Crítica: ‘Barbie’ combina humor, ataque ao patriarcado e reflexões sobre o que é ser humano 3g12l

Veja a crítica completa do filme 'Barbie', o primeiro live action da boneca mais famosa do mundo; longa-metragem teve sessões de estreia à meia-noite desta quinta-feira (20), na Grande Florianópolis v1y14

Você deve ter visto alguma notícia sobre esse filme nos últimos dias ou se deparado com alguém vestindo rosa, em alusão ao que pode ser considerado um evento cinematográfico de 2023. “Barbie”, o primeiro filme live action sobre a boneca mais conhecida do mundo, chegou às telonas nesta quinta-feira (20) causando.

Há anos não se via uma demanda por ingressos como esta. Segundo a Warner Bros. Brasil, foi a maior pré-venda da história da distribuidora no país, superando franquias colossais como Harry Potter e Batman.

Primeiro filme live action da Barbie estreou nesta quinta-feira (20) – Foto: Divulgação/NDPrimeiro filme live action da Barbie estreou nesta quinta-feira (20) – Foto: Divulgação/ND

Na Grande Florianópolis, alguns cinemas organizaram sessões de meia-noite – a maioria com ingressos esgotados. Acompanhei o tapete rosa estendido no Cinépolis do Continente Shopping, em São José, onde cerca de 450 pessoas lotaram três sessões simultâneas, que reuniram público, convidados, imprensa e influenciadores.

O fenômeno era visível logo na entrada, com espectadores esbanjando looks inspirados na boneca, tradicionalmente associada ao rosa, ou encaixando peças da cor de forma mais tímida. Apesar da explosão colorida, não se engane: “Barbie” não é para crianças – a classificação indicativa é para maiores de 12 anos.

Comandado por Greta Gerwig, que escreveu e dirigiu o indicado ao Oscar “Lady Bird: A Hora de Voar”, o longa coloca a protagonista diante de problemas que vão bem além da escolha por um conjunto de roupas.

Margot Robbie vive a boneca, que deixa a Barbieland e vem para o mundo real, onde busca respostas para questões profundas e soluções para defeitos que a afligem. Em meio a tudo isso há Ken, vivido por Ryan Gosling, um boneco apaixonado por ela e tradicionalmente esnobado de maneira inocente.

Atenção: o texto abaixo possui spoilers do filme, incluindo revelações importantes sobre a história.

Barbie e o encanto cor-de-rosa 1c2o2h

A introdução do filme já mostra a proporção da boneca no mundo fictício que está prestes a ser apresentado, tratando a invenção da Barbie como um momento determinante para a humanidade. A trilha épica de “2001: Uma Odisséia no Espaço” e a poderosa narração da atriz britânica Helen Mirren só reforçam essa noção.

Assim que chegamos a Barbieland, onde vivem todas as bonecas, o filme não perde o fôlego. O ritmo da montagem, a trilha deslumbrante e os cenários coloridos dão a sensação de que há muito mais a ser notado em cada quadro além daquilo que os olhos conseguem captar.

Barbieland é uma explosão de tons pastéis – Foto: Divulgação/NDBarbieland é uma explosão de tons pastéis – Foto: Divulgação/ND

Não há uma mão gigante controlando as dezenas de Barbies, mas aceitamos, logo de cara, que elas flutuam em direção ao carro como se estivessem sendo colocadas lá por alguém. Os movimentos e articulações limitadas, bem como os sons de plástico em movimentos extremos, dão mais sentido a esse mundo.

O cenário vividamente colorido, em tons pastéis, é encantador e remete às coleções da boneca, lançadas pela Mattel há mais de 60 anos. A cereja do bolo é o conjunto de fundos que compõem o horizonte, com céu azul e montanhas pintadas dentro dos estúdios. A ideia de Greta Gerwig era emular o que foi feito em “O Mágico de Oz”, em 1939, garantindo um senso de “autenticidade artificial”.

Barbie e a trilha que embala 4c5a73

A curadoria da trilha sonora é de Mark Ronson, DJ e produtor britânico que já trabalhou em sucessos de Lady Gaga, Bruno Mars, Amy Winehouse e Adele. O resultado é uma seleção de faixas que combinam com a estética do longa.

O tom otimista do início do filme é dominado pela animada Dance the Night, que carrega um magnífico número musical com todas as Barbies. A faixa é cantada por Dua Lipa, que tem uma tímida ponta no longa.

