Criciumenses superam barreiras e hoje são vozes da representatividade 6e5v5d

Conheça a história do gamer tetraplégico que venceu acidente e hoje faz sucesso na internet e da psicóloga que precisou enfrentar o preconceito para se formar

Diego Mateus ‘respirava’ esporte. Ele jogava todos os dias na categoria de base de um time profissional no Sul do Estado e tinha um futuro promissor no futebol. Era um talento a ser lapidado, mas um acidente em 2007 mudou sua vida completamente e apagou boa parte dos seus planos.

Diego venceu desafios e se hoje faz sucesso como gamer – Foto: Divulgação/NDDiego venceu desafios e se hoje faz sucesso como gamer – Foto: Divulgação/ND

Tudo aconteceu quando Diego tinha 18 anos e foi ‘testar’ a moto nova do amigo, que era um dos seus sonhos de consumo. “Embarquei na garupa para ver como era e estava distraído conversando com os colegas, quando ele inventou de dar uma arrancada. Como eu não esperava por aquilo, cai para trás e acordei só 15 dias depois. O engraçado é que eu virava mortal, treinava capoeira, mas não deu tempo de fazer nada na hora”, conta.

Após o acidente, ele ficou por seis meses no hospital, sendo que metade desse tempo permaneceu internado na UTI (unidade de terapia intensiva). A estadia no local não foi fácil, nem para ele nem para os familiares. Em meio a tudo isso, também surgiram problemas financeiros.

“Meus pais tinham que viajar 1h30 para me visitar, porque na época morávamos em São Ludgero. Com isso, fomos perdendo lavoura, casa própria. Meus pais foram fazendo várias dívidas. Foi bem difícil”, lembra Diego.

Mesmo já em casa, os desafios seguiram os acompanhando. “Eu necessitava quase sempre de duas pessoas direto para me colocar na cadeira, dar banho. Então, começamos a perder tudo. Vendemos a nossa casa e amos a morar de aluguel, ganhando um salário mínimo de aposentadoria por invalidez”, revela.

Ele, então, buscou uma forma de colaborar com a família. Criou um portal de notícias e recebeu apoio de diversos patrocinadores. Também ou a dar palestras motivacionais em universidades.

Porém, veio a pandemia e, como é do grupo de risco, Diego ou a não poder mais sair de casa. A ideia, portanto, foi se dedicar à carreira de gamer e encontrar um espaço para inspirar outras pessoas com a sua história.

Ele já jogava “Tibia” há um bom tempo, desde que ganhou um mouse adaptado, durante o tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, mas decidiu se profissionalizar e também sair do anonimato com várias lives por semana.

Além de jogar, Diego também faz lives dando dicas e inspirando outras pessoas – Foto: Divulgação/NDAlém de jogar, Diego também faz lives dando dicas e inspirando outras pessoas – Foto: Divulgação/ND

“Eu jogava há 10 anos em off e conheci muitas pessoas nesse tempo. Elas não sabiam o jeito que eu jogava, mas era de igual para igual sem limitações. Acho que repercuti muito exatamente por isso. Não por eu ser stream treta e sim por eu – mesmo com as minhas limitações – jogar de igual para igual”, lembra.

Depois de revelar a sua identidade, Diego deu a volta por cima. No jogo, fez questão de mostrar todo o seu talento e também ou a fazer lives duas vezes por dia dando dicas de games e falando sobre a sua história de superação. Nessa jornada, também ganhou apoio de jogadores consagrados, além de patrocínios importantes.

Aquele salário mínimo se transformou. “Hoje conseguimos pagar aluguel, ter uma qualidade de vida depois de muitos esforços. Eu sempre encarei o meu acidente muito bem, desde o início. Eu não fiquei para baixo. Quando acordei no hospital, já queria uma segunda chance de vida”, afirma.

Cléo foge das estáticas e se torna inspiração para outras mulheres 3m4q6r

Natural de Criciúma, Cléo Martins também precisou enfrentar um leão por dia para chegar aonde queria. A jornada foi dura, mas ela conseguiu e hoje se tornou uma inspiração para muitas mulheres trans e travestis.

