Para quem ficou perplexo com o “vômito de baleia” tão cobiçado pelas perfumarias, essa não é a única substância inusitada de origem animal utilizada como fragrância de perfumes pelo mundo.
Mesmo que o uso de ingredientes de origem animal não seja tão comum em perfumes, existem substâncias retiradas das formas mais inimagináveis. Confira a lista que vai da secreção de veado a fezes de castor.

Vale ressaltar, porém, que o famoso âmbar cinza, apesar de ter se popularizado através da mídia internacional pela denominação “vômito de baleia” na verdade é algo mais parecido com fezes.
“O âmbar cinza é produzido apenas pela baleia cachalote e é formado nos intestinos da baleia. Todo mundo entende como vômito de baleia, mas na verdade ele é o ‘cocô’ de baleia”, explica a professora de Química e membro do Quimidex (Laboratório da UFSC), Anelise Regiane, que é especialista em perfumes.
Ela esclarece, ainda, o que faz essa substância ter um cheiro agradável. “Quando a baleia produz, dentro dos intestinos, ele tem cheiro de fezes, mas quando ele sai da baleia e vai pro mar ele a bastante tempo rolando na água salgada sob o efeito do sol, então esse tempo de maturação faz com que ele vá ficando cada vez mais claro, tendo essa tonalidade cinza. As moléculas vão se modificando ao longo do tempo e ao longo desse processo esse cheiro de fezes vai sumindo, e vai aparecendo esse aroma gostoso que é usado na perfumaria fina”.
Como é o cheiro do “vômito de baleia”? 2636l
Para quem ficou com curiosidade de conhecer o aroma do âmbar cinza, será possível em Florianópolis. Anelise Regiane conta que possui uma amostra do aroma sintético no Quimidex, que será disponibilizado ao público.
“Como eu recebi recentemente, ainda não colocamos na exposição. Mas sim, a intenção é que faça parte da experiência olfativa da exposição”.
Ela revela ainda quais são as características da fragrância: “o ambergris tem como descritores do aroma: doce, floral, animálico (indólico), marinho”, ela descreve.
Por sua raridade, é difícil encontrar perfumes à venda que utilizem a substância natural. No Brasil, por exemplo, nenhuma perfumaria utiliza o âmbar cinza.
Outros perfumes de origem esquisita 4r632r
Além da digestão da baleia, o mundo da perfumaria conta com outras fragrâncias bem surpreendentes.
É o caso do perfume Civet, no qual o fixador é retirado de uma substância presente na glândula de um felino chamado gato de algália, animal parecido com um gambá.

Outro exemplo é o Almíscar, que é um perfume obtido a partir de uma substância de forte odor que é secretada por uma glândula do veado almiscareiro, além de alguns outros animais e plantas.

O terceiro exemplo é talvez o mais próximo do “vômito de baleia”: o Castóreo também é uma secreção do Castor – como o nome sugere – que contém fezes e urina.
Ele serve para impermeabilizar a pele do animal. No entanto, os seres humanos o utilizam para dar sabor e perfume a alimentos de baunilha e framboesa. A substância é liberada pela FDA (Food and Drug istration), agência reguladora dos Estados Unidos, para consumo.

