Aos 35 anos, a atriz Lize Souza interpreta a heroína catarinense Anita Garibaldi na série documental “Anita: Amor, Luta e Liberdade”, que a NDTV vai lançar no dia 28 deste mês. Para ela, a personagem não é nenhuma desconhecida. Aliás, não seria exagero dizer que Lize é a atriz que mais interpretou a conterrânea Anita nos palcos e sets da vida.

Com quase 20 anos de profissão, Lize recorda que fazia teatro amador na escola quando, em 2003, aos 17 anos, teve a primeira grande oportunidade de atuar para o público brasileiro, quando foi escalada para interpretar Anita aos 14, no espetáculo “Tomada de Laguna”, ao lado das atrizes Samara Fellippo, que fazia Anita aos 18, e a lagunense Cida Milese, aos 28. Neste espetáculo também atuaram Werner Schumann e Tarcísio Filho.
No ano seguinte, 2004, o auge do espetáculo, ela assumiu novamente o papel de Anita, desta vez dos 14 aos 18 anos. “A direção não viu a necessidade de trazer uma atriz global, e as duas atrizes lagunenses assumiram o papel”.
Depois deste papel, veio o convite para atuar no longa metragem “A Retirada”, também no papel de Anita, contracenando com grandes atores. Logo depois, participou de outro longa, uma produção ítalo-brasileira onde a atriz que faria Anita já estava escalada, mas Lize interpretou três personagens na mesma trama.
Com o currículo que angariou, tomou coragem e foi para o Rio de Janeiro, onde morou por 13 anos, estudou, especializou-se e atuou em novelas, filmes, apresentou programas políticos e incrementou ainda mais seu currículo. O que falta nele? Entre risos, Lize diz que falta interpretar uma mocinha romântica em perigo, pois quando não é Anita sempre é chamada para interpretar uma personagem forte.

Personagem de uma vida
Lize ite que Anita Garibaldi é a personagem de sua vida, mas esclarece que não é atriz de uma personagem só e aguarda ansiosa o dia em que for a heroína romântica.
Hoje, de volta a Laguna, sua terra natal e da personagem a que dá vida, trabalha no ano do bicentenário e, entre uma Anita e outra, se dedica também à formação acadêmica em letras, português e literatura, onde pretende prosseguir com mestrado e doutorado.
Lize acredita não ter muitas características físicas semelhantes com Anita, que na Itália era chamada “la brunetta” pela pele mais morena. Dizem também que ela era corpulenta e tinha sardinhas no rosto. “Tenho a pele mais clara. Nossa semelhança deve ser pelos cabelos longos e os quadris mais largos, mas só nestes aspectos.”
ENTREVISTA:
Anita te abriu portas para a dramaturgia aos 17 anos, como se deu sua formação profissional?
Depois de “A Tomada de Laguna” e os longas, com este currículo que angariei no Sul fui me apresentar para as grandes metrópoles. No Rio de Janeiro, onde morei por 13 anos, estudei cinema e me especializei nesta que é a arte visual que mais me encanta. Fiz workshops, participações em filmes, em 2008 fiz “A Guerra dos Rocha”, protagonizado por Ary Fontoura e com direção de Jorge Fernando; participei na fase final da novela global “Paraíso Tropical” e apresentei programas políticos do PPS, entre outros.
Até que em 2015, fui convidada para o filme dos meus sonhos, o longa “Anita”, lançado em 2016. Participou de vários festivais e ganhou três estatuetas no Festival Internacional do Cinema Cristão, no Rio de Janeiro, de melhor figurino, melhor direção de arte e o de melhor atriz, onde pude levar a estatueta para casa, deixando para trás várias atrizes mais famosas, o que foi muito bom. Levar Anita para o Sudeste do Brasil era um sonho… fazer com que as pessoas se apaixonassem por ela. E eu consegui fazer isso nesta noite.

