A cerimônia do Oscar é celebrada, de forma oficial, desde 1929. Já contando o ano de 2022, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas realizou 94 edições da premiação, considerada como a maior e mais renomada da cinegrafia mundial.
Apesar do evento ser quase centenário, foi somente em 2010 que o prêmio de Melhor Direção foi entregue, pela primeira vez, para uma mulher. Quem recebeu a estatueta dourada foi a cineasta estadunidense Kathryn Bigelow, pelo longa-metragem “Guerra ao Terror”.

A cena somente seria repetida 11 anos depois, em 2021, quando a diretora e roteirista chinesa Chloe Zao se tornou a primeira mulher não branca a vencer a categoria, pelo filme “Nomadland”.

A falta de representatividade feminina assusta, ainda mais quando o exemplo utilizado diz respeito a apenas uma ínfima parcela do cenário feminino dentro do mundo cinematográfico.
A situação causa comoções até mesmo entre as atrizes de Hollywood. Em 2020, a atriz Natalie Portman, com o auxílio da marca Dior, protestou contra a falta de indicações femininas na categoria.
Trajando um longo vestido preto, Natalie bordou em sua vestimenta os nomes de diversas diretoras que foram “boicotadas” pela Academia no ano de 2020 e não receberam indicações por seus longa-metragens. Entre as escolhidas, estavam Greta Gerwig e Lorene Scafaria, pelos filmes “Adoráveis Mulheres” e “As Golpistas”, respectivamente.
A atriz é considerada desde então como um símbolo de luta pela equidade entre homens e mulheres no cinema e nas premiações. Entretanto, apesar das constantes manifestações no audiovisual, muito pouco foi feito até o momento para obter mudanças neste cenário.
Pesquisas mostram situação derradeira 3oq4m
Uma pesquisa realizada pela BBC Culture’s World Cinema em 2018 tinha como objetivo reunir os 100 melhores filmes estrangeiros do cinema mundial. Para isso, 209 críticos foram selecionados, com a missão de eleger, cada um, seus 10 filmes estrangeiros preferidos.
Mas antes de partimos às produções, dos 209 profissionais eleitos para o cargo, somente 94 eram mulheres, ou seja, 45%. Para atingir um equilíbrio entre os gêneros, ao menos outras 10 mulheres deveriam ter sido nomeadas.
O número só não é mais expressivo do que os filmes eleitos pelos críticos.
Após a curadoria dos 100 longas-metragens, o resultado foi surpreendente: apenas 4 foram dirigidos por mulheres. A lista trouxe os nomes de Chantal Akerman, Claire Denis, Agnès Varda e Katia Lund.
O dado mostra com clareza como os homens ainda conquistam a majoritária por trás das câmeras do cinema mundo afora, e infelizmente, o cenário brasileiro não foge dessa perspectiva.
O levantamento “Participação Feminina na Produção Audiovisual Brasileira”, feito pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) também em 2018, mostrou que apenas 20% dos mais de 2 mil títulos registrados naquele ano foram dirigidos por mulheres.

Com exceção da direção de arte e produção executiva, os números da participação feminina no audiovisual brasileiro são mínimos.
Para Cíntia Domit Bittar, sócia da Novelo Filmes em Florianópolis, “num país onde a maioria do povo é mulher, é preocupante termos tão poucas produções feitas por mulheres”.
Na arte, nós comunicamos 5nv6g
“Na arte, nós comunicamos, e isso [a participação feminina] tem um peso muito importante”, garante Cíntia. Por conta disso, a cineasta comenta que as narrativas precisam ser pensadas, tanto em frente quanto atrás das câmeras, por meio de uma equipe de mulheres.
“Mais do que uma suposta visão feminina do mundo, eu creio que a vantagem de ter mulheres executando essas propostas é que só nós experimentamos o mundo como mulheres”, frisa.
Para ela, mudanças no cenário do cinema mundial podem ser feitas a partir do momento em que mais mulheres tomem as decisões cinematográficas.
“É um sistema interligado. É uma grande rede que precisa ser mudada, em todos os departamentos profissionais artísticos”, comenta Cíntia.
A cineasta ainda aponta que papéis de destaque devem também ser dados às mulheres, mas não como uma versão feminina do que já foi interpretado por homens. “As mulheres merecem ter suas próprias histórias, com enredos cativantes e instigantes”.
Querer x realidade 5203o
Em uma narrativa de mundo capitalista, onde o dinheiro move as produções cinematográficas, é notável a influência que os homens têm nos longas e curtas-metragens, principalmente quando a questão é verba.

Para se ter ideia, entre as 10 produções mais caras da história da Marvel Studios, nenhuma delas era estrelada por mulheres. O ranking põe em 10ª colocação o longa “Pantera Negra”, com gastos em torno dos US$ 200 milhões.
Logo atrás, em 11°, está “Viúva Negra”, estrelado por Scarlett Johansson. O filme tem como foco a vida de Natasha Romanoff, uma das únicas personagens femininas do universo da Marvel a ganhar destaque entre os super-heróis.
“O orçamento de filmes feito por mulheres é menor. Ainda mais se for de ação ou violência”, diz Cíntia. Ela completa falando que “ainda falta o que ser feito na representatividade de gêneros. A gente sente quando as personagens estão lá apenas para cumprirem cotas”.
Diversidade 6g4b47
Por mais que a história do cinema tenha sido contada e escrita, em sua maioria, por homens, há takes femininos que marcaram época. Esse é o caso da diretora e roteirista Alice Guy-Blaché, que em 1896 foi a primeira mulher a enfrentar os paradigmas de seu tempo.
Assim, o filme “A Fada do Repolho” nasceu, criando consigo o conceito de cinema narrativo. Por conta desse feito, Alice é até hoje considerada como a mãe do cinema.
Falando em considerações, a atriz Maryl Streep é considerada por muitos críticos como a melhor de sua geração. Maryl é recordista de indicações ao Oscar. Até hoje, ela já recebeu 21 nomeações. Dessas, três vezes Streep levou para casa as estatuetas douradas.
Enquanto isso, o Brasil também não fica de fora da lista de renome, emplacando Fernanda Montenegro como a primeira mulher latina e a única brasileira a ser indicada à premiação.
Os nomes estão dados. As narrativas, escritas, interpretadas e lançadas. Basta agora termos o reconhecimento que tantas mulheres buscam mundo afora. Cíntia Domit Bittar relembra que “quando um cinema é mais plural e diverso, as histórias também são”.