O que são os ‘fixadores’ que utilizam essas substâncias? 1v7265
A professora Anelise Regiane explica que o termo “fixador” já é uma controvérsia na perfumaria. “A questão do fixador é uma controvérsia, no mundo da perfumaria a gente diz que não existe um fixador”.
Ela esclarece que se trata do aroma mais “forte” do perfume, o qual é sentido por último pelos usuários.
“Fixadores são moléculas de alta massa molar e portanto são moléculas que se desprendem muito lentamente da solução alcoólica que é o perfume. São aquelas que você vai sentir por último, depois de umas quatro horas de ter aplicado o perfume. São aquelas moléculas que vão ficar mais na pele e que vão demorar a sair. Só que estas moléculas grandes também têm aromas, então ele é utilizado e considerado na formulação. Por isso que a gente não fala mais de fixador e sim de nota de fundo, que é a nota que vai levar mais tempo”.
O fato de substâncias tão inusitadas acabarem sendo utilizadas como perfumes levanta a curiosidade de como foram descobertas.
Anelise Regiane pontua que, no caso do âmbar cinza, “o uso da ‘pedra’ cheirosa é muito antigo. E muito ligado à mágica, porque ela aparecia na praia”.
Segundo ela, por muitos anos as pessoas utilizaram sem fazer ideia de que havia saído de dentro do intestino de uma baleia. “Os estudos de que ela era produzida pela baleia e como isso acontece são recentes”.
Catarinenses suspeitam ter encontrado o “vômito de baleia” 6m5l4g
Um morador de Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, acredita ter encontrado âmbar cinza, conhecido como ‘vômito de baleia’, na praia de Cabeçudas.
O homem, que prefere não se identificar, contou que pratica detectorismo como hobby, que é a prática de encontrar objetos com o auxílio de detectores de metais, e que encontrou o material há alguns meses.
“O mar estava bem agitado, tinha ressaca, e eu estava bem perto das ondas. Do nada o mar jogou a pedra praticamente nos meus pés. Era uma pedra diferente, mais leve, e na hora pensei que poderia ser o vômito de baleia”, disse o rapaz.
O morador de Itajaí chegou a levar a substância para análise do pesquisador da Univali, André Barretos, que acredita ser o âmbar cinza, também chamado de ambergris.
“Ele trouxe esse material aqui no laboratório. Inicialmente, achei que poderia ser mesmo ambergris (que não é um vômito, apesar de todos falarem assim). Eu só conhecia a substância por trabalhos e reportagens, nunca tinha visto ao vivo. É possível que seja, mas precisaria de uma análise por alguém que tivesse mais experiência para ter certeza”, destacou o pesquisador.
O possível sortudo afirmou que não quis prosseguir com as análises por medo de perder a pedra. Ele teve contato com as possibilidades de encontrar o vômito de baleia em Itajaí através de uma reportagem do ND+ sobre as chances de se encontrar a substância no Estado.

Outro candidato a milionário apareceu na praia de Itapirubá, em Imbituba, no Sul do Estado. Odair de Souza, de 46 anos, informou à reportagem que encontrou a substância enquanto caminhava pela praia.
Ele relata que também havia lido as notícias sobre o âmbar cinza e suspeitou quando avistou a substância. “Quando eu vi, já tinha conhecimento do que era, porque já tinha lido sobre o assunto. Então eu peguei [a substância] e trouxe para casa, já sabendo o que era. Só não sabia sobre valores”.
O homem revela que ainda não levou a nenhum estudioso para verificar o que é de fato o objeto, mas tem confiança com base em suas pesquisas.
“Após pesquisar bastante na internet sobre isso, fazer os testes para ver se era real mesmo, eu mesmo cheguei à conclusão de que era, não levei a profissional nenhum. Porque tem todas as semelhanças, então eu concluí”.
Os “ganhadores da loteria” na Tailândia 6x2u1q
O caso mais recente foi da dona de casa Siriporn Niamrin, de 49 anos. Ela encontrou um grande bloco de vômito de baleia na província de Nakhon Si Thammarat, na Tailândia.
“Foi sorte encontrar uma peça tão grande. Espero que me traga dinheiro. Estou mantendo-o seguro em minha casa e pedi ao conselho local uma visita para verificá-lo”, disse Siriporn ao The Sun.

Em 2019, o sortudo da vez foi um catador de lixo, que encontrou o vômito enquanto “garimpava a praia”.

Já no início de 2021, um grupo de pescadores de tainha percebeu uma forma branca no meio das ondas, em direção à praia, enquanto empurrava o barco para a doca. Chalermchai Mahapan encontrou um pedaço de vômito de baleia avaliado em até R$ 1,2 milhão.

“Eu não tinha ideia do que era essa coisa até que perguntei aos aldeões idosos aqui que me informaram sobre o âmbar gris”, disse Mahapan ao Daily Mail.
Uma amostra da pedra foi enviada a um laboratório, que confirmou a composição da matéria. “Sinto-me muito sortudo por tê-lo encontrado”, celebrou o agora milionário Mahapan.