As sequências musicais de Ryan Gosling se alongam um pouco na reta final, mas seu propósito fica claro algum tempo depois. I’m Just Ken ajuda a elaborar a personalidade do boneco, para que, mais tarde, ele feche seu arco de autoaceitação.

É a melancólica What Was I Made For?, cantada por Billie Eilish, que melhor representa os dilemas do filme. Com um clipe recém-lançado, a canção potencializa emocionalmente o fim da jornada da protagonista.

O choque de Barbie no mundo real 30u3c

A Barbie Estereotipada, o modelo da boneca vivida por Margot Robbie, acorda em mais um dia como os demais. Ela tem ciência de que vive a perfeição em um mundo perfeito. O ontem, o hoje e o amanhã são sempre assim.

Barbie se depara com novos desafios no mundo real – Foto: Divulgação/NDBarbie se depara com novos desafios no mundo real – Foto: Divulgação/ND

É quando surge um pensamento sobre a morte que a vida da protagonista começa a se deslocar dessa realidade graciosa. Chocadas, as colegas acreditam que ela está com defeito. As coisas pioram quando, repentinamente, seus pés não se adequam mais às sandálias de salto e a boneca se depara com sua primeira celulite.

A real é que a Barbie de Margot Robbie percebe o que muitos de nós demoramos para assimilar. Se todos os dias são brilhantes e excepcionais, há algo de errado. A vida não é assim e essa não deve ser a meta de ninguém. É preciso de altos e baixos para ter uma perspectiva genuína do mundo.

E é quando a boneca chega ao mundo real que o filme muda de tom e abraça o realismo, tanto com seus aspectos cruéis quanto afetuosos. Mesmo se ando na não tão realista e tradicionalmente plastificada Los Angeles, a nova fase da trama sacode as noções de Barbie. É o primeiro contato dela com assédio, ridicularização e tons acinzentados.

Em prol da mudança 2a4g4e

A introdução da Mattel, empresa que criou a boneca em 1959, traz uma pegada cartunesca, à la “Looney Tunes: De Volta à Ação”. A corporação é sugerida como a força antagonista, mas isso não chega a se concretizar. Um dos embates principais estava em Barbieland o tempo todo e se chama Ken.

America Ferrera, no papel de Gloria, tem uma das melhores cenas do filme – Foto: Divulgação/NDAmerica Ferrera, no papel de Gloria, tem uma das melhores cenas do filme – Foto: Divulgação/ND

É com a personagem mais mundana, entretanto, que o filme mais encanta. O monólogo de Gloria, interpretada por America Ferrera, é entregue de forma crua, comparando as exigências alheias vivenciadas pelas mulheres em diferentes aspectos da vida.

O conjunto de falas transcende um diálogo de roteiro, soando como uma soma de revolta e angústia entaladas na garganta da atriz. É isso que dá sentido, mais tarde, à ideia da criação de uma Barbie comum, sem pressões profissionais ou de beleza.

“Barbie” ilustra a importância de rever a nossa ótica sobre o mundo e entender que a insatisfação e as mudanças fazem parte. Ao perceber o poder que possui, a boneca se sente segura sobre a jornada de autoconhecimento e pode dar um o adiante. Antes de pôr em prática essa mudança, ela ainda consegue iluminar a vida das colegas e ajudar até mesmo Ken a viver em plenitude.

‘Barbie’ critica e debocha 3q4867

Apesar de tirar sarro de como a Barbie é um grande símbolo do capitalismo e afeta a percepção de mulheres sobre o padrão de beleza há seis décadas, o filme consegue ser mais do que isso. Ele traz uma reflexão final sobre o que é sentir e ser verdadeiramente humano, além de fazer pensar sobre a importância de enfrentar o incógnito.

Talvez, para realmente conseguir curtir o filme, seja preciso entrar na brincadeira despretensiosamente e entender as limitações de um blockbuster de um poderoso estúdio de Hollywood. Quem sabe a banca de diretores da Mattel, representada neste longa por uma dúzia de homens, não seja tão diferente da que comanda a Warner Bros.. Ambas, no entanto, são responsáveis pelo rumo da boneca.

“Barbie” debocha e ao mesmo tempo critica exatamente o que é: um produto de uma grande corporação e parte de um sistema cujo maior propósito é gerar lucro. Mas isso não quer dizer que seja impossível tirar algo proveitoso da situação. Temos não apenas performances destacáveis de Margot Robbie e America Ferrera, mas também um conjunto de reflexões sobre feminismo, patriarcado e autoconhecimento. Tudo isso de forma bem ilustrada e entregue de bandeja para um público monumental.

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