Já tinhas conhecimento da história da Anita?
Eu sou de Laguna, fator que facilitou meu processo de construção da personagem, mas eu vivi esta transição do momento que as pessoas julgavam Anita como meretriz, vagabunda, adúltera, e precisei desconstruir essa imagem. Na minha infância, ela era isso. Ela era vilã. Mas meu interesse foi aumentando, e comecei a pesquisar, percebi que a mentalidade dela fazia com que fosse julgada desta forma, e com muitas informações deturpadas. Então, vivi um momento de desconstrução e busquei a fundo quem foi Anita Garibaldi, para construir uma ova rede de informações a respeito dela.
“Eu vivi esta transição do momento que as pessoas julgavam Anita como meretriz, vagabunda, adúltera, e precisei desconstruir essa imagem.”
Como é esta trajetória de viver Anita?
Há 18 anos eu interpreto este papel sempre com um desafio diferente. Embora tenha a mesma idade que ela quando a interpreto, é muito desafiador ar a maturidade desta mulher do século 19, pois as configurações de maturidade feminina são muito diferentes. E a construção da heroína é diferente, tem critérios diferentes da construção do herói. Sou muito apaixonada por esta figura e sempre que puder, vou entregar o melhor de mim, do meu corpo, da minha voz, da minha emoção, para que as pessoas possam continuar se apaixonando por ela.
O que foi mais difícil na construção da personagem?
Foi um processo bem complexo. Aos 17 anos, quando fui chamada para fazer “A Tomada de Laguna”, o primeiro grande trabalho, fiz toda uma preparação física e de rotinas campeiras, eu não sabia andar a cavalo, aprendi a montar a cavalo, empinar o cavalo, cair do cavalo, cena de guerra, tocar boi, laçar, dar tiro de cima do cavalo, o que me ajudou muito depois, em outros trabalhos, onde pude valorizar meu trabalho e dispensar dublê. A única coisa que não faço é montar cavalos que não foram domados. Houve preparação física e intelectual também, aprendi sua biografia, o contexto histórico, para poder dar entrevistas e poder defender o legado dela, reunindo posicionamento de escritores de todo o mundo, até escritores da Grã-Bretanha que escreveram biografias sobre Anita, e hoje defendo seu legado como atriz, para que a memória dela jamais se apague.
E qual foi o maior desafio da série documental da NDTV?
Foi construir a Anita mãe, pois não tenho nenhuma referência. Não sou mãe, não tenho filhos e não tenho a mínima dimensão do que é esta dor, de perder uma criança de dois anos em seu colo. Neste sentido, para ser fiel a uma mãe que perdeu uma filha no colo, precisei de uma preparadora, A Karem Suyan. Ela me ajudou muito neste sentido, pois ela é muito focada na questão da maternidade e me ajudou a trazer uma possível mãe de dentro de mim.
“Para a série, a maior dificuldade foi fazer a Anita mãe. Não sou mãe, não tenho filhos e não tenho a mínima dimensão do que é esta dor, de perder uma criança de dois anos em seu colo.”
O que Anita representa na sua carreira de atriz?
Anita é o carro-chefe da minha carreira. Ela é o papel da minha vida, o que levo com muito carinho. As pessoas até brincam que sou uma atriz de um personagem só, mas não é isso. Ela virou referência do meu trabalho e não dispenso uma boa oportunidade. Neste ano, a NDTV me apresentou um grande desafio, de fazer uma outra Anita. Estava acostumada a fazer a Anita aos 18 anos, quando conhece Garibaldi, quando deflagraram as primeiras batalhas juntos. Mas nunca vivi a Anita mãe de três filhos, dona de casa, vivendo com seus conflitos de não estar na sua missão, que é a guerra. E as pessoas tem que entender que além de lagunense e catarinense, ela é uma heroína brasileira. Ela é a mãe da República, deste regime que hoje concebemos como tal. Para mim, como atriz, é um privilégio. Vivo o papel dos meus sonhos desde a minha adolescência.
Que personagens interpreta quando não és Anita?
Quando não sou Anita, isso é engraçado. Já fui delegada, sempre personagens com energia masculina muito forte. Nunca me chamaram para fazer uma donzela apaixonada em perigo, é algo que sempre quis fazer, nunca encontraram este perfil em mim, mas tenho capacidade para papéis desta natureza. Também trabalhei na novela “Os Dez Mandamentos”, da Record TV, onde era uma das esposas do faraó Ramses 3º, personagem do ator Sérgio Marone. Enfim, faço um apelo, estou aguardando ansiosa o convite para fazer uma donzela em apuros (entre risos).
“Faço um apelo, estou aguardando ansiosa o convite para fazer uma donzela em apuros.”
És a atriz que mais interpretou Anita?
Acredito que sim. Sempre que há um projeto relacionado a ela sou lembrada. Somando, são duas edições do mega espetáculo teatral “A Tomada de Laguna”, fiz os filmes “A Retirada”, “Anita Amor e História”, “Anita” e agora estou fazendo o sexto trabalho na série documental da NDTV e me preparando para o retorno de “A Tomada de Laguna” em novembro, somando sete trabalhos na pele de Anita.