Água, materiais de higiene e limpeza, ração, alimentos e roupas de cama, em especial cobertores. Estes são os itens essenciais que os gaúchos precisam agora. Café, óleo, açúcar e sal são os alimentos prioritários.
Em Florianópolis, o Centro de Convenções Luiz Henrique da Silveira, em Canasvieiras, no Norte da Ilha, é um ponto de doação, triagem, separação e de onde saem os donativos.

Neste sábado, um comboio com 93 toneladas sai da Capital rumo ao Rio Grande. Caminhões e caminhões carregando doações, também um pouco de esperança e um muito de solidariedade.
Em média, 300 voluntários, com apoio dos militares do 63º Batalhão de Infantaria do Exército, atuam no local. Muitos gaúchos, mas também manezinhos e gente de toda parte do país. No momento, o Brasil inteiro é do Rio Grande.
Um dos que vão receber ajuda é o empresário José Milton Santos de Araújo, 70 anos, do bairro Lami, de Porto Alegre. Ele e a família perderam tudo. A água subiu na quinta-feira (2) e alcançou o telhado da casa. Milton está na sogra, com a mulher e os cachorros. Embora agradeça pela vida, seu humor oscila.

“Tem horas que dá vontade de chorar, em outras a gente se alegra. Sou um cara ativo e agora não posso fazer nada, isso é ruim. Perdi o maquinário, carro”, lamenta.

É a terceira enchente que atinge a casa de Milton em oito anos. Como se não bastasse, teve bens furtados após sair. Para a família, é o fim da linha no endereço atual. “Vamos tentar comprar um apartamento, o mais barato possível, parcelar e sair da beira do rio. Chega!”, diz.
Empatia diante da situação catastrófica 2m3f2m
Adriane Gasperin, 52, é terapeuta. Gaúcha de Caxias do Sul, vive há dois anos em Florianópolis e coordena o espaço no Centro de Convenções, com toneladas de doações.
Ali as pessoas levam doações e também chega dos demais pontos espalhados pela cidade. Os donativos são separados por categoria e colocados nos caminhões.
“Juntei um volume tão expressivo, que não tinha espaço no carro para enviar. Descobri a Fundação Somar e me tornei voluntária. Éramos três pessoas na sexta-feira (3). Sábado (4) trabalhamos em dez. Domingo (5), já éramos 60.
Na semana ada, ei a coordenar uma equipe com, em média, 300 pessoas”, conta Adriane, que gostaria de estar no Estado natal.
“Se não formos humanos num momento tão difícil, de nada adianta nossa existência”, afirma Adriane. Segundo ela, a energia no local é motivadora e as notícias que chegam do Sul também mobilizam. “Independentemente do cansaço, vamos ficar aqui enquanto houver necessidade”, declara.
O aposentado Moacir Gasperin, 52, marido de Adriane, também é de Caxias do Sul, onde sete pessoas morreram em um deslizamento. Na central de donativos, ele coordena a divisão de água, uma das mais importantes.
“Estamos ajudando quem não sabe nem se terá a casa de volta quando a água baixar”, ressalta. Moacir também falou sobre a importância da água e dos alimentos.
“Água é vida. Junto do alimento é o que mantém a pessoa viva. Aqui, não medimos esforços. Homens e mulheres carregando coisas pesadas. Somos todos iguais”, completa.
Voluntária em Florianópolis se preocupa com o tio que perdeu tudo
Bruna Araújo Paulino da Silva, 25, é sobrinha de Milton e voluntária em Florianópolis. Paulista, cresceu no Rio Grande, em Cidreira, e tem parentes em Porto Alegre, a exemplo do tio.
“Agora é o momento de ajudar. Me coloco no lugar da minha família. Poderia ser minha mãe, meu irmão, meu sobrinho”, comenta.
A DJ Lucimara Vargas, 51, de Porto Alegre, mora há sete anos em Florianópolis e todos seus parentes estão lá. “No início, doei e mandei Pix, mas precisava me doar mais.
Procurei a Somar e estou ajudando. Me choquei demais vendo crianças longe dos pais. Não podia ficar em casa só chorando. Estar aqui me faz um bem enorme”, diz.
A dona de casa Joicilene de Castro, 30, é de Manaus (AM). Casada com um manezinho, mora em Canasvieiras. Ela coordena as doações para os animais e destaca como prioridade remédios de vermes, ração e cobertores para cachorro.
“Esse cantinho quase não tinha ninguém e me responsabilizei. A gente faz triagem, vê data de validade, separa tudo. Temos que nos colocar no lugar do próximo”, ressalta.
Também dona de casa, a manezinha Josiane Vieira, 37, observa que o ser humano tem hábito de reclamar de tudo na vida, mas basta olhar para o lado e ver que muita gente precisa de ajuda.
“A nossa casa pode esperar. Eles não podem. Estamos aqui porque tem gente precisando”, frisa uma das tantas manezinhas que, neste momento, se dedica aos irmãos gaúchos.