfrentar para se manter na cena.
“É difícil ser mulher e participar ativamente, pois mesmo sendo uma artista com vivência de palco, não é simples me manter em evidência. Os desafios não são particulares e, sim, sociais. O início está sempre ligado ao fato de as mulheres terem que provar que são engraçadas para exercerem o seu trabalho”, argumenta.
Gabriela Vergara afirma que a cena do stand up comedy existe há cerca de quatro anos em Florianópolis, e que há um ela vem se apresentando em bares e quebrando preconceitos e estereótipos.
“Muita gente comenta que mulher não sabe fazer comédia. Costumam falar que piada de mulher é ruim. Daí a gente sempre precisa provar algo a mais”, observa.

Áry, que se inspira na comediante Renata Said, conta que em alguns momentos precisou disputar espaço com homens que, por exemplo, tiveram vergonha de se apresentar. “Mesmo que a mulher esteja no mesmo lugar que o cara, ela precisa por cima de muitas coisas”, afirma.
Mas a contrapartida para as dificuldades na rotina também vem em peso. “Recebo muitas mensagens de apoio ao meu trabalho. Esses elogios fazem toda a diferença. Me dá vontade de trabalhar mais e produzir mais. É natural que no stand up falemos de nós mesmos. A galera se identifica e a identificação traz o riso”, complementa ela, que atualmente está em São Paulo abrindo os shows de comediantes solos.
“No final do ano pretendo estrear meu show solo intitulado Tudo Verdade”, ressalta.

Gabi conta que Mhel Marrer é sua grande fonte de iração por conseguir abordar temas considerados pesados de forma leve. Segundo a humorista, a identificação relatada pelo público com as temáticas que ela leva para o palco costuma ser imediata. “Isso é o mais incrível”, diz ela.
Áry finaliza o bate-papo com um recado: “Toda mulher precisa ter a oportunidade de pegar no microfone, se quiser, por uma questão de reparação histórica. Você pode até não ser engraçada, mas aqueles cinco minutos vão te dar voz”, finaliza.