‘Cidade’ dos cupins tem o tamanho da Grã-Bretanha, 4 mil anos e pode ser vista do espaço 1239x

São cerca de 200 milhões de montes de terra espalhados por uma área de 230 mil quilômetros quadrados

cidade gigante de cupinsCada monte na cidade gigante de cupins tem em média 2,5 metros de altura por 9 de largura – Foto: Reprodução/ND

Nas paisagens secas do sertão nordestino, uma rede gigantesca de cupinzeiros marca o chão com uma precisão quase geométrica. Eles surgem como pequenas montanhas de terra, espaçadas em intervalos regulares e estendendo-se por milhares de quilômetros.

Durante anos, aram despercebidos, até que imagens de satélite revelaram seu tamanho.

A descoberta foi descrita como uma “maravilha biológica” pelos autores do estudo, publicado na revista Current Biology, e a compararam com civilizações antigas, como a dos Maias, com a diferença de que a população que a construiu ainda habita o local.

Os detalhes da cidade gigante de cupins 4d4l5r

São cerca de 200 milhões de montes de terra espalhados por uma área de 230 mil quilômetros quadrados, equivalente ao tamanho da Grã-Bretanha.

Tudo isso construído por cupins do tipo Syntermes dirus, que não têm mais que o tamanho de uma unha.

Juntos, esses insetos moveram um volume de terra equivalente a 4.000 Pirâmides de Gizé para erguerem a “estrutura desértica”, como noticiou a imprensa internacional.

cidade gigante de cupinsCidade gigante de cupins marcam o solo com uma precisão quase geométrica – Foto: Reprodução/ND

Cada monte tem em média 2,5 metros de altura por 9 de largura, feito com a argila que os cupins trazem de túneis subterrâneos enquanto buscam folhas secas para comer.

Estruturas milenares da cidade gigante de cupins são organizadas 674jx

Os montes, curiosamente, não são ninhos. Não guardam ovos nem rainhas. São, na verdade, depósitos de resíduos escavados — os “lixões” de um sistema subterrâneo extremamente eficiente.

Essas estruturas vêm sendo erguidas há milênios. Cientistas conseguiram datar os montes usando grãos de solo antigos e descobriram que os mais velhos têm cerca de 3.820 anos.

Outros, “mais jovens”, surgiram há 690 anos. Os pesquisadores acreditam que feromônios e outras pistas químicas mantêm a organização dos túneis em ordem ao longo do tempo.

cidade gigante de cupinsOs grãos de solo mais antigos na cidade gigante de cupins têm cerca de 3.820 anos – Foto: Reprodução/ND

O espaçamento entre os cupinzeiros é tão preciso que forma um padrão chamado “superdisperso”: a distância média entre um monte e outro é de cerca de 20 metros.

Pesquisadores testaram se isso era fruto de disputas territoriais entre colônias, mas não encontraram sinais de briga entre vizinhos próximos.

A explicação mais provável é a pura eficiência energética: não faz sentido cavar duas vezes no mesmo lugar.

Tecnologia permitiu avanço da ciência 1h2r6x

A descoberta desse “mapa de barro” só ganhou forma quando cientistas da Universidade de Salford, no Reino Unido, e da Universidade Estadual de Feira de Santana, da Bahia, começaram a sobrevoar a região com drones e cruzar as imagens com dados de campo.

Como não era possível visitar todos os montes, os pesquisadores usaram um modelo digital para prever onde mais estruturas estariam escondidas.

A maior parte dos cupinzeiros fica em solos pobres e áridos, sem uso agrícola. Por isso, a rede permaneceu quase intocada pela ação humana, mesmo com séculos de existência.

cidade gigante de cupinsOs insetos moveram um volume de terra equivalente a 4.000 Pirâmides de Gizé para construir a cidade gigante de cupins – Foto: Reprodução/ND

À noite, os cupins saem em busca de folhas. Durante o dia, se escondem no frescor do subsolo, onde há um sistema de túneis com canais centrais que se ramificam como raízes.

Tudo para garantir comida sem precisar enfrentar o sol escaldante.

Cupins, os arquitetos da natureza 6o192h

Enquanto muitos enxergam os cupins apenas como pragas, a ciência revela seu papel essencial no equilíbrio dos ecossistemas.

Esses pequenos operários reciclam matéria orgânica, arejam o solo e influenciam o ambiente ao seu redor.

Divididos em castas — operárias, soldados e rainhas —, vivem em colônias organizadas, onde tudo funciona com base em sinais químicos precisos.

Eles são os arquitetos silenciosos da natureza, moldando o mundo com uma mordida de cada vez.

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