O filme “A Orfã 2 – A Origem” chega nesta sexta-feira (19) aos cinemas americanos causando furor. A trama, apresentada em 2009 com a produção “A Órfã”, gira em torno da personagem Esther, interpretada pela atriz Isabelle Fuhrman, uma menina russa de 9 anos que vive em um orfanato e é adotada por um casal arrasado após sofrerem um aborto.
O que eles não sabem é que a pequena e encantadora Esther, na verdade, é Leena Klammer, uma mulher de 33 anos acometida pelo hipopituitarismo, um distúrbio hormonal raro que atrapalha o crescimento físico e a faz ter aparência infantil. Quando estranhos e macabros acontecimentos começam a assustar o lar de Kate (Vera Farmiga) e John Coleman (Peter Sarsgaard), a narrativa assustadora se desenrola.
O filme fez sucesso pela reviravolta maluca e aparentemente inimaginável, com Esther se revelando uma mulher adulta. Mas, e se eu disser que a história que inspirou o filme é, na verdade, mais surreal que a apresentada no longa de 2009? Estou falando do caso Barbora Skrlová.

Antes, precisamos introduzir duas personagens essenciais para a história e que não aparecem no filme: as irmãs Klara e Katerina Mauerova, nascidas em Kurin, na República Tcheca, em 1975.
Klara, a mais velha, desde criança nutria uma obsessão pelo universo místico e acreditava ter sido escolhida para viver uma missão ordenada por Deus.
Alguns especialistas defendiam que ela sofria da Síndrome de Mártir, um distúrbio que leva as pessoas a acreditarem ser predestinadas a grandes realizações em nome de sua fé.
A mais nova, Katerina, tiinha a mesma mentalidade. No colégio, os orientadores chegaram a alertar os pais para a possibilidade das meninas sofrerem distúrbios psicológicos, mas a mãe nunca ligou e mudava as meninas de escola assim que elas começavam a chamar atenção com seus discursos excêntricos.

Aos 20 anos, Klara entrou para a universidade, mesmo nunca se libertando das fixações pseudo-religiosas, e deu início a um romance. Dentro do casamento, ela deu à luz dois meninos chamados Ondrej e Jakub.
Devido ao comportamento violento de Klara, o casamento não durou e, após a separação, ela ficou sozinha com as crianças. Foi quando ela teve a ideia de convidar a irmã para ir morar com a família.
As irmãs, então, conheceram Barbora Skrlová, de 33 anos, que estudava na mesma universidade de Katerina. O que a diferenciava das demais alunas é que ela tinha uma doença rara, o hipopituitarismo, que a fazia parecer bem mais jovem.
Barbora ou seus primeiros anos frequentando consultas médicas devido a sua condição física. Cansada da rotina e com um comportamento cada vez mais violento, ela decide fugir de casa aos 18 anos.
Skrlová constantemente se aproveitava de sua aparência para se ar por menor de idade, fugindo de situações conturbadas e ações judiciais. Ela até chegou a ser adotada por um casal, que acreditava que ela era uma menina de 12 anos.

De personalidade violenta e obsessiva, Barbora começou a fazer tratamento psiquiátrico. Mais tarde, também foi internada, mas conseguiu fugir.
A mulher conhecia as fantasias das irmãs e, certa vez, alegou ter tido um sonho ou premonição, manipulando Klara e Katerina para que a aceitassem como uma espécie de guia espiritual.
A presença de Barbora Skrlová na vida de Klara e Katerina mudou tudo. Suas personalidades já afastadas da realidade foram completamente revividas pela nova companhia.
Segundo depoimentos do psiquiatra Zdenek Basný, que examinou as mudanças na identidade da mulher, aspectos peculiares o levaram a concluir que Barbora também sofria de transtorno mental.
“Toda a história de Barbora Skrlova está rodeada por um enigma em que ela participa de maneira estranha. Não existe uma explicação clara, mas minha hipótese é a de que se trata de uma distorção psíquica grave com perturbação de identidade”, diz o médico.
Sob a influência de Barbora, as irmãs concordaram em fazer parte de um culto chamado “Movimento Graal”, baseado nas escrituras criadas entre 1923 e 1988 pelo alemão Oskar Ernst Bernhardt .