Além de ser uma militante em favor aos direitos da comunidade LGBTQIA+, Cléo é psicóloga, pós-graduada em psicologia clínica, e atende no município, assim como em outras regiões do país, de maneira on-line.

Cléo está próxima de concluir mais um curso superior – Foto: Divulgação/NDCléo está próxima de concluir mais um curso superior – Foto: Divulgação/ND

Atualmente, também cursa Letras/Inglês na Unesc, onde conquistou uma bolsa integral. “Estou indo para outra profissão que eu acho linda. A psicologia foi amor à primeira vista. Foi o casamento perfeito comigo, com a minha vivência. Agora eu estou também atuando em outra esfera, que eu acho linda: ser professora”, comenta Cléo.

Ela também já foi conselheira tutelar em uma cidade vizinha, Siderópolis, e se transformou em uma voz da representatividade em Criciúma. “Dizem que eu acabei me tornando uma referência. Fico feliz, por um lado, em poder contribuir para uma sociedade mais justa, mas também acho isso um pouco problemático porque poucas travestis e transexuais estão dentro de uma universidade ou inseridas no mercado de trabalho”, diz.

Segundo Cléo, é literalmente nadar contra a correnteza. “Muitas de nós não temos oportunidade ou quando conseguimos ar não conseguimos permanecer. É uma realidade muito triste, ao mesmo tempo fico feliz por ser uma representatividade, mas eu sempre problematizo isso, porque precisamos dar mais oportunidade, espaço e respeitando as pessoas em suas singularidades”, declara.

Uma pesquisa, promovida pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), mostrou, por exemplo, essa realidade violenta e desigual vivida pela comunidade. Conforme o documento, foram mapeados pelo menos 175 assassinatos de pessoas trans, todas travestis e mulheres transexuais no Brasil.

“Busco sempre contribuir com a minha vivência, com o meu conhecimento para que a gente também possa mudar um pouco essa realidade imposta. Essa realidade que é excludente, preconceituosa e discriminatória. Estamos fazendo esse trabalho acreditando que virão dias melhores”, afirma.

Sobreviver 3w533c

Além da violência, a população trans enfrenta dificuldades para ar ao mercado de trabalho e aos estudos e, na maioria das vezes, vive a discriminação de baixo do próprio teto – daqueles que mais amam. A realidade de Cléo acabou fugindo dessas estatísticas e sendo uma exceção.

Na sua jornada, ela contou com o total apoio da família. “Iniciei a minha transição aos 15 anos. Foi uma experiência muito difícil no começo, mas com o tempo foi se tornando gratificante e muito enriquecedora”, lembra.

“Na época, voltei aos estudos e já tive algumas barreiras para estudar e para inserção no mercado de trabalho, mas mesmo assim não desisti, continuei metendo a cara. Um dos fatores que me ajudou muito a enfrentar tudo isso foi a minha família. É por isso que eu sempre digo que a família é um fator muito importante na construção de qualquer pessoa”, complementa.

Segundo ela, o apoio daqueles que amava foi fundamental para não desistir e tornar quem se tornou. “A minha família, por mais que tivesse aprendendo junto comigo, foi muito importante nesse processo, porque se eu não tivesse eles, não sei se eu teria conseguido enfrentar todas essas dificuldades sozinha”, revela.

Recentemente, Cléo enfrentou também a dor de se despedir de pessoas importantes. “Tive duas perdas bem grandes. Uma em 2016 com a morte do irmão e em 2020 a do meu pai. Foram bem difíceis e me abalaram bastante. Estou aprendendo ainda a lidar com isso. Iniciei os estudos agora, em uma boa hora para me ajudar a transcender esse luto que eu estava vivenciando”, comenta.

Agora, o plano da psicóloga é conquistar mais um diploma e continuar representando e inspirando outras pessoas. “Ainda este ano também quero voltar com um podcast que fazia discutindo sobre questões étnico-raciais e também com o grupo de apoio à comunidade LGBTQIA+”, garante.

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