São José vai completar 272 anos no próximo sábado (19). A quarta cidade mais antiga de Santa Catarina tem muita história e a equipe do Balanço Geral Florianópolis foi conhecer um pouco mais e entender como e porque os colonizadores desembarcaram por lá.

Nas malas, os migrantes traziam esperança e a coragem de sair de casa para desbravar um novo continente. São José nasceu depois da chegada de um grupo formado por 182 casais portugueses. Eles desembarcaram onde atualmente é o centro histórico da cidade e fundaram São José da Terra Firme.
Em cinco anos o lugar se tornou uma freguesia, uma espécie de vila autônoma, que estava cumprindo um papel importante para a coroa portuguesa.
“Na verdade, essa região do Sul do Brasil era uma região muito disputada entre Portugal e Espanha. Então, era preciso que efetivamente se ocue essas terras. A partir de 1750, vão chegar levas de famílias dos Açores para ocupar efetivamente essa região”, explicou Rafael Barcelos Martins, da Fundação de Cultura de São José.
Martins destacou que “a história oficial de São José começa em 1750, mas a gente tem que lembrar também que existia uma população indígena que habitava todo o litoral de Santa Catarina, que eram os índios guaranis, apelidados pelos europeus de carijós. Com o contato com o homem branco, eles vão indo cada vez mais pro interior, ao ponto hoje de São José não ter comunidades indígenas”.
Quase 80 anos depois, outro grupo decidiu tentar a vida nestas terras. Em 1829, os alemães fundaram a primeira colônia germânica em Santa Catarina. Já no Brasil Imperial, tamanha era a importância do povoado, que em 1845, uma visita especial desembarcou por aqui.
Segundo Martins, “São José vai receber a vinda da família real portuguesa, Dom Pedro 2º com sua esposa Teresa Cristina, e eles vêm com toda a comitiva. Então, são vários soldados e políticos que acompanham essa viagem. Eles vão ficar em Nossa Senhora do Desterro, têm uma agem curta aqui por São José porque eles estão indo se banhar em Termas do Cubatão, que hoje se chama Caldas da Imperatriz”.

Na visita, o imperador fez uma doação em dinheiro. Com o valor foi construída a Igreja Matriz. Além disso, presenteou a comunidade com uma espada. A lembrança está em exposição na sede do museu municipal, a construção mais antiga da cidade.
Na época imperial, o tamanho do território de São José chamava a atenção. Eram 10 mil quilômetros quadrados que ocupavam áreas onde agora ficam cidades como Garopaba, Urubici e Angelina.
“A área territorial de São José ia desde os Campos de Lages até a região do Estreito, a parte continental, que se chamava na época de João Pessoa. Do ponto de vista econômico, ele era um entreposto comercial muito importante porque ele escoava as mercadorias que vinha da serra, de Lages, até a Ilha de Santa Catarina”, contou o representante da Fundação de Cultura de São José. A última localidade a ser emancipada da, até então, gigante área de São José, foi São Pedro de Alcântara, em 1995. O advogado Roberto Stähelin participou ativamente do processo de divisão das terras.
“Foi um sentimento que foi surgindo na comunidade, tínhamos algumas lideranças. Fez com que a comunidade se unisse em torno de uma comissão e essa comissão fez um pleito, protocolou na Assembleia Legislativa e foi aprovado. Inicialmente, com alguma resistência do então prefeito de São José, mas depois da emancipação e com a instalação do município houve uma transição muito tranquila”, lembrou Stähelin.
Independentemente do território atual, é inegável a importância histórica de São José para Santa Catarina. A valorização da presença portuguesa na colonização ganhou um monumento em homenagem aos açorianos. Imponente, está na praça central há 22 anos.
O artista plástico Plínio Westphal Verani é autor da obra e explicou os significados da peça: “Ela é em formato delta. Remete a uma proa de embarcação. São nove personagens,que remetem às nove ilhas de Açores, do arquipélago. Tem uma décima, que é a criança tocando a mãe e essa figura de ponta, que remete às colônias ultramarinas açorianas pelo mundo. O eixo da família, o eixo da religiosidade e dos fazeres, o pescador, tem a rendeira, tem o agricultor (que é o único que está ajoelhado, em reverência à terra) e o oleiro.”
É também no centro histórico que estão outros pontos importantes para o município. Como o trapiche com pinturas feitas por Verani no piso. Também tem o Teatro Adolpho Mello, a casa de espetáculos mais antiga de Santa Catarina e a terceira fundada do Brasil.
De acordo com a diretora do Theatro Adolpho Mello, Érica Veiga, “nesses 166 anos de vida que ele tem, ele já foi palco de festas de Carnaval, ele já quase foi trocado por dois caminhões, o teatro foi cinema por muito tempo. Eu até me emociono quando eu falo do teatro. Pra mim, é um espaço mágico e sagrado, cultural e de uma importância ímpar pra cidade de São José e que todos nós temos a obrigação de cuidar”.

O professor de teatro Neriton Martins falou sobre a importância do teatro para as próximas gerações. “As crianças vêm para cá aprender as técnicas do teatro, desenvolver intelectualmente, porque o teatro traz muitos benefícios. Quando você pratica o teatro, além de várias coisas que acontecem, também tem a empatia e isso faz com que as relações pessoais também melhorem, porque você vê o outro de uma outra maneira”, afirmou.
E a riqueza cultural não fica apenas nos palcos e em monumentos. São José é a capital brasileira da louça de barro, outra herança açoriana preservada até hoje. Na cidade está a única escola de oleiros em funcionamento da América Latina.
Preservar o ado com atenção e olhar pro futuro com dedicação. O desejo de quem vive intensamente a cidade, é por uma São José cada vez melhor para todos.
Confira mais informações na reportagem do Balanço Geral Florianópolis!