O rompimento da estação de tratamento da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, completou 6 meses neste domingo (25). Os moradores e entidades voltadas para a preservação organizaram uma exposição com atividades para marcar a data.

A dona de casa Marli Lisboa lembrou que o desastre ambiental causou desespero na sua família: “O meu neto já começou a chorar desesperado, todo mundo desesperado. O carro indo embora. Meu genro achou que eu fosse sofrer do coração. Os vizinhos todos saindo com água pelo pescoço, em cima do telhado, desesperados também. Foi muito duro. A gente não tinha para onde correr”.
Apesar do trauma, os moradores da região se uniram para que o dia 25 de janeiro de 2021 não seja esquecido. Para marcar os seis meses do desastre, uma mostra artística foi organizada.
“O rompimento da barragem transformou completamente nossas vidas. Além de perdas materiais, os moradores tiveram muitas perdas da memória, perdas de objetos significativos, perdas de projetos de vida, de esperança. Então, a gente começou a trabalhar com essas memórias para justamente reestruturar, para a gente poder reinventar as nossas próprias existências”, contou a artista visual Andreia Vieira Zanella.
São pinturas, bordados, aquarelas, fotografias estampadas em tecidos e criações com o rescaldo formado por roupas e objetos que ficaram pelo caminho. As obras representam indignação, tristeza, mas também esperança. Os moradores e defensores do ecossistema local criaram uma luta, uma mobilização coletiva pela reparação das perdas materiais, ambientais e culturais da região.

Na recuperação ambiental, o pesquisador e oceanógrafo Paulo Horta tem monitorado a qualidade da água da Lagoa da Conceição. Ele diz que é preciso adotar um novo modelo de tratamento de esgoto.
“Esse evento de colapso da Lagoa da Conceição deixa claro que nós devemos aproveitar esse período, esse aniversário de 6 meses, para refletirmos sobre o saneamento básico que nós precisamos. Nós precisamos rever as nossas estações de tratamento de esgoto e implementar urgentemente o tratamento terciário em todas elas”, defendeu Horta.
A superintendente da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis), Beatriz Campos Kowalsky, esteve no evento e visitou a região onde ocorreu o rompimento. O foco tem sido a fiscalização para que o desastre não se repita e a qualificação do sistema de tratamento de esgoto.
“Nós vimos, acompanhando de forma firme, enérgica e altamente habilitada, todo o trabalho da Casan no sistema de esgotamento sanitário da Lagoa da Conceição. Nós estamos analisando as condições para renovação da licença ambiental de operação e isso só se dará quando nós tivermos confiança e segurança nas medidas adotadas pela Casan, para que nunca mais ocorra um desastre como o de janeiro”, disse a superintendente.
A Casan diz que está prestando o atendimento aos atingidos. “Nas ações que têm sido desenvolvidas ao longo desses seis meses na região, através do nosso plano de recuperação de áreas degradadas, que vão garantir a melhoria da qualidade do efluente, que é muito bom em relação a matéria orgânica, mas agora vai ganhar uma nova etapa. Essa nova etapa vai fazer a remoção principalmente do fósforo e também a conversão do nitrogênio lá na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto). Então, a gente vai ter uma ETE com efluente melhor ainda. Essa melhora do efluente também se propõe a melhorar ainda mais a condição de infiltração dele”, informou o engenheiro químico da companhia Alexandre Trevisan.
Integrantes do movimento dos atingidos por barragens também participaram da exposição. Pelo menos 75% dos moradores já receberam a indenização pelos danos materiais. Agora, o foco é cuidar dos danos morais. Eles vão fazer isso de forma coletiva.
Segundo o advogado popular Rodrigo Timm, eles estão “estudando jurisprudências, decisões de casos similares, para que possamos construir critérios e parâmetros justos de danos morais a serem aplicados aos atingidos aqui da Lagoa. Sabendo que aqui envolveu risco de morte, perdas de animais domésticos, destruição de objetos de valor emocional que são insubstituíveis, a perda dos laços comunitários. Para que os moradores possam enfim começar a reconstruir as suas vidas”.
Confira mais detalhes na reportagem do Balanço Geral Florianópolis!