Todas as ações e atividades duvidosas feitas pelo culto foram baseadas na mensagem do Santo Graal, que afirmava que “o homem pode prosperar fazendo coisas boas na terra”.
Uma das ordens era a de que os seguidores da seita não fossem julgados por “tabus sociais” como incesto, canibalismo, antropofagia e assassinato.
Todos recebiam ordens de um líder desconhecido que se chamava “O Doutor”. Ele se comunicava apenas por meio de mensagens de texto, além de apoiar a escravidão, o abuso infantil e a promiscuidade sexual.
Relato digno de filme de terror
Graças à influência de Barbora, Klara raspou o cabelo e as sobrancelhas. ou a se vestir com roupas velhas e parou de tomar banho. Sua irmã Katerina apoiou as ações das duas. Além disso, Barbora apresentava uma dualidade: às vezes agia como uma mulher adulta, por outra tinha comportamentos infantis.

Ela nutria pensamentos obsessivos por Klara, até que começou a ter inveja do relacionamento dela com os próprios filhos.
Movida pelo cíume, Barbora começou a encher a cabeça de Klara com acusações contra as crianças, dizendo que o comportamento delas não era normal e que deveriam ser punidas por isso. Ela os acusava de serem travessos, quebrar objetos e de mal comportamento.
Depois de tanta insistência, Klara concordou em punir os meninos. Ela pediu conselhos à Barbora, que sugeriu construir uma jaula de ferro para aprisionar as crianças.
*Alerta de conteúdo sensível*
A gaiola foi encomendada e colocada no sótão da casa. Os meninos ficaram presos por mais de um ano, recebendo alimentos através das barras e sujeitos às barbáries das mulheres.
Com as instruções de Barbora, o trio começou a tortura: eles eram queimados com cigarros nos braços e nas pernas, amarrados e amordaçados quando recebiam visitas. Frequentemente eram espancados e recebiam choques elétricos através das barras de ferro da jaula.

As mulheres os açoitavam com chicotes e os afogavam, enquanto os mantinham nus o tempo todo e jogavam água fria sobre eles, mesmo nos invernos mais rigorosos. Essa era a única coisa próxima à higiene que os meninos teriam.
Eles dormiam no chão, sem cobertas, em condições totalmente insalubres e junto a resquícios de urina e excrementos. Às vezes, as mulheres lhes davam algo para comer. Se choravam, eram atingidos e eletrocutados pelas barras.
Tudo ainda piora
Certa vez, Barbora teve a ideia de começarem a alimentar os meninos – o que não parece tão ruim, levando em consideração que eles estavam recebendo comida -, porém, tempo depois, quando ganharam algum peso, o trio decidiu comer a carne das crianças.
Klara, com a faca e ajuda das outras duas, arrancava pedaços da perna de Ondrej, que gritava de dor e agonia. A cada mês, o sangrento ritual acontecia: as três subiam, Klara arrancava pedaços de um dos meninos e as três devoravam ali mesmo.
Até que um dia, por descuido, eles quase conseguiram escapar da jaula. Foi aí que Barbora teve a ideia de comprar uma câmera para que pudessem supervisionar as crianças no sótão.
O início do fim
Tempo depois, um homem se mudou com a família para uma casa ao lado a das três mulheres. Para monitorar o filho pequeno, ele instalou uma sistema de vigilância igual a das mulheres.
Um dia, ao checar as imagem de sua câmera após constatar um mau funcionamento do equipamento, ao invés de ver as imagens do quarto do filho, ele se deparou com as cruéis cenas de tortura das mulheres para com as crianças. O homem então percebeu que o sinal que estava interceptando vinha da casa de suas vizinhas.

Ele gravou um vídeo com as imagens e denunciou à polícia. Em 10 de maio de 2007, agentes invadiram a casa. Klara e Katerina ficaram em frente à porta que dava para o sótão, tentando impedir que os agentes entrassem.
Os policiais as retiraram, quebraram as fechaduras que davam o ao sótão e entraram. Ali, eles se chocaram com o que viram. Um deles, inclusive, descreveu a cena como de filme de terror.
Ele descreveu o cheiro de sangue, urina e excremento como inável. O chão era pegajoso e as paredes estavam cobertas de sangue. Um dos meninos estava desmaiado e o outro, em estado de choque. Ambos apresentavam ferimentos graves.

Parada em frente a jaula havia uma garota segurando um ursinho de pelúcia. Era Barbora. Ao ver os agentes, ela correu direto para seus braços e contou que seu nome era Anika, tinha 12 anos e havia sido sequestrada pelas duas irmãs.
Ali, Barbora percebeu a oportunidade perfeita para escapar. Após perceber o desaparecimento da “menina”, a polícia tcheca descobriu que ela não era uma criança e que tinha participação nas atrocidades cometidas com os meninos.
Julgamento e prisão
O caso foi um escândalo na República Tcheca e ganhou destaque na imprensa do mundo inteiro. As crianças resgatadas foram hospitalizadas, mas uma delas não resistiu em decorrência dos maus-tratos. O outro, que ou a morar com os avós, declarou em juízo contra sua mãe e sua tia, narrando os horrores vividos ao longo de um ano.

As irmãs responsabilizaram Barbora, mas quando a polícia emitiu uma ordem de prisão à mulher, não a localizaram. Isso porque ela havia fugido para a Noruega, onde assumiu outra identidade falsa: um menino de 13 anos chamado Adam.
Um casal norueguês a adotou, acreditando que ela era uma criança de rua. Ela chegou a frequentar a escola primária e a polícia levou quase um ano para encontrá-la.

Barbora foi extraditada para a República Tcheca, onde foi julgada junto com Klara e Katerina.
Klara declarou em tribunal: “Ocorreram coisas terríveis e só agora me dou conta disso. Não consigo entender como deixei que acontecessem. Acredito que me deixei levar pelas palavras de uma pessoa que me convenceu a fazer o mal. Eu fui fraca e não consegui resistir… Tudo o que peço é perdão pelos meus atos”.
Psiquiatras se dividiram ao diagnosticar as irmãs, mas, no fim, concluíram que as duas sofriam de um quadro de Transtorno da Personalidade Esquizóide grave. Em 2009, Klara Mauerova foi condenada a nove anos de cárcere em uma instituição psiquiátrica e sua irmã recebeu como pena 10 anos em outro hospital. Barbora recebeu a sentença de apenas cinco anos de prisão.

Apesar de as mulheres alegarem que estavam sendo vítimas de uma lavagem cerebral de Skrlová, foram vistas como as maiores culpadas do caso. Em 2011, a criminosa que inspirou o filme recorreu na Justiça e conseguiu a liberdade. Hoje o seu paradeiro é desconhecido.
Lançamento de “A Órfã 2: A origem”
O filme “A Órfã” deu o que falar quando foi lançado em 2009. Agora, a continuação promete mostrar a primeira família adotiva da protagonistas e como a história começou.
Confira a sinopse:
“Esther é uma mulher de 33 anos chamada Leena Klammer, que tem hipopituitarismo. Ela ou a maior parte de sua vida se ando por uma garotinha.
Na sequência, Lena Klammer orquestra uma fuga brilhante de uma unidade psiquiátrica russa e viaja para os Estados Unidos representando a filha desaparecida de uma família rica. Mas a nova vida de Lena como Esther vem com um problema inesperado e a coloca contra uma mãe que protegerá sua família a qualquer